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Grupo Falamansa é recebido no Conversa com a Jatobá

por Universo Jatoba

Rosana Jatobá – Boa tarde, pessoal! Começa agora mais um Conversa com a Jatobá, seja muito bem vindo. Hoje eu tenho uma honra de receber aqui no nosso programa os meninos do Falamansa. Com certeza você já ouviu alguma das composições do Falamansa, esse grupo forró que está completando 15 anos de carreira. Eu tô aqui com o Tato, boa tarde, Tato!

Tato – Boa tarde, prazer estar aqui, que legal.

Rosana Jatobá – Eu gostei muito de chamar vocês para o nosso programa porque além do talento nato que vocês têm para música, vocês têm projetos ambientais importantes que a gente vai falar aqui. Além do Tato, voz e violão, aqui também o Dezinho no triângulo e percussão.

Dezinho – Tudo bom? Fala galera, tudo bem.

Rosana Jatobá – O Alemão tá com a gente também.

Alemão – É verdade, e aí gente, tudo bem? Satisfação.

Rosana Jatobá – E o Valdir na sanfona.

Valdir – Opa, olha eu aqui.

Rosana Jatobá – Meninos, bem vindos. Um novo trabalho agora em homenagem ao grande Luiz Gonzaga, o centenário do Rei do Baião. Por que vocês escolheram Luiz Gonzaga pra prestar essa homenagem, depois de  15 anos de sucessos?

Tato – Primeiramente a Falamansa sempre foi uma banda autoral e a gente sempre teve vontade de fazer um disco de regravações. Até porque o forró não existe sem o passado, é parte da nossa cultura.  Chegando perto do ano de centenário do Luiz Gonzaga a gente viu uma oportunidade muito grande de poder fazer essa homenagem à fonte inspiradora de todos os forrozeiros, de todos que trabalham com o forró e pra gente principalmente. É incrível como uma banda, pode ser paulista de 100 anos depois do nascimento de Luiz Gonzaga, fazer um forró com a mesma intenção. Mas é exatamente isso que acontece, é um forró que tem um ritmo nordestino, o ritmo que o Luiz Gonzaga aperfeiçoou e até criou junto com a temática que o Luiz Gonzaga gostava de falar. Você falou sobre os projetos ambientais, que são coisas presentes na nossa música, que também são presentes na obra de Luiz Gonzaga como “Xote Ecológico”, por exemplo. Então essa intenção foi exatamente isso, fazer uma homenagem ao Luiz Gonzaga por ser ele o maior inspirador da banda Falamansa, não só na musicalidade, mas também na temática que a gente usa e que deu a cara da banda.

Rosana Jatobá – O interessante é que vocês ao longo desses 15 anos não perderam a essência, que é de continuar cantando o forró pé-de-serra, o forró universitário, preservando as raízes do forró no Brasil. Hoje a gente vê que o que domina realmente a cena, é o forró eletrônico, que é bem diferente desse forró tradicional.

Tato – É, ele leva o nome, mas não é historicamente, ele levou um nome meio que da noite pro dia. Mas é válido, porque o Brasil tem uma diversidade musical muito grande, então por que controlar e segmentar tanto.? É bom que tenha diferentes tipos de ritmos dentro de um só, isso é válido. Mas no caso da Falamansa, a gente sempre buscou levar adiante principalmente o forró pé-de-serra, que é o que a gente gosta, que é o que a gente entende como cultura brasileira. Mas talvez um forró eletrônico que me incomoda tanto, não é nem o ritmo, mas sim a mensagem passada, que  não é da minha intenção musical  que a letra da música seja  pra falar de coisas que não sejam bacanas. Eu acho que a música é o grande segredo pra educação de um povo,

Rosana Jatobá – É um grande instrumento, uma poderosa ferramenta.

Tato – É, caramba, mas do que um livro, é difícil alguém abrir um livro hoje em dia em tempos de internet, difícil alguém ler alguma coisa bacana, bonita, mas uma música é tão fácil de ouvir, todo mundo tá ouvindo todo dia, então eu acho que por isso é tão importante.

Rosana Jatobá – Mas você fala de coisas que te incomodam, o que , por exemplo?

