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“Tudo que dá sentido humano não entra no PIB”, afirma Leonardo Boff

por EcoD

Um dos mais conhecidos teólogos do Brasil, Leonardo Boff, 75 anos, é um nome atualmente aclamado em todo o mundo, cuja opinião é ouvida por personalidades como o Papa Francisco e os presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff. Na última semana, o intelectual, escritor e professor esteve em Porto Alegre, onde foi entrevistado pelo portal Sul21. Na ocasião, ele comentou, entre outros temas, a crise ecológica e econômica mundial.

“A Europa está tão enfraquecida e envergonhada que nem mais aprecia a vida. Aquilo que mais escuto em cada palestra que vou na Europa é pessoas me pedindo ‘por favor, me dê esperança’. Quando um povo perde esperança, perde o sentido de viver. Isso acontece porque alcançaram tudo que queriam, dominaram o mundo, exploraram a natureza como quiseram, ganharam um bem-estar que nunca houve na história e agora se dão conta que são infelizes”, afirmou Boff.

Segundo o intelectual, isso acontece porque o ser humano tem outras fomes. “Fome de amar e ser amado, de entender o outro, conviver, respeitar a natureza”, acrescentou.

Para Boff, tudo isso foi colocado à margem. “Só conta o PIB. Mas tudo que dá sentido humano não entra no PIB: o amor, a solidariedade, a poesia, a arte, a mística, os sábios. Isso é aquilo que nos faz humanos e felizes”, ressalta. Na concepção dele, essa perspectiva em que só contam os bens materiais poderá levar a humanidade a uma imensa tragédia.

“Dentro do sistema capitalista, não há salvação. Por duas razões. Primeiro porque nós encostamos nos limites da Terra. É um planeta pequeno, com a maioria dos recursos não renováveis. O sistema tem dificuldade de se auto-reproduzir, porque não tem mais o que explorar. E segundo porque os pobres, que antes da crise que eram 860 milhões, pularam, segundo a FAO, para um bilhão e 200 milhões, aponta.

Crise ecológica

De acordo com Boff, esse sistema não é bom para a humanidade, não é bom para a ecologia e pode levar eventualmente a uma crise ecológica social com consequências inimagináveis, em que milhões de pessoas poderão morrer por falta de acesso à água e alimentação.

“Esse sistema, para minha perversidade total, transformou tudo em mercadoria. De uma sociedade com mercado para uma sociedade de mercado, transformando alimentação em mercadoria. O pobre não tem dinheiro para pagar, então ele passa fome e morre. Essa nova relação com a natureza e o mundo é o que precisamos desenvolver para ter uma relação que não seja destrutiva e possa fazer com que a humanidade sobreviva”, defende o pensador.

Na visão de Boff, é preciso travar uma nova forma de relação com a natureza. “Muitos veem, como o (sociólogo português) Boaventura de Sousa Santos, que na América Latina há um conjunto de valores vividos pelas culturas originárias que podem ajudar a humanidade a sair da crise. Especialmente com a característica central do bem-viver, que significa ter outra relação com a natureza, entender a Terra como mãe, que nos dá tudo que precisamos ou podemos completar com o trabalho.”

Revisitar outras culturas

Ainda segundo o teólogo, temos muito o que aprender com as culturas originárias, porque elas têm respeito com a natureza, não conhecem a acumulação. “São valores já vividos pelas culturas andinas, sempre desprezadas e hoje estudadas por grandes cientistas e sociólogos que percebem que aqui há princípios que podem nos salvar. Em vez de falar de sustentabilidade, respeitar os ritmos da natureza. Em vez de falar de PIB e crescimento, garantir a base físico-química que sustenta a vida. Porque sem isso a vida vai definhando. E em vez de crescimento, redistribuição”, sugere.

Boff conclui ao observar que há tanta riqueza acumulada, que se houvesse 0,1% de taxa sobre os capitais que estão rolando nas bolsas, estão na especulação, daria um fundo de tal ordem que daria para a humanidade matar a fome e garantir habitação. “Porque o capital produtivo é de U$ 60 trilhões, enquanto o especulativo é U$ 600 trilhões. Então é uma economia completamente irracional e inimiga da vida e da natureza. E não tem futuro, caminha para a morte. Ou nos levará todos para a morte, ou eles mesmos se afundarão”.

Matéria do site EcoDesenvolvimento

 

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