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Empresas familiares – parte II

por Putz da Vida

Continuação da história da semana anterior.

Uma manhã, o Sr. João (o diretor de compras) irrompeu no meu escritório e colocou na minha frente alguns documentos, acusando o Sr. Wilson de ladrão e exigindo que fosse demitido imediatamente. Examinei os documentos e constatei que nada provavam contra o Sr. Wilson. Ponderei que os documentos não tinham sequer um visto e que não eram admissíveis como prova de nada. Aleguei que aqueles documentos não davam, na minha avaliação, razão para qualquer suspeita, quanto mais para uma acusação tão grave! O homem ficou apoplético e saiu da sala vociferando.

No fim da tarde  tive a reunião semanal com os conselheiros. Durante o dia eu já havia conversado com os advogados. Relatei a conversa com o Sr. João e também meu telefonema para os advogados. Num ambiente bastante constrangedor, passaram-me uma cópia de carta que o Sr. João havia distribuído aos sócios. A carta era uma saraivada de acusações sobre a imensa roubalheira que estava sendo feita pelo Sr. Wilson e que ele havia descoberto. Dizia inclusive que havia uma quadrilha tentando se apossar do Caixa da empresa.

Os conselheiros então me informaram que aquela não era a primeira vez que o  Sr. João fazia esse tipo de acusação. Alguns gerentes e diretores tinham sido derrubados por ele. Lembraram-me que se tratava de um sócio muito antigo a até amigo de alguns deles o que, no passado, os levara a não tomar nenhuma atitude.

Obviamente estávamos diante de uma situação que exigia ações  imediatas. Argumentei que uma acusação tão grave e por escrito tinha que ser imediatamente investigada. Sugeri que contratássemos uma auditoria independente, o que foi aprovado por unanimidade. Assim foi feito.

Contratamos uma empresa de auditoria entre as mais renomadas, que começou o seu trabalho quase que imediatamente. O Sr. João, acredito que por ingenuidade ou completa alienação, tentou boicotar o trabalho dos auditores. Chegou inclusive a proibir que “seus” dedicados funcionários fossem entrevistados pelos auditores!

O relatório final foi arrasador. Não só isentou o Sr. Wilson de ter praticado qualquer ato lesivo, como colocou grandes suspeitas nos atos praticados, por anos, pelo Sr. João.

A divulgação do relatório foi feita somente para os sócios, causando grande constrangimento. Alguns deles vieram me agradecer e mostraram-se estupefatos com tamanha vulnerabilidade da empresa. Ponderei com o Conselho que, mesmo tendo sido isento de qualquer acusação, o Sr. Wilson não teria mais ambiente para continuar na empresa e decidimos dispensá-lo, com uma carta de recomendação e uma generosa gratificação.

Algumas semanas depois, percebendo que também não havia mais clima para minha permanência, eu também apresentei minha carta de demissão.

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Putz da Vida é Engenheiro Civil e Eletricista, pós-graduado em Administração de Empresas com especialização nos EUA. Após um breve período na construção civil, trabalhou durante mais de 40 anos como executivo. Aposentado, faz consultorias eventuais e estuda música.

Putz da Vida escreve aos domingos aqui no Universo Jatobá.

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