Tato – Ah, letras que tenham uma intenção que eu não gostaria que meu filho ouvisse, por exemplo.

Rosana Jatobá – Um duplo sentido?

Tato – Não, o duplo sentido é parte da raiz, esse é um sentido só, é isso que me incomoda. O duplo sentido é o humor dentro da música, super presente com Zenil, Genival, que são mestres do duplo sentido, isso é o humor. Mas quando a coisa tem um sentido só, que é o sentido ofensivo, degradar uma pessoa através da música ou exaltar coisas que não são pra ser exaltadas, como você ficar bêbado, eu não acho isso legal, mas eu tô dando uma opinião de músico. Eu sou um simples músico aqui .

Dezinho – Mas na verdade isso tem a ver com consciência social, você querer passar uma coisa bacana para as pessoas. A gente sabe que todo mundo convive com isso, mas não é por isso que a gente vai incentivar.

Tato – E eu acho que talvez isso mova a Falamansa um pouco, né.

Rosana Jatobá – A mensagem, um propósito, não é isso?

Tato – Exatamente, é claro eu conheço um monte de gente, vários amigos meus aí da cena cantam música que tem um sentido que eu não gosto e eles sabem que eu não gosto. Mas eu continuo gostando deles, porque são pessoas trabalhando, tem o seu emprego, mas enfim, é só o propósito da Falamansa que é exatamente o contrário.

Rosana Jatobá – E que mensagem vocês querem passar pro nosso público?

Tato – Alegria, fé, amor, consciência de coletivo, de respeito ao próximo, consciência ambiental tá dentro disso tudo. É importante a gente colocar isso sempre como o segredo do bem-estar.  Tudo, é tudo que está a sua volta, é se a pessoa do seu lado te falou bom dia, se o seu planeta tá vivendo bem, se você não tá ligando a TV e vendo uma coisa ruim. E isso é exatamente o que me inspira em passar, passar esse lado bom, do bem-estar.

Dezinho – Acho que o bem é sempre bem vindo, você agradar a pessoa, você não agredir. Porque hoje em dia você escuta coisas que dá até vergonha, você fica até meio “Não acredito que ele tá falando isso”. Então eu acho que o bem é sempre legal, é sempre bom para as crianças, pra gente, pra todo mundo.

Rosana Jatobá – Vocês têm 15 anos de carreira e já passaram por muitas mudanças aí no mercado fonográfico, venderam logo no primeiro sucesso 2 milhões de discos. Em seguida, vocês, com a pirataria ,amargaram a queda nas vendas, mas continuaram fazendo shows Brasil afora. E é isso que segura a banda hoje em dia, né? É disso que vocês tiram o sustento.   Vocês fazem uma média de quantos shows por mês, como é que tem sido a receptividade do público?

Tato – É uma variante  grande, a média dá aí uns 10 a 12 shows por mês, mas basicamente a época de junho e julho é uma época que a gente trabalha muito

Rosana Jatobá – Por causa do apelo do forró do São João, não é isso? Das festas juninas.

Tato – É, sai no primeiro dia de junho e volta só no final do mês e ainda emenda porque o brasileiro aprendeu que a festa junina é bacana, então faz junho e julho e vira festa julina também. Eu vejo o festeiro junino como a grande tradição brasileira, é só você pensar, o Carnaval são quatro dias, festejo junino é um mês de festa. O Carnaval é destinado aos clubes, às casas de shows e uma passarela principal. Festa junina é em todo lugar, é colégio, é igreja, é apartamento, é bairro, é grandioso e no Brasil inteiro, é muito bacana.

Rosana Jatobá – Você falou da diversidade no Brasil, nos ritmos, mas o interessante é que o forró mantém o seu nicho, a sua importância sempre, entram trios, cantores,  bandas e o forró permanece ali como uma música de raiz que resiste ao passar dos anos e resiste aos novos estilos. Isso que dá força pra vocês continuarem?

