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Conversa com a Jatobá recebe Sampa Crew

por Universo Jatoba

1º bloco

Rosana Jatobá – Oi pessoal, boa tarde! Começa agora mais um Conversa com a Jatobá. Hoje eu tenho a honra de receber aqui no estúdio um dos grupos mais queridos do Brasil. Essa música que você ouviu aí se chama “Eterno Amor”, ela ficou estourada em todos os veículos: na TV, nas rádios, os meninos faziam shows Brasil afora, um sucesso incrível e eles estão aqui comigo no Conversa com a Jatobá. Boa tarde pra vocês!

J.C. Sampa – Boa tarde, uma honra estar com você aqui na Rádio Globo e estar conversando com toda a galera da internet aí também falando um pouco dessa história de 26 anos do Sampa Crew.

Rosana Jatobá – Esse foi o rapper J.C. Sampa. A gente também está aqui com o Ricardo Anthony, que é um dos vocalistas do grupo, né, Ricardo? Boa tarde!

Ricardo Anthony – É, estamos aí. Boa tarde, é uma felicidade estar aqui podendo falar sobre trabalho, enfim desses 26 anos de carreira, que na verdade as pessoas páram a gente e perguntam “Como vocês até hoje, duram tanto tempo? Qual é o segredo do sucesso?”. O segredo é não parar, o sucesso é efêmero, é uma coisa que você curte um momento mais em alta, outros você vai estar menos, outros mais. Mas o importante é você fazer da música, se você vive e quer viver da música, uma coisa que faz parte da sua vida, né. E até uma questão que pra gente até a música foi uma questão de inclusão social também. A gente já veio dando palestras nas escolas e contando como foi a nossa história e a gente recebe muito o carinho das pessoas nesse sentido: “Poxa, eu me espelhei em você”, alguma coisa na gente faz com que as pessoas acreditem que podem chegar lá, isso que é legal também.

Rosana Jatobá – Você sabe que o nosso programa Conversa com a Jatobá fala de sustentabilidade, que é a preocupação com o futuro do planeta e das futuras gerações. E você disse: “As pessoas espelham a gente”, o brasileiro gosta de ter ídolos e quando a gente sabe que os nossos ídolos têm projetos sociais ou projetos ambientais, são pessoas conscientes, eu acho que a admiração aumenta, né?

Ricardo Anthony – Com certeza, a gente sempre foi engajado nisso em termos de shows, principalmente porque a nossa moeda de troca sempre foi show.

J.C. Sampa – Na realidade eu diria, o Sampa Crew não tem uma ONG, uma coisa que a gente faz não, nós somos convidados e sempre que podemos estamos aceitando fazer. Não só da parte ambiental, da parte da natureza, que é até uma coisa estranha por a gente ser conhecido como um grupo de rap, embora nós não somos um grupo de rap propriamente dito há muito tempo, nós já fomos.

Rosana Jatobá – Pois é, isso que é interessante porque vocês começaram com “O Som das Ruas”, que tinha essa pegada mais da inclusão social, de falar dos problemas políticos e sociais. Mas hoje vocês são identificados como um rap romântico.

J.C. Sampa – É, justamente por isso, por causa do rap, esse pessoal que faz essas ONGs voltadas pra essa parte da natureza, de sustentabilidade, acho que eles acham que um grupo como o nosso não tem nada a dizer. E a gente já fez tantas músicas que falam disso, muito antes dessa preocupação. Em 1990, eu escrevi um rap que chama “Não Mate a Mata”, foi logo quando mataram o Chico Mendes e eu fiz esse rap em homenagem a ele e foi um sucesso nos bailes aí com Sampa Crew. E tem outras músicas que falam justamente dessa coisa da natureza, do equilíbrio mental, da força do pensamento, da positividade. Nós nunca fomos um grupo engajado politicamente, só fiz uma música que chama-se “Vote em mim”, faz tempo também. Então o pessoal nunca olhou esse lado do Sampa Crew da letra. Mas a gente até hoje escreve músicas que tá preocupado nessa coisa da mentalidade, da pessoa trabalhar a cabeça, dela acreditar nela, da luta. A gente não entra muito nessa parte, embora eu seja um cara de uma visão muito política, até radical muitas vezes e eu não levo isso pra música, pra letra.

Rosana Jatobá – Você mantém a sua opinião política pra você?

J.C. Sampa – Pra mim, a opinião própria, a gente tenta, tanto eu como ele, não jogar isso na música do Sampa Crew, que já tem essa imagem boa e de romântico e também dessa parte mental, da consciência, do positivismo, do budismo e essa coisa mais zen, entendeu? Agora pessoalmente o meu pensamento, às vezes eu me acho até radical demais.

Rosana Jatobá – Ecochato (risos)?

J.C. Sampa – Eu sou meio chato, eu sei que eu seria fácil um ativista do Greenpeace.

Rosana Jatobá – É mesmo? Eu vou querer saber detalhes aí desse seu perfil ambientalista. Mas olha, interessante você dizer pra gente que em 1990 você compôs uma música “Não Mate a Mata”, por ocasião da morte do Chico Mendes, que foi um grande líder em defesa da nossa floresta, a floresta Amazônica. Eu queria ouvir um pouquinho dessa música porque eu acho que é muito importante a gente mostrar para os nossos ouvintes que o Sampa Crew tem esse perfil de rap romântico, mas também tem uma mensagem ambiental importante. Vamos ouvir um pedacinho da música! J.C., é importante você falar essa mensagem advertindo as pessoas de as pessoas realmente precisam se preocupar com a questão da preservação do meio ambiente.

J.C. Sampa – Essa música fala muito disso, da preservação do meio ambiente, como é importante você preservar ali, você plantar uma árvore. Então as pessoas nunca estiveram preocupadas com isso de verdade, é muito mais um chavão político. É pouca gente como você que está engajada em falar disso da maneira certa. O governante mesmo, os políticos, eles não estão nem um pouco preocupados.

Rosana Jatobá – E por que você acha que o nosso povo não se preocupa com a questão das florestas, da natureza em geral?