Tato – Isso, isso é cultura. A cultura é assim e a cultura sobrevive quando tem os grandes ícones também. Você vê, o Luiz Gonzaga não é visto como um músico simplesmente, ele é um cara que durante uma época muito precisa ele passou informações necessárias para o povo brasileiro entender sobre um problema do Nordeste. E aí depois veio Dominguinhos que levou a arte da sanfona para o mundo inteiro. Então, a gente não tá falando de uma moda que aparece – por exemplo, a balada foi modismo, não foi algo nascido no Brasil, foi algo que a gente exportou, se divertiu com isso e a época passou. Mas o forró tá sempre aí por isso, porque é parte da nossa história, não só da música, mas da história brasileira, isso é bacana.

Rosana Jatobá – Uma tradição. E falando em tradição, no próximo bloco eu quero saber de vocês detalhes desses projetos ambientais, eu sei que vocês fazem isso no dia a dia dos shows, na vida pessoal. E como vocês estão divulgando o trabalho mais recente que é uma homenagem à Luiz Gonzaga, eu vou pedir pra vocês executarem agora “Sabiá”, que é um clássico do repertório do Rei do Baião.

2º bloco

Rosana Jatobá – Quem tá ” rindo à toa”  sou eu, porque hoje eu tenho a honra de receber aqui no Conversa com a Jatobá os meninos do Falamansa. Essa banda super conhecida no Brasil,  que leva o forró pra várias cidades do país e os meninos do Falamansa têm projetos ambientais, de preservação da natureza, tanto nos shows, quanto na vida pessoal. É isso que a gente quer saber agora, vamos começar pelos shows, vocês lançaram há 5 anos um DVD chamado “Falamansa 10 anos por um mundo melhor” com a intenção de passar essa mensagem de preservação ambiental. Como é que vocês fizeram isso?

Tato – Bom, isso começou até um pouquinho antes desse projeto que foi com o projeto “Segue a vida” em 2007. Em 2007 a gente já lançou um disco com a preocupação de ser uma pessoa mais sustentável, que colaborasse mais com o meio ambiente. Então, todos nós decidimos que tudo que a gente fizesse através do nosso trabalho seria de forma a conter um pouco o desperdício, a conter um pouco o que causasse danos ao meio ambiente. Como a gente começou? Nosso encarte feito de papel reciclado, as músicas que vieram no “Segue a vida”, a gente já colocou três faixas que falavam abertamente sobre a consciência ambiental e levavam isso adiante. E aí na hora que chegou a gravação do DVD, a gente tava com isso muito na cabeça, a gente falou tanto isso no “Segue a vida” que nesse trabalho a gente tem que vir com a cara, demonstrar isso através das atitudes. O DVD você tá enxergando ali o seu show, seu cenário, sua equipe trabalhando, então a partir daí a gente entendeu que isso passaria também a fazer parte da Falamansa como empresa. Então, o que aconteceu? O nosso cenário foram 7 mil fundos de garrafas PET, com tecido reaproveitado, o figurino,  essas roupas são feitas de tecido orgânico, umas de fibras de bambu ou umas de tecido PET. Muita gente não sabe o que  é o PET, tem gente que infelizmente não sabe o que é reciclar ainda. Então, a gente  leva isso. Tem até uma história curiosa. O cara me pediu um CD no restaurante na beira da estrada, aí eu falei “Ó cara, eu vou pegar um CD aqui, é reciclado, hein”. Aí ele olhou pra mim e falou “Não, não tem problema, não, pode ser”. Então as pessoas ainda não têm essa noção e é importante pra um artista demonstrar isso, que é legal passar isso adiante também. A partir do DVD fizemos esse projeto, aí o cenário do “Por um mundo melhor” a gente já reciclou pro novo cenário e as roupas também continuaram sendo PET. Tem uma empresa chamada Free Ocean que entrou nessa parceria com a gente.

Rosana Jatobá – E vocês querem inclusive lançar uma grife de roupas de malha ecológicas com garrafas PET e fibra de coco?

Tato –  A galera começou a ver as camisetas,  a marca da Eco Fala. Não era a intenção de fazer uma  marca, mas as pessoas através do site ficam perguntando onde poderiam comprar, então vamos vender, né! ( risos).

Dezinho – E tem também o nosso clipe que foi feito também.

Tato – É, a gente fez um clipe, conta aí Alemão. O Alemão tá ali escondidinho.

Alemão – Então, a gente fez um clipe numa balsa no Rio Tietê.  Foi um clipe bem bacana que a gente conseguiu imagens aéreas falando sobre o quanto é jogado no Rio Tietê pelos esgotos de Guarulhos.  Foi um clipe que não foi muito visto, não repercutiu tanto, mas dá uma satisfação de ter feito. A gente tava de roupa de gari, então ficou pior ainda. rsrsrs

Rosana Jatobá – Como é que vocês suportaram o mau cheiro do Rio Tietê?

Tato – A gente gravou ali durante 11 horas e chega uma hora que você não consegue se alimentar, é muito louco, né. Não dá vontade de comer, não dá vontade de fazer nada. Mas foi interessante.

Rosana Jatobá – É triste você olhar para uma cidade como São Paulo, uma cidade rica,  com um rio desse jeito…

Tato – Aliás, fica aberto o clipe, que é um clipe informativo também além da gente tá cantando ali, no rodapé do clipe tá passando informações sobre o Rio Tietê, sobre o necessário para a despoluição. E a gente fez na intenção de uma escola também passar, isso é bacana porque a gente começa a receber um monte de professor de escola, que usou a música em alguma ação da escola, mostrou o clipe em alguma ação. Teve uma música que a gente fez pro DVD chamado “Lixo no lixo”, que foi a festa de fim de ano de uma escola municipal foi com a temática “Lixo no lixo”. Eles usaram a música, então é muito legal porque isso é uma sementinha.

Rosana Jatobá – Além de passarem mensagem através da música, essa questão de ” lixo no lixo” ,  vocês chegaram a distribuir sacolas para as pessoas recolherem o lixo nas praias…

Tato – É, foram 300 mil e a gente ainda deve fazer mais, espero que no próximo verão a gente retome pra fazer essa distribuição que foi muito bacana. E não dá falar “Qual é o investimento disso?”. Ali na própria sacola de lixo tá o nosso nome, é uma divulgação da banda. Então é uma divulgação sábia, porque você tá divulgando,  essas sacolinhas  você põe no câmbio do caro e tem gente que tem até hoje. Eu mesmo tenho várias lá em casa.

Rosana Jatobá – Traz pra gente aqui no Conversa com a Jatobá. E essa música “Lixo no lixo”, eu tô curiosa pra ouvir.

Tato – Faz um tempinho que a gente não toca.

Rosana Jatobá – No próximo bloco eu quero saber se essas ações sustentáveis que vocês implementam na carreira,  vocês também utilizam no dia a dia, no cotidiano de vocês. Tudo isso é no próximo bloco, não sai daí, que eu volto já.

3º bloco

Rosana Jatobá – Até o final do Conversa com a Jatobá eu prometo que eu levanto dessa cadeira pra dançar o forró,  com o Falamansa aqui no estúdio. Que delícia o som de vocês, é contagiante, dá vontade de sair dançando!

Tato – Acho que aí não é mérito nosso não, é mérito de Gonzagão mesmo (risos).

Rosana Jatobá – E lá de cima do palco, vocês observando o público, tem muita gente que sabe ou que não sabe dançar?

Tato – Ah, tem de tudo, nossa,! tem de tudo e é legal.

Muitas pessoas que vão ao  show às vezes não são do forró, então não dançam, mas gostam. É como você estar tocando e ver um cara com a camisa do Metallica e curtindo o show, eu já vi de tudo, Rage Against the Machine, a galera do reggae também que gosta muito, acha muito próximo do reggae. Então é legal que a dona de casa, eu adoro isso, eu acho que a mensagem ela permite você falar pra qualquer pessoa. A música segmentada não, se você limita a pessoa de ouvir, você limita também os gêneros, né, isso eu não queria nunca na nossa vida.

Rosana Jatobá – E a mulherada, como é que elas reagem no show do Falamansa?

Tato – As da plateia ou a minha lá em casa? (risos).

Rosana Jatobá – Não, a sua na sua casa certamente sabe que você é um músico, compreende o assédio das fãs.

Tato – Tudo isso é muito bonito no texto.

Dezinho – Das fãs já foi melhor, eu acho que a gente tá envelhecendo.