J.C. Sampa – Justamente porque não é uma coisa que tá no dia a dia dela. Ela quer saber que ela tem que levantar, trabalhar, pagar as contas e tá preocupada. Claro, as pessoas não pensam assim e o próprio governo não tem uma atitude de conscientizar as pessoas de uma maneira mais enfática, né. Não existe essa preocupação de conscientização, acho que hoje, por exemplo, as pessoas estão muito mais conscientes com a questão do HIV, a prevenção. Estão muito mais conscientes, mas é só você anunciar qualquer coisa que se relativa à cura, que as pessoas também abrem mão dessa prevenção, as pessoas se sentem mais seguras. Com a Amazônia não, porque agora a natureza dá cada vez mais a sua resposta e as pessoas não entendem que às vezes jogar um copo no chão, uma lata. Uma vez eu tava no carro dirigindo, quando eu vi pela janela pessoas que não eram nem uma molecada, eu páro para ver o perfil. Qual é a cara da pessoa que tá fazendo isso? Você atribui muito isso a essa molecada, mas não, pessoas adultas que jogaram um negócio dessas lanchonetes delivery e jogaram. É questão de educação também, né. Imagine para uma pessoa que vive em uma situação carente, como a maioria da população brasileira, a grande maioria abaixo da linha da pobreza, como que uma mãe ou pai vai educar o filho para cuidar da natureza? Porque isso vem da educação também, de conscientizar desde pequeno que não se deve jogar o lixo no chão. Um outro dia eu estava vendo uma matéria no jornal SPTV, eles fazem muito bem isso de mostrar o que está acontecendo com praças públicas, e aí estava mostrando várias praças públicas mal tratadas. E mostrou entre esses brinquedos um escorregador, ele não tinha o ferro, estava todo enferrujado e quando caía não tinha aquela contenção de areia para amaciar aquela queda.

Ricardo Anthony – Uma verdadeira armadilha.

J.C.Sampa – O parque estava largado. Aí eu fico imaginando, vai cobrar do governo. Mas aquela praça é pra comunidade, por que a comunidade não se junta, vai ficar esperando o que do político?  Eles fazem a praça, mas eu acho que também é obrigação de cada um cuidar da praça. Mas aí fala: “Mas eles não vem aqui pra varrer, não vem aqui pra cuidar”, e o morador que usa aquilo, por que ele não ajuda a preservar, não pinta? Era fácil, eles fazem um mutirão ali e eles arrumam aquela praça rápido e nem vai ser tão caro assim. Vai ficar sempre atribuindo ao imposto? Não adianta.

Rosana Jatobá – Mas hoje o grande argumento das pessoas é de que elas pagam impostos e por isso deveriam ter um serviço público eficiente.

J.C. Sampa – Aí já é outra cobrança, na minha opinião. Se você ficar esperando que eles vão lá. Apesar que eu considero a mesma coisa, os impostos no Brasil é uma coisa tão abusiva, que não dá nem pra discutir.

Rosana Jatobá – 40% da renda produzida.

J.C. Sampa – E hoje ainda estão aumentando mais ainda, esse negócio do IPTU tudo. Mas isso não vai mudar, eles vão continuar aumentando porque eles precisam de dinheiro.

Rosana Jatobá – Qual é a forma então Ricardo, da gente pressionar os políticos a serem mais eficazes?

Ricardo Anthony – Eu acho que cada um fazer a sua parte, como ele falou, é mais do que fundamental. A grande maioria hoje, principalmente das crianças carentes, pode não ter essa consciência, mas uma grande parte tem. Eu mesmo tenho uma filha de 7 anos, que ela não joga nada no chão, ela sabe o que é o verde, o que é o amarelo. A educação é o grande instrumento pra mudar isso.

Rosana Jatobá – E é interessante que essa nova geração é que está sendo o agente transformador, tá provocando essa revolução social.

Ricardo Anthony – Eu não posso nem deixar a torneira ligada ali fazendo barba e ela vem e desliga. Então ela tem consciência.

Rosana Jatobá – E ela repreende o pai: “Papai, fecha a torneira”.

Ricardo Anthony – Repreende. Então eu acho que educação é o primeiro ponto fundamental pra gente mudar isso aí.

Rosana Jatobá – E em segunda instância o voto consciente.

Ricardo Anthony – Ah, sim.

Rosana Jatobá – Vocês inclusive fizeram uma música chamada “Vote em mim”. Vamos cantar um pedacinho dessa música, você ainda lembra?

Ricardo Anthony – Eu vou lembrar.

Rosana Jatobá – Nossa, incrível.

J.C. Sampa – Eu escrevi em 90, o Lula nem pensava em ser presidente pra enganar a gente também. Desculpa o que eu tô falando.

Rosana Jatobá – Aqui todo mundo tem liberdade pra falar o que pensa e você vai saber muito mais no próximo bloco, a gente volta já, já!

2º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com o Conversa com a Jatobá, hoje eu estou aqui no estúdio com os meninos do Sampa Crew, um deles, o DJ Alam Beat, não está conosco. O que aconteceu?

J.C. Sampa – O Alam Beat é muito engajado, está tendo um festival agora com o lance do grafite. Ele é muito envolvido com isso, com Os Gêmeos, ele tem muita amizade com Os Gêmeos mundialmente conhecidos.

Rosana Jatobá – Os Gêmeos são dois irmãos artistas plásticos que tem um trabalho maravilhoso.

J.C. Sampa – Eles nasceram no Cambuci e cresceram com a gente, né.

Rosana Jatobá – É mesmo? Eles estão estourados no mundo inteiro como a grande referência no Brasil, né?

J.C. Sampa – Eles nasceram no Cambuci, são muito amigos, então estão envolvidos nisso aí que acontecendo aqui em São Paulo e o Alam Beat está envolvido diretamente nesse festival.

Rosana Jatobá – No grafite, né?

J.C. Sampa – Ele é muito engajado com o hip hop de modo geral, é um dos precursores do movimento. Ele é um dos primeiros que dançou na 24 de Maio, faz parte daquela leva que nasceu e cresceu com o break de rua.

Rosana Jatobá – Ah, o break. Ele dançava daquele jeito desconcertado assim, né?

J.C. Sampa – E ele é muito envolvido com o lance do hip hop, ele tá sempre em algum lugar fazendo algum projeto, alguma coisa envolvendo hip hop, fora o Sampa Crew.

Rosana Jatobá – Tem um projeto que eu já falei muito aqui na rádio, que se chama “Pimp my Carroça”, do Mundano, que é um grafiteiro também, um artista, em que eles desenham nas carroças dos catadores de material reciclável. Não só desenham, é um projeto que traz qualidade de vida para o catador. Eles oferecem assistência psicológica, médica, muitos estão envolvidos com alcoolismo, então é um projeto que tenta resgatar a dignidade dos catadores. Porque o que a gente vê hoje são pessoas aí pela rua catando material pra sobreviver, mas com uma vida realmente difícil, né.

J.C. Sampa – Exatamente, muito bonito esse projeto. Eu não conhecia.

Rosana Jatobá – E é interessante porque também inclui o grafite que vocês citaram agora, que é esse desenho, é trazer um pouco de arte para as ruas da cidade.

Ricardo Anthony – Como fizeram agora embaixo do Minhocão com fotografias dos moradores de rua. Ficou ótimo, tinha uma senhora lá chorando porque ela viu a fotografia dela em escala enorme e dá um visual diferente mesmo. Claro que é mais do que você estampar a foto de alguém ou pintar uma carroça, mais do que você dar o peixe, é aquela história do ensinar a pescar, tem que ter continuidade.

J.C. Sampa – O grafite é maravilhoso e no Brasil através de Os Gêmeos ficou mundialmente conhecido e tem projetos como esse que você acabou de citar. E o Alam Beat tá sempre envolvido, dá uma força, é engajado.

Rosana Jatobá – Quer dizer que você conhece os meninos, Os Gêmeos?

J.C. Sampa – A gente cresceu praticamente junto ali, a gente se conhece há muito tempo. Tem uma capa nossa de um disco de 92 que tem o “Não Mate a Mata”, essa versão que foi mostrada, que é inteirinha grafite. A gente tirou ali em baixo da Paulista, ainda tem os grafites, mas naquela época tinha um grafite maravilhoso lá e a gente usou de fundo de capa aquele grafite. A gente sempre usou os elementos do hip hop de um modo geral, ultimamente menos porque realmente o grupo tá muito engajado no lance da música romântica, pop, black. Mas a gente sempre usou esses elementos e nesse último CD mais recente a gente volta a resgatar isso bastante.

Rosana Jatobá – Então, eu quero falar desse CDs, o volume 1 e o 2, que estão aqui na minha mão.

J.C. Sampa – Esses são os sucessos.

Rosana Jatobá – Os grandes sucessos do grupo.

J.C. Sampa – Ele fecha um ciclo aí. O de 25 anos fechou um ciclo do Sampa Crew e esses dois CDs aí, cada um com 18 músicas também, porque tem todos os sucessos do Sampa Crew reunidos em duas coletâneas.

Rosana Jatobá – E tem também aqui o DVD que vocês gravaram em São Vicente, na baixada santista.

J.C. Sampa – Nossa, foi inesquecível.

Rosana Jatobá – Encheu, lotou a casa eu imagino.

J.C. Sampa – Encheu, foram 7300 pessoas, o que cabia estava lá. E muita gente pra fora.

Rosana Jatobá – Trinta e três músicas, os grandes sucessos do grupo ao longo desses 26 anos?

J.C. Sampa – É, faltaram músicas ainda. São duas horas de show, mas faltaram músicas por conta de que a gente também resolveu abrir um pouco mais, não fazer só o romântico. A gente trouxe o funk, por exemplo, o primeiro sucesso do Sampa Crew foi um funk na verdade.

Rosana Jatobá – Qual foi esse funk?

J.C. Sampa – “O Melô da Professora” que não tá nesse CD.

Rosana Jatobá – Mas como é que é mais ou menos? Vamos tocar uma palhinha aí, você lembra?

J.C. Sampa – Eu vou cantar, mas a música não fala palavrão, mas naquela época tinha muito lance de você cantar e esperar que as pessoas falassem.

Rosana Jatobá – Palavrão? Ai meu Deus!  Aqui no Conversa com o Jatobá não, hein.

J.C. Sampa – A música não fala palavrão. É a história de uma professora que tenta dar aula e os alunos só falam besteira. Mas isso foi um sucesso no Rio de Janeiro, no litoral, no Espírito Santo.

Rosana Jatobá – Claro, em qualquer lugar do Brasil.

J.C. Sampa – Porque o funk hoje ele tá com essa explosão aí e a mídia toda em cima, porque dá audiência, mas o funk ele nunca deixou de existir. Na época o funk na verdade não se chamava funk. Eu nem gosto de chamar muito de funk porque funk na essência da palavra é outra coisa e eu sou funkeiro, mas funkeiro do original funk principalmente. Embora eu goste também desse funk, a gente gosta de tudo.

Rosana Jatobá – Qual é a feição que o funk tomou no Brasil? Você quer dizer o que? Que hoje tá distorcido?

J.C. Sampa – Eu não vou dizer que tá distorcido porque na minha época a letra já era banal, como essa que eu acabei de cantar. O funk sempre teve a ideia de divertir, ele não tem nenhum compromisso, nenhum engajamento com nada, é só uma letra de diversão que você vai dançar. Isso pode acontecer com qualquer pessoa, você tá numa festa, toca um funk e você tira uma onda com as suas amigas. Você dança e não tem a preocupação de ficar prestando atenção se a letra tá falando alguma coisa.

Rosana Jatobá – Refletir sobre alguma mensagem?

J.C. Sampa – A ideia do funk nunca foi essa, nem na minha época de funkeiro. O primeiro sucesso do Sampa Crew que me deu a possibilidade de fazer qualquer outro trabalho paralelo foi um funk. Eu devo muito ao funk. O Sampa Crew deve muito ao funk. A palavra “Crew” eu peguei do “2 Live Crew”, que é um grupo de Miami Bass. Então na época não chamava funk, chamava Miami Bass e no Rio de Janeiro era o grande acontecimento. O que diferia as músicas do baile do Rio de Janeiro pra de São Paulo, é que lá era o Miami Bass ou freestyle e aqui era Def. Depois as coisas se juntaram e o funk chegou a pouco tempo como sucesso em São Paulo. A gente chegou a ser discriminado, né.