Tato – Agora já é “Tio, toca aquela lá”.

Dezinho – É engraçado o começo dessa mudança. A gente começou éramos jovens, 20 anos de idade, então tava no auge e de repente vai passando os anos “Oh, tio” você fala “Poxa”.

Rosana Jatobá – Vocês não mudaram muito, o cabelo cresceu um pouco e a música é cada vez melhor. Falando de público, como é a receptividade quando vocês estão lá em cima divulgando a mensagem ambiental? Vocês são tidos como ecochatos? Lá vem ele falar dessas coisas chatas, ou não? As pessoas curtem as mensagens?

Dezinho – Eu acho que o tem gente que se você falar uma frase ou você falar uma história inteira, você vai ser o ecochato, né. Tem gente que já recebe assim e tem gente que presta atenção, tem gente que acha super legal. E é o negócio que o Tato tava falando,  tem gente que nem sabe, hoje mesmo na mídia tem gente que não entende muito o que é. Você vê na praia, eu vejo muito na praia, na Guarapiranga, nesses lugares que as pessoas não estão nem aí. As pessoas depredam mesmo e sem dó.

Rosana Jatobá – Poluem, jogam lixo.

Dezinho – Você olhar e falar “Não acredito que o cara tá fazendo isso” e sem peso na consciência, esse que é o pior.

Tato – É diferente o cara que joga sabendo que não é legal e o cara que não tem consciência que aquilo não é legal. E isso é informação e o legal é passar isso através da música porque é aquele lance, é muito mais fácil de absorver, né. Ah, peraí, lixo no lixo que legal, então depois fala : vou  botar pro meu filho ouvir esse CD aqui. Aí o filho tá ouvindo, então a música taí pra ser passada adiante. Eu acho que a gente teve muito mais positividade em relação a isso do que negação dos fãs e do público em geral. É claro que todo mundo espera a Falamansa a banda da alegria, mas quem conhece o trabalho inteiro, vê o tanto que a gente busca falar de alegria, de fé, de amor, de fazer o bem e entende que consciência ambiental tá dentro disso que a gente fala, de buscar fazer o bem através da música, né.

Rosana Jatobá – E no dia a dia em casa, que ações vocês têm assim no dia a dia que podem propagar para os nossos ouvintes, que eles podem fazer também? Por exemplo, vamos começar: separação e coleta seletiva do lixo.

Dezinho – Nossa, eu tive uma decepção muito grande com a coleta seletiva do lixo lá no meu condomínio. A gente separava tudo super contente, depois eu fui conversar com o cara lá do caminhão e o cara falou “Não, não adianta nem separar, a gente só usa esse aqui” e eu disse “Puxa, que sacanagem, a gente aqui achando que tá fazendo, mas o cara que tá recolhendo só recolhe um tipo de material ou não”. Foi meio decepcionante, eu fiquei meio chateado na verdade.

Alemão – Esse sistema de coleta é um sistema muito primário mesmo, a gente vê nos condomínios que não existe uma organização. Entao eu vou até o mercado que tem a coleta e levo meu saco.

Tato – E a gente tá falando de condomínios e prédios, imagina a população de um bairro que não tem nem saneamento básico, não tem infraestrutura pra nada, como é que vai entrar isso na cabeça da pessoa?

Rosana Jatobá – Você tocou num ponto importante. A  gente só recicla em São Paulo 1,5% do lixo. Lixo que é reciclável, que poderia realmente ser reaproveitado, vai parar nos aterros, nos lixões por aí.

Dezinho – O Brasil é muito precário nisso ainda, você olha lá fora, Europa, Japão, o que se aproveita nos Estados Unidos. Eu tava vendo outro dia, os Estados Unidos aproveitam quase que 96% do aço de um automóvel. Os caras reciclam tudo.

Rosana Jatobá – Reaproveitam tudo pra evitar um impacto maior na natureza. Mas olha, você ficou frustrado, mas não para de separar seu lixo. Já tem uma rede de supermercados, de lojas em São Paulo, no Brasil todo, que recebe esse lixo, gera renda, gera emprego pra muitas famílias.

Dezinho – A gente tá fazendo uma composteira em casa, eu e minha mulher.

Rosana Jatobá – Pra aproveitar o resíduo orgânico, os restos de comida. E a questão do desperdício de comida, você aproveita tudo? Cascas, bagaço?

Dezinho – Eu na verdade evito desperdiçar comida, normalmente o que eu coloco no prato eu como. Mas algumas coisas a gente joga no lixo, é isso que eu tava falando com a minha mulher da gente fazer a composteira justamente pra isso.

Rosana Jatobá – Pra aproveitar esses restinhos. Economia de água e de energia, vocês também fazem em casa? O banho, por exemplo, demora quantos minutos?

Dezinho – Meia hora.

Rosana Jatobá – Meia hora é muito. O Tato com esse cabelão demora o que, uns 40 minutos?

Tato – Não, não, é que eu dou banho no meu filho também e com ele vai um pouquinho mais de água ainda. Mas antes de construir a casa eu pedi pra fazer uma cisterna. A gente reaproveita água da chuva na cisterna pra muita coisa, principalmente pra mangueira de quintal, para as plantas, lá em casa vai ter até um galinheiro agora, a gente já tem horta, tem um pomar e agora vai ter um galinheiro.

Rosana Jatobá – Que ótimo, parabéns!

Tato – E a gente pega os detritos com o galinheiro e bota nas plantas..

Rosana Jatobá – Vira um adubo poderoso.

Dezinho – Esse negócio de você pegar a água da chuva é muito legal, eu fiz na casa da minha mãe, que tinha mais espaço e era mais viável. E foi absurdo ,  a conta saiu de R$ 200 pra R$ 52.

Rosana Jatobá – E como é a implementação desse sistema de reaproveitamento da água da chuva? É caro pra colocar em casa?

Alemão – Não, o que eu fiz na casa da minha mãe é muito simples, na verdade. Já tinha a calha, aí eu aproveitei as duas calhas que tinham, o telhado é um telhado simples, peguei uma caixa d’água coloquei no jardim e mandava a água.

Rosana Jatobá – Foi simples, não gastou muito e diminuiu a conta de água.

Alemão – O gasto foi super pouco, super fácil de fazer .

Dezinho – Pode se dar um luxo de até tomar um banho mais demorado.

Alemão – Uma coisa que eu fiz na casa da minha mãe que foi muito legal, que muita gente talvez tenha em casa e não perceba, é na limpeza da piscina. Quando você filtra, você joga água fora, o que eu fazia? A gente fez esse encanamento que ia pra fora, a gente jogou pra essa caixa d’água e essa água a gente usava também e ficou super bom.

Rosana Jatobá – Parabéns! Vocês estão realmente se revelando um grupo ecológico. A gente se espelha nos nossos ídolos.  E falar em ídolo, o nosso grande ídolo aqui é o Luiz Gonzaga. E a gente sai agora nesse finalzinho de bloco com uma homenagem que vocês trazem no novo CD.

Tato – Exatamente, “As Sanfonas do Rei” que dá nome ao disco e que fala um pouco dessa nossa preocupação também que vem dele, de fazer da música um instrumento de mensagem e do bem.

4º bloco

Rosana Jatobá – Tô aqui com o grupo Falamansa no Conversa com a Jatobá. Tato, você, cinco anos atrás, passou por uma situação limite, né? Um tumor no cérebro. Teve medo?

Tato – É, tive, tive, mas tive pouco tempo pra ter medo, acho que foi importante também. Eu soube do tumor e em dois dias eu já tava operando porque tava num estágio muito avançado. Tive medo, mas tive confiança pra caramba também e acho que é o segredo de tudo. Acho que a temática é a mesma, a gente falou de consciência ambiental, a gente falou de alegria e tá falando disso e eu consigo responder com a mesma resposta. Quando você passa o bem, você tem uma consciência de bem-estar muito boa e quando você senta numa mesa de cirurgia, fecha o olho e pensa “Cara, eu fiz tudo certinho, eu sempre busquei o bem, busquei levar o bem para as outras pessoas, então eu posso fechar o olho tranquilo que eu vou acordar e eu vou acordar bem”. E acordei super bem, melhor do que antes aliás, diga-se de passagem. Quer dizer, fisicamente nem tanto, mas mentalmente.