Rosana Jatobá – Até porque o funk estourou no Brasil como uma música atrelada a uma dança escandalosa, os bailes funk aí foram denunciados como lugar de tráfico de drogas, de promiscuidade, como é que é hoje o cenário do funk?

J.C. Sampa – O cenário é hoje muito mais organizado, até porque o funkeiro de hoje em dia tem muito mais consciência artística do que na minha época como funkeiro. Naquela época a gente fazia as coisas e a gente não tinha noção do sucesso que já era. Eu tô falando em 1990 quando a gente percorria todos os bailes funk do Rio de Janeiro de Furação 2000 a Cash Box, em Niterói. E o Marlboro chegou a empresariar a gente, a mãe do DJ Marlboro vendia os nossos shows. Era uma outra época, o funk foi até, eu diria, se profissionalizando. Eu acho os funkeiros de hoje em dia muito mais inteligentes em termos de organização, eles têm uma consciência artística muito grande. A questão da letra vai de cada um, todos têm a mesma intenção: divertir, não existe uma preocupação de “Ah, eu vou mudar o mundo”.

Ricardo Anthony – Tanto que entrou em outras camadas também.

J.C. Sampa – Agora a dança sensual, a sensualidade tem um limite, aí vai da educação de cada um, de cada garota.

Rosana Jatobá – Pode estar em qualquer estilo: no axé, no funk.

J.C. Sampa – No axé não falava na boquinha da garrafa, a menina ficava rebolando em cima de uma garrafa em pleno meio-dia. Não tô colocando que eu sou contra. A televisão mostrava isso claramente, o funk já não tem isso. Em São Paulo, por exemplo, tem o funk ostentação, que na verdade não passa de um sonho do funkeiro, ele sonha aquilo e ele encarna aquilo. Eu acho que culturalmente o que fica para o funk é que eles são muito mais organizados e eles são sim artistas, tá.

Rosana Jatobá – Agora vamos tocar um pedacinho da música “Outono” que a gente já mostrou aqui, mas eu quero que vocês façam uma palhinha aqui, ao vivo, no estúdio. Linda música.

J.C. Sampa – Fala da crise de um casal.

Ricardo Anthony – A gente não costuma usar muito letras que falam de crises, por exemplo, essa é uma das poucas o “Outono” fala da fase que não tá muito legal. Tá mais gelado, não tá o que era antes. E as pessoas costumam se espelhar e falam que a nossa música faz parte da vida dela. A gente espera que essa não seja uma delas.

Rosana Jatobá – Mas olha isso aí é uma ilusão, achar que um relacionamento é um mar de rosas.

Ricardo Anthony – Sempre vai ter um momento.

Rosana Jatobá – Sempre vai ter um momento em que o negócio fica gelado mesmo e é bom até ouvir esse tipo de música pra gente refletir e pra sair do outono pra primavera, pra florescer.

J.C. Sampa – E é uma história muito legal que o narrador pode ser um homem, uma mulher, a gente não gosta muito de colocar a situação para o homem ou para a mulher da música da gente. A pessoa começa a lamentar que tá passando por aquilo, ela não sabe mais o que fazer. É um desabafo, a música tem muito disso. Hoje a gente não trouxe o nosso tecladista, o Ricardo, que geralmente acompanha a gente. Mas a música tem um tema muito sensível e o Arnaldo Saccomani e a Thais Nascimento mais uma vez que superaram na letra.

Rosana Jatobá – São os autores da letra.

J.C. Sampa – É, geralmente eu produzo e escrevo o rap da música. No caso deles a música já vem pronta, linda. Aí o Ricardo colocou a interpretação maravilhosa e a música tá entre as mais tocadas em São Paulo, que é onde a gente consegue fazer alguma divulgação.

Rosana Jatobá – Mas e aí, se amanhã, por exemplo, eu quero ouvir essa canção, como é que eu faço, se não tá no CD, nem no DVD?

J.C. Sampa – Agora tá fácil. Não tá no DVD porque fechou um ciclo e começou um novo que é o CD “Sampa Crew – Sem Medo de Amar” que baixa no nosso site gratuitamente. Não precisa preencher ficha, nada, entrou lá download do novo CD do Sampa Crew. Baixa sem vírus, sem comercial.

Rosana Jatobá – Qual é o site? Passa para o pessoal!

J.C. Sampa – www.sampacrew.com.br, você vai lá em download do novo CD e baixa o CD completo, 24 novas faixas e você fala “Hoje em dia ainda se faz?”. A gente fez CD ainda pensando no formato CD, porque hoje em dia tá virando EP pra ficar mais barato. Embora agora cortaram impostos do CD, isso foi uma iniciativa que demorou muito, se tivesse feito isso quando começou o lance da pirataria, a situação seria outra.

Rosana Jatobá – Hoje o mercado fonográfico tá passando por uma crise incrível, né?

J.C. Sampa – Olha, eu posso falar isso pessoalmente porque a gente apesar de estar dando CD de graça, nós temos um site que chama lojasampacrew.com.br, onde você encontra camisetas, tem esse DVD, tem esse CD de sucessos, esses a gente não poder dar.

Rosana Jatobá – E como é que tá essa loja virtual?

J.C. Sampa – Ela vai bem, mas poderia estar indo melhor porque a gente vende tão barato o trabalho com frete grátis pelo Pague Seguro e não adianta muito porque as pessoas preferem baixar. Então já que é pra baixar, entre e baixe o CD do Sampa Crew gratuitamente.

Ricardo Anthony – E quem quiser comprar, vai comprar porque coleciona. A gente sabe que hoje quem entra pra comprar, vai comprar e a maioria vai baixar. Mas é importante que todos ouçam.

Rosana Jatobá – É isso aí, divulgar o trabalhar de vocês, fazer muitos shows pelo Brasil.

J.C. Sampa – O show ainda não dá pra piratear, né.

Rosana Jatobá – Daqui a pouco a gente vai dar o serviço do show, chamando o pessoal pra participar. E olha, mais uma música então pra gente ir para o intervalo. Uma música que vocês fizeram e estão executando muito.

Ricardo Anthony – Vamos com aquela “Se me lembro”?