Rosana Jatobá – Quando você acordou e percebeu “Pôxa, tô vivo, tenho chances de continuar”, você foi invadido por uma alegria, né?

Tato – Sem dúvida, né. Tudo, a sensação de gratidão à vida e a gratidão pelo meu trabalho, por tudo que eu fiz. Eu devo a minha recuperação ao meu trabalho, às minhas músicas mesmo. Assim como alguém deve uma recuperação à um crucifixo, seja à um santo ou à algum pastor. Enfim, a fé é grande, eu devo isso ao meu trabalho, ao meu jeito de portar perante as pessoas, a minha busca pelo bem e levá-lo adiante, ele sempre volta mesmo e ele voltou pra mim. Então, hoje eu faço, hoje eu toco, hoje eu trabalho, hoje eu lido com as pessoas como forma de agradecimento e é muito mais forte, né.

Rosana Jatobá – Você teve o apoio do Dezinho, do Alemão e do Valdir, o grupo que está junto desde o início do Falamansa?

Tato – Pra caramba, o Valdir, o Alemão e o Dezinho souberam basicamente no dia da cirurgia porque foi tão chocante pra mim, como pra eles de saber quando eu já tava indo pra operação.

Rosana Jatobá – E aí Alemão, como é que foi quando ele te deu a notícia?

Alemão – Ah, dá aquele frio, né! Dá aquela gelada, é uma coisa que você não espera, ele tava com dores, mas você nunca vai imaginar que é algo tão crítico.

Tato – E não fui nem eu que dei a notícia.

Alemão – Foi o irmão dele, então de repente as mãos atadas e o joelho no chão em oração porque você se prende à Deus mesmo, Jesus Cristo, que a gente sabe que milagres vem deles, então nessa hora é a fé e acreditar também no profissional que tá ali, confiar nele. Mas a gente fica com aquele medo, por um instante todo mundo ficou nisso, porque a gente tem a vida muita próxima, a gente vive muito a mesma realidade, muito parecida. Então, de repente tudo parou. E tinha um comprometimento que mesmo ele tendo uma cirurgia bacana ele podia vir sem conseguir falar, né, comprometido com a fala e alguma parte motora.

Rosana Jatobá – Algumas sequelas?

Dezinho – Na verdade podiam vir várias sequelas.

Alemão – Até quando ele saiu da cirurgia, os familiares falaram que ele já saiu falando com as pessoas pra ver se ele conseguia realmente falar ali, né.

Tato – E o legal é que eu continuei sequelado onde eu era sequelado.(risos)

Alemão – E depois de um mês, em 30 dias, eu acho que isso foi o mais surpreendente.

Rosana Jatobá – Mas a fé é realmente o que nos move, a gente consegue milagres. E qual é o segredo de estarem juntos 15 anos? É um casamento! Qual é a receita aí?

Valdir – Tem umas coisinhas diferentes aí. A gente tenta não se trair, né.

Rosana Jatobá – Fidelidade e respeito.

Tato – Respeito, a gente se respeita muito. Depois de 15 anos você entende a cabeça, a característica de cada um, você entende os pontos que chateiam cada um. É uma família, é um relacionamento e quando move algo que você ama tanto, é em prol que algo que nós quatro tramamos da mesma maneira, então você releva tudo, você aprende com o outro. Às vezes algo que talvez no passado fosse algo que eu não gostasse de algum deles, hoje eu admiro. É muito louco isso, né! Acho que a gente se completa mesmo assim.

Rosana Jatobá – Vocês estão numa fase de muita maturidade, né, não só como músicos, mas como grupo, como banda mesmo?

Dezinho – A gente se aceitou bem, quando você é mais jovem é mais difícil você aceitar a diferença do outro. E depois de tantos anos a gente se aceita muito melhor, acho que a gente conversa melhor.

Rosana Jatobá – E o fato de terem constituído família, agora vocês são pais, todos vocês, isso também fez diferença no relacionamento?

Tato – Tem que levar o pão pra casa, né.

Dezinho – Isso faz diferença, o legal é que minha filha mais velha não mora comigo, mora com a mãe, no interior de Minas e ela tem a mesma idade da filha do Alemão, da Mirela e elas brincam muito junto, brincaram muito quando eram pequenas e a mãe voltou pra Minas e quando ela vem pra cá, a primeira coisa que ela quer é ver a Mirela depois de anos e anos. Isso vai aproximando mais também, né. Hoje o Tato tem os dois meninos pequenos, eu tenho uma menina e um menino agora, a família vai se completando.

Tato – A família tá crescendo.

Rosana Jatobá – Que ótimo! E quais são os planos do Falamansa para os próximos meses, para os próximos anos, algum projeto em vista?

Tato – Bom, na verdade a Falamansa completa 15 anos, a gente queria muito fazer um disco que comemorasse os 15 anos, mas a gente quer respeitar também que o Centenário de Luiz Gonzaga ele vai até o dia 13 de dezembro. Então, até o dia 13 de dezembro a gente tá trabalhando pra fazer o nome de Luiz Gonzaga ecoar no maior número de cidades possíveis. A partir do dia 13 de dezembro, que eu acho que a gente deve entrar num período de um, dois, três meses de gravações para um trabalho que comemora 15 anos e um trabalho autoral também. A gente já tá esse disco inteiro sem compor, um compus uma música para o disco que é em homenagem à Luiz Gonzaga. Então, eu sinto muita falta de compor e os fãs sentem falta de música nova nossa.

Rosana Jatobá – Vocês vão fazer um mergulho para novas canções?

Tato – Sem dúvida, vai completar dois anos trabalhando o disco em homenagem à Luiz Gonzaga e durante esse tempo eu fiquei compondo, então eu não vejo a hora de colocá-las em prática, gravá-las.

Dezinho – Eu tenho umas em casa lá também.

Rosana Jatobá – O Conversa com a Jatobá fala desses projetos sociais, ambientais, de preservação da natureza, de melhoria das relações humanas, mais respeito, menos violência, tudo que ajuda a construir um futuro melhor pra gente e para os nossos filhos. Então, o que vocês acharam de vir aqui, falar não apenas da carreira, do sucesso que vocês tiveram esses anos todos, mas pra poder mostrar para o público um pouco desse lado de vocês como cidadãos conscientes?

Tato – Eu vou falar em nome da banda, mas todo mundo pode se manifestar. Mas é porque eu cheguei primeiro no microfone (risos). Primeiro, acho que dá pra perceber que a gente não parou de falar aqui, fico até com medo de a gente ter falado demais, mas é porque são temáticas que a gente gosta muito de levar adiante. É importante ter um programa como esse onde você pode levar essa temática adiante, cada vez fica mais escasso e é super preciso. E poder misturar isso com música aqui, tocar ao vivo para o povo ver que não é enganação também. Ninguém fez um solo de cinco minutos, mas vir tocar ao vivo é muito legal. Então, eu acho que taí o grande segredo e parabenizo vocês por isso também, porque o segredo de você unir a música que é o instrumento de levar a mensagem. A mensagem que faça o bem, seja ela de consciência ambiental, seja ela social, é o meio mais fácil de trazer até a pessoa algo que de repente ela não ia ter a oportunidade de ver ou ler em algum livro. Então, fico honrado de estar aqui, espero ser sempre merecedor.

Rosana Jatobá – Vocês vão voltar com certeza porque a gente sentiu uma verdade muito grande. Vocês falam com propriedade, isso tá muito evidenciado no trabalho de vocês, nas letras, no comportamento em casa, no comportamento com os fãs no palco. Eu quero parabenizar e agradecer por vocês estarem aqui conosco com Conversa com a Jatobá.

Tato – Obrigado, viu!

Rosana Jatobá – Voltem sempre, parabéns! Muito sucesso com essa nova turnê homenageando o Gonzagão e é com ele que a gente se despede com os meninos do Falamansa. Escolham aí a música pra gente terminar o nosso programa.

Tato – Opa, vamos de “Quem nem jiló”, fala de saudade do mestre Luiz Gonzaga. Vamos de “Quem nem jiló”, simbora sanfoneiro.

Rosana Jatobá – Tchau pessoal, beijo grande, até semana que vem!

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