J.C. Sampa – “Se me lembro”, regravação de Tim Maia, primeiro sucesso romântico do Sampa Crew que deu origem ao Sampa Crew como ele é reconhecido hoje. Uma música do Tim Maia.

Rosana Jatobá – Adoro Tim Maia. Beijo, Tim, aonde você tiver aí. Esse bloco é o da separação, né (risos)? No próximo bloco vamos só falar de amor que deu certo (risos). Até já, a gente volta já!

3º bloco

J.C. Sampa – Essa música é uma música que foi tão importante pra gente e que a gente não fez para o Sampa Crew. Fizemos ela para o Leandro e Leonardo.

Rosana Jatobá – E eles não gravaram?

J.C. Sampa – Não, a gente vive no meio artístico, mas não tem acesso a eles

Rosana Jatobá – Às grandes estrelas?

J.C. Sampa – Não tinha esse acesso de chegar e mostrar uma música. É sempre aquela coisa de passagem, show de rádio, algum show que tivesse todo mundo junto. Mas não de parar para conversar e eles tinham gravado uma música chamada “Horizonte Azul” aonde o Leandro cantava o rap da música. E numa entrevista em uma rádio ele falou que pra fazer aquele rap ele ouviu muito Sampa Crew, pra poder pegar o jeito de cantar aquele rap. Ficou muito legal aquela música, inclusive a música é da dupla que cantou com a gente, Lucas e Luan. Eles regravaram essa música “Horizonte Azul”.

Rosana Jatobá – Você lembra um pedacinho dela aí?

J.C. Sampa – Eu não lembro agora muito bem a música, mas fez sucesso a música com eles. Aí eu falei: “Pô, vou fazer uma música pra eles então”, aí eu fiz, mas eu não consegui levar pra eles de jeito nenhum.

Rosana Jatobá – Muitos obstáculos pra chegar lá?

J.C. Sampa – É assim, todo mundo que pega a música eu encontrei dois, pelo menos, que queriam a música, mas eles queriam entrar como autor pra levar a música. Eu escrevo a obra, faço tudo, entrego e só porque ele vai levar a música, ele quer entrar como autor da música? Imagina Leandro e Leonardo grava uma música do Sampa Crew, eles estavam estourados, imagina o que dá de direitos autorais, né! E eu nem pensava tanto nisso porque eu nunca fui um cara de ficar correndo atrás disso. Mas eu falei não, aí deixei, não tinha acesso. Aí o CD da gente pronto, um CD de 2002, a música já estava pronta há três anos, a música ficou engavetada. Aí no último momento faltava uma música, aí eu pensei nessa música e o pessoal do grupo falou: “Não, vamos fazer”. Aí eu falei: “Olha, ela é meio sertaneja”. Aí colocamos no CD e a música virou assim um sucesso estrondoso, uma coisa fabulosa pra gente, um momento mágico.

Rosana Jatobá – Depois disso você agradeceu a Deus por não ter conseguido contactar os meninos.

J.C. Sampa – Foi muito bom. O disco, na verdade, foi um disco de muito sucesso, chama-se “A noite cai”, tem uma música que é uma versão do Nobody, que virou um grande sucesso que chama-se “Ninguém”. Já tinha outros sucessos, mas esse aí se tornou um símbolo para o Sampa Crew, tanto que nos shows ela é sempre a última música. Nós fomos para primeiro lugar rápido com a música e pra nós foi fabuloso.

Rosana Jatobá – Você chegou a contar essa história?

J.C. Sampa – Eu não encontrei com ele ainda, nunca.

Rosana Jatobá – Ah, então se ele tá ouvindo a gente aí deve pensar: “Meu Deus, por que vocês não venderam pra gente”?

J.C. Sampa – Assim como não encontrei a Angélica também, porque a Angélica gravou uma música do Sampa Crew que chama “Eu amo você”, que é uma música minha. Ela chegou a gravar.

Rosana Jatobá – Ah, é? Como é essa música?

J.C. Sampa – Ah, a música fala “Os dias se passam, não sou mais o mesmo, sei que me agrada”. Ela vai no rap mesmo. Ela gravou essa música também sem saber da história da música, que eu havia feito pra ela gravar.

Rosana Jatobá – Como é que é essa história?

J.C. Sampa – Eu escrevi um poema pra uma namorada, eu morei na Avenida Paulista 12 anos, Baronesa de Arari e foi lá que nasceu o Sampa Crew inclusive, na Avenida Paulista. Eu fiz uma música, eu tinha uma namorada, eu escrevi algumas letras e ela falava “Você não quer fazer uma música pra mim?”, aí falei “Vou fazer”. Aí comecei a escrever e escrevi a letra do “Eterno Amor” inteira e entreguei pra ela, ela guardou como poema.

Rosana Jatobá – Você foi apaixonado por ela?

J.C. Sampa – Ah, eu era apaixonadinho, aquelas paixões, gostava, né.

Rosana Jatobá – Ele não pode falar hoje em dia sobre esse amor grandioso.

J.C. Sampa – Posso, até porque sou solteiro, não tem problema nenhum.

Rosana Jatobá – Uau, alô meninas, o J.C. do Sampa Crew tá solteiro (risos).

J.C. Sampa – Sabe o que acontece? Eu acabei fazendo a música pra ela, a letra e depois eu pensei: “Caramba, a letra é legal, vou colocar num rap” e aí a gente fez a música, mas eu queria entregar pra Angélica, ela tava estourada com o “Vou de táxi”. E eu sempre tive um carinho oculto por ela.

Rosana Jatobá – Você sabe que no “Vou de táxi” eu estava apaixonada por um rapaz chamado Bernardo.

J.C. Sampa – Ah, é? Olha que beleza!

Rosana Jatobá – É, eu não me casei com ele, mas me casei com outro que se chama Frederico Bernardo.

J.C. Sampa – Não deixou de ser um Bernardo.

Rosana Jatobá – Interessante essas ligações do universo.

J.C. Sampa – Bom demais, isso é bom. Você sabe que isso dá música, né? E o que acontece é que eu fiz a música e eu queria levar pra ela porque eu achava que ia ser fácil o meu acesso a ela porque no primeiro show da Angélica, da carreira dela, não sei se ela vai lembrar e confirmar isso. Mas foi o primeiro show dela porque ela mesma falou isso pra mim. Quando ela tinha 13 anos numa cidade chamada Acém, uma cidade no interior do Paraná, nós fomos de ônibus, inclusive ela junto. Ela tinha um cara que era o empresário dela e eu fui como sonoplasta, porque eu trabalhei num karaokê no Bixiga e eu era sonoplasta do karaokê e me chamaram pra ir lá soltar a música. Ela cantava música do Trem da Alegria, ela não cantava música dela ainda. Ela ia estrear dali a uma semana na Rede Manchete, extinta Rede Manchete, com um programa substituindo a Lucinha Lins, que havia substituído a Xuxa.

Rosana Jatobá – Gente, revelações dos bastidores da Angélica!

J.C. Sampa – E aí eu nem sabia, a Angélica não era conhecida. Aí ela foi fazer aquele show em Acém e eu fui como sonoplasta. Foi muito legal, a gente mesmo encheu o balão, colocou lá com o pai e a mãe dela, e eu tava lá. E aí eu conversei com ela, na volta ela tava um pouco triste porque no show o pessoal falava o nome da Xuxa. A Angélica não era a Angélica que é hoje, grande Angélica, artista maravilhosa, grande comunicadora.

Rosana Jatobá – Treze anos de idade, tava começando.

J.C. Sampa – Ela não tinha nem começado na TV ainda. Aí eu lembro que eu falei pra ela: “Você vai estrear agora num programa onde justamente a Xuxa começou como apresentadora infantil. E você vai ser um sucesso como é ela”. Eu adoro a Xuxa também.

Rosana Jatobá – Tá vendo? Profetizou o sucesso da Angélica.

J.C. Sampa – Eu falei pra ela: “Não fica triste não que você vai ver só”. Aí eu pensei ela vai lembrar de mim, eu vou chegar com a música e ela vai gravar a minha música. Não consegui nem ter acesso. Ela fez um show aqui na Barra Funda, em uma casa de espetáculos que não existe mais, e aí eu cheguei lá e o segurança não me deixou entrar. Eu tava simples, eu morava aqui na Paulista, eu cheguei simples lá achando que eu ia falar “Fala pra ela que eu fui sonoplasta dela”. Já tinha o Sampa Crew, isso foi em 89.

Rosana Jatobá – Nessa hora aparecem mil sonoplastas também.

J.C. Sampa – Aparece tudo. Eu cheguei lá e o segurança: “Não, você não vai entrar”. Eu tava de chinelo, não tinha uma noção. E aí não fui recebido. Passou o tempo e aí a gente foi gravou a música, um ano depois a música se tornou um sucesso. Na verdade ela se tornou um sucesso primeiro nos bailes de São Paulo, aí no remix da música, que foi o que se tornou um grande sucesso realmente, aí eu convidei o Ricardo Anthony pra cantar o refrão. No refrão da música original quem canta o refrão sou eu e é horroroso, mesmo assim ainda tocou nos bailes.

Rosana Jatobá – Você é bom pra declamar.

J.C. Sampa – É, não tinha cantor o grupo, era eu e mais um. E esse cara ele virou hare krishna e deixou o Sampa Crew.

Rosana Jatobá – Meu Deus, foi se dedicar à elevação espiritual!

J.C. Sampa – É, foi ser hare krishna e ele era o cantor do grupo e a gente cantava em estúdio já e eu falei “Não tem ninguém, vai eu mesmo”. Aí cantei eu, ficou horrível, mas tocou nos bailes de São Paulo. Aí o Carlinhos teve a ideia de fazer o remix dela, aí eu falei “Agora eu vou chamar um cara que eu sei que tem uma voz aguda muito boa”. Eu já tinha ouvido algumas coisas dele, que era o Ricardo Anthony, que tinha um trabalho já voltado para um lance mais solo e ele participou da música. Veio como participação, depois passou a integrar o grupo e a música se tornou um grande sucesso que foi. Originalmente ela gravaria a mesma música, a mesma letra, o mesmo refrão, seria a mesma coisa.

Rosana Jatobá – Mas eu acho que o Anthony deu um tom especial, essa coisa aguda.

J.C. Sampa – A Angélica era porque eu tinha uma admiração, eu tinha falado com ela.

Rosana Jatobá – Que bom que o segurança não deixou você entrar no show!

J.C. Sampa – Aí eu desisti de fazer música para os outros. De vez em quando tem um grupo de forró que regrava as nossas músicas, aí pega depois que a música já tá fazendo sucesso. O Aviões já gravou em forró, o Calcinha Preta regravou.

Rosana Jatobá – Essa mesma música em vários estilos?

J.C. Sampa – Não, não essa. Essa o Calcinha Preta regravou no estilo forró, ficou bem legal. Eles fizeram um pout pourry de Sampa Crew e a música virou um sucesso e o Calcinha Preta regravou uma. Os sertanejos estão sempre regravando nossas músicas. Mas eu falar assim “Eu vou fazer, eu vou te dar. Nunca mais”. Até porque é raro eu fazer uma música como compositor, melodia e letra, eu faço mais a letra.

Rosana Jatobá – “Reganejo” é o nome desse estilo então?

J.C. Sampa – É, “Reganejo” seria. Eles pegam a nossa música e transformam para sertanejo.

Rosana Jatobá – Mas vocês mesmo no palco não fazem isso?

J.C. Sampa – Fazemos.

Rosana Jatobá – Também?

Ricardo Anthony – Tem um momento no show que é a parte dançante, né. A parte dançante nossa o pessoal não costuma conhecer. Pra não dizer que não conhece, a gente gravou no DVD com a Sandra de Sá uma música que é o “Coisa de Novela”.

Rosana Jatobá – Então vamos lá, “Coisa de Novela” pra terminar esse bloco. Daqui a pouco a gente volta com mais Sampa Crew aqui no Conversa com a Jatobá.

4º bloco

Rosana Jatobá – De volta com o Conversa com a Jatobá, você está ouvindo aí a composição “Mesmo Assim” dos meninos do Sampa Crew. Essa música também estourou no Brasil inteiro, né.

J.C. Sampa – Foi sucesso. Ela é de um disco muito importante pra gente. Nós ficamos três anos na Sony e o pessoal falava que a gente era grupo de um sucesso só, desses grupos que faz um sucesso e já era. Até porque as gravadoras costumavam contratar você pra fazer três discos, fazia um, quando acabava já não fazia mais. E a Sony fez os três discos do Sampa Crew do contrato, foi uma gravadora maravilhosa para o Sampa Crew, divulgaram, difundiram o nosso trabalho. Hoje eu compreendo muito mais isso do que na época. Você sempre acha que tá ruim, eles estão te ajudando e você acha que tá sempre ruim. Na verdade você não pára pra ver o lado positivo das coisas. Hoje eu páro pra pensar e tudo que eu tinha até de ingratidão eu peço desculpa porque a Sony foi muito importante para o Sampa Crew. É difícil o artista hoje em dia elogiar uma gravadora, a gente só tem elogios a fazer. Ainda mais entendendo o mercado como funciona hoje, aí a gente consegue compreender melhor como eles foram importantes pra gente.

Rosana Jatobá – É, eu acho que é importante fazer essa reflexão, olhar pra trás, refletir e o que você tá dizendo se reflete aqui nessas 33 músicas do DVD do Sampa Crew e mais dois volumes dos eternos sucessos do Sampa Crew. Num deles tem uma composição que foi gravada pela Dani Voguel, que trabalhou no Sampa Crew, foi uma das vocalistas durante oito anos.

J.C. Sampa – É, ela ficou oito anos com o Sampa Crew. Como integrante mesmo, aí já em capa, foram dois discos. A Dani Voguel foi muito importante, eu conheci a Dani muito antes e quando eu conheci a Dani ela fazia dupla com uma garota que chama Vicky. Eu já tinha visto o show, tinha gostado muito das duas cantando inclusive. Acabei fazendo mais amizade com a Dani mesmo, foi uma grande amiga, casou com o meu irmão. Agora quando ela veio a óbito infelizmente ela estava casada com o meu irmão. E ela largou o grupo porque meu irmão é evangélico, ela conheceu o meu irmão, se apaixonou, ela já tinha o evangelismo, mas ela não era aquela pessoa que seguia, né.

Rosana Jatobá – Aí ela deixou o Sampa Crew pra se dedicar à música gospel

J.C. Sampa – Ao casamento e à música gospel. E aí a leucemia a levou. É até bom falar com você.

Rosana Jatobá – Acho que existe aí uma polêmica, não se sabe exatamente a causa da morte.

J.C. Sampa – Não se sabe exatamente a causa da morte e aí se começou a falar em HIV. Veja bem, eu não entro no mérito, mas eu sei de uma coisa. Aí começaram a falar que meu irmão teria passado HIV pra ela.

Rosana Jatobá – Aí vai a fofoca, um negócio sem limite.

J.C. Sampa – Só que meu irmão, aí que está a questão, com relação a isso já tava tranquilo, inclusive com relação a ela, que não poderia ser isso. Porque ela, como ele, eram doadores de sangue, porque é uma coisa que a igreja deles têm lá em Salvador. E meu irmão é doador.

Rosana Jatobá – Como um projeto de voluntariado, né?

J.C. Sampa – Um projeto de voluntariado e meu irmão havia feito oito meses antes do falecimento dela o exame, que eles sempre são obrigados a fazer, de HIV, de hepatite, fazia de tudo e já tinha dado negativo. Isso quando nem existia rumor sobre esse tipo de coisa. E justamente dois dias antes dela falecer, ele havia feito porque ele já ia doar novamente oito meses depois e tá negativo. Ele conviveu com a Dani durante cinco anos, ele teria pego já. Se ele tivesse pego Aids teria passado pra ela.

Rosana Jatobá – Então esses rumores de que ela teria pego Aids não procede?

J.C. Sampa – Não procede. Inclusive eu fiz questão, só que eu não trouxe hoje, de pedir para ele me mandar uma cópia. Claro que a gente tá conversando de boa, mas tem locais que as pessoas querem perguntar e eu ia mostrar, meu irmão não é HIV positivo, ele é totalmente negativo e ele é doador de sangue. Aí começaram a falar que meu irmão teria passado HIV pra ela. Primeiro lugar, se ele tivesse passado, ele teria que ter morrido antes pela lógica. Na verdade quando aconteceu o fato do falecimento da Dani foi muito triste porque nós éramos muito amigos, principalmente eu.

Rosana Jatobá – Esse é o meu ponto. Eu toquei no nome dela pra saber como é que o Sampa Crew lidou com essa questão na época. Ela já havia saído do grupo, então não representou um abalo para o grupo em si, em termos musicais, na imagem do grupo.

Ricardo Anthony – Foi mais como você falou, a amizade, né. Tanto que a gente procurou não se pronunciar sobre o assunto, na forma de preservar e respeitar isso. Foi assim até porque uma parte da imprensa nos procurou e coincidiu de ser na semana de lançamento do álbum novo. Então na internet de uma hora pra outra o assunto mudou. A gente preferiu não pegar esse espaço.

J.C. Sampa – A gente resolveu lançar o álbum, como surpresa deixamos pra download gratuito, então foi aquela procura enorme. No dia seguinte aconteceu o falecimento da Dani.

Ricardo Anthony – E a gente não queria usar o espaço que eles estavam querendo nos dar pra aparecer, nem pra comentar nada.

Rosana Jatobá – Eu acho que foi muito ético da parte de vocês não aproveitar a questão da tragédia familiar pra vender disco.

J.C. Sampa – Não fizemos, não atendemos a nenhuma equipe, todas nos procuraram. Engraçado que nenhuma procura como você fez, sua equipe maravilhosa aqui na Globo fez, pra falar do nosso trabalho, o assunto entra no meio. Mas na época não, todo mundo que nunca procura o Sampa Crew, que não quer saber nem onde que anda, começaram a procurar. Aí a gente se isolou totalmente, nos blindamos de não tocar no assunto porque o nosso carinho e respeito por ela era muito grande. Ela não fazia mais parte do grupo, mas era uma pessoa muito querida por nós, músicas que ela fez viraram grandes sucessos. Ela participa de um dos DVDs, não participou desse último porque ela não quis mesmo, ela foi convidada.

Rosana Jatobá – Mas eu tô vendo que aqui nos CDs tem a música com a participação dela que é “Distância”.

J.C. Sampa – “Distância” é uma delas, tem também “Meus sonhos” que ela também canta, “Deixa eu ser seu anjo”.

Rosana Jatobá – Qual é a melhor pra gente tocar um pedacinho aqui?

J.C. Sampa – Eu acho que é a música que mais marcou a Dani no Sampa Crew sem dúvida nenhuma foi o “Distância”, porque foi um sucesso nacional, foi um trabalho divulgado.

Rosana Jatobá – Então vamos fazer essa homenagem para a Dani com um pouquinho de “Distância” ?

Ricardo Anthony – Claro.

Rosana Jatobá – Vamos lá. Eu acho que eu poderia inspirar vocês, o Sampa Crew, porque essa música “Distância” que também fala do amor à distância, eu já vivi na minha vida. E olha, não dá certo, é difícil (risos).

J.C. Sampa – Meu irmão também compõe e nesse CD recente que uma música que chama “Quem disse” que ele fala disso. Eles estavam ela morando aqui e ele casado com ela morando em Salvador porque ele é sargento da Aeronáutica. Essa música se chama “Quem disse” e ele fez a música em Ricardo Salvador que era uma mensagem pra ela, isso muito antes dela falecer. A música deve estourar com certeza, a música é linda e também fala desse lance do amor que não precisa tá junto pra sentir.

Rosana Jatobá – Essa música não foi lançada ainda?

J.C. Sampa – Não, ela tá nesse disco para download.

Rosana Jatobá – Ah, “Quem disse”, então é uma dica para os nossos ouvintes ouvir também a música “Quem disse”.

Ricardo Anthony – Pensando num gancho até para o tema da sustentabilidade também, no DVD tem uma música que se chama “Aonde você vai estar daqui a 10 anos”. É uma música que generaliza muito isso, tanto o que você vai estar fazendo, como vai estar o mundo daqui a 10 anos.

Rosana Jatobá – É uma espécie de alerta?

J.C. Sampa – É. O que você tá fazendo hoje vai ser tão importante?.

Ricardo Anthony – Aonde você vai estar daqui a 10 anos?

Rosana Jatobá – E vocês agora, vamos levar para o lado pessoal, o que vocês fazem pra dar uma parcela de contribuição nesse sentido?

J.C. Sampa – Eu acho que com a idade, eu que já tô aí nos 4.7, você aprende uma coisa que tudo que você faz agora vai de alguma forma interferir no amanhã. Então a gente toma muito mais cuidado quando você fica mais adulto. Quando você é mais jovem você tem aquele espírito aventureiro. Quando você fica mais velho você vê que você fazia as coisas sem pensar.

Rosana Jatobá – Sem pensar, de forma irresponsável, né?

J.C. Sampa – É, eu acho que tem uma fase de cada um ser assim.

Rosana Jatobá – Mas o que você faz no dia a dia, vamos falar para os nossos ouvintes, dando as dicas.

J.C. Sampa – Em primeiro lugar a minha alimentação, eu não tomo refrigerante. Agora não vou dizer que quando eu saio eu sou totalmente carente de não beber, bebo alguma coisa.

Rosana Jatobá – Bebida alcóolica você tá falando?

J.C. Sampa – Não sou um cara de fico bêbado, mas eu não sou um cara que não bebe nada, isso não existe.

Rosana Jatobá – Mas você bebe o que? Vinho, uma cervejinha, um whiskynho?

J.C. Sampa – Vinho só se for aqueles baratos e champanhe aquele negócio de Chandon não existe, tem que ser aquele da maçã. Essas coisas não saem da gente.

Rosana Jatobá – Entendi, é o gosto da infância, da infância não, porque ninguém bebe na infância, mas o gosto ancestral.

J.C. Sampa – Mas é, aquela coisa de Natal. Eu gosto de beber uísque com energético, gosto de beber com refrigerante, mas isso é dentro da balada pra me divertir. Geralmente eu vou de táxi e volto de táxi, nunca vou de carro pra balada.

Rosana Jatobá – É importante alertar contra isso, né!

J.C. Sampa – Eu nunca vou de carro pra balada, eu já vou de táxi e volto de táxi, eu tenho até o taxista. A primeira coisa é isso, mas isso é raro, quando eu saio.

Rosana Jatobá – E em casa, economia de água, de energia?

J.C. Sampa – As luzes todas são essas brancas, hoje em dia tem as lâmpadas fluorescentes que economia bastante. A água a gente usa realmente da maneira que tem que ser usada, da maneira certa, reduzida.

Rosana Jatobá – Mas você tem aquela preocupação, por exemplo, vai fazer a barba, escovar os dentes, lavar as mãos, você abre a torneira, ensaboa e fecha a torneira?

J.C. Sampa – É uma coisa que a gente tem que se reeducar, mas eu tô sempre me vigiando e a minha filha é uma das que mais pega no meu pé. Principalmente quando eu vou fazer barba e ela diz: “Pai, a torneira tá aberta”. De longe, então eu já aprendi.

Rosana Jatobá – E você, Ricardo?

Ricardo Anthony – As filhas são as melhores pra isso, não tem jeito. Mas eu acho que no dia a dia é um pouco de tudo, é um pouco desse cuidado do lixo, onde você vai colocar, qual sacola você separa e é o lance da mente, de você pensar positivo e ler sobre o assunto e praticar no seu dia a dia. O lance da alimentação é uma coisa que pra mim pega muito.

Rosana Jatobá – Mais qualidade de vida, né?

Ricardo Anthony – Qualidade de vida. Ainda mais a gente que viaja, a minha esposa viaja muito porque ela é comissária, então não fica ninguém em casa fazendo comida toda hora. Então você tem que se virar e tem que saber se virar certo, as crianças dependem disso também. É saber o que você vai dar na hora certa para as crianças.

Rosana Jatobá – É. Hoje a gente tem um índice terrível de crianças obesas no Brasil.

Ricardo Anthony – E elas acabam se intoxicando.

J.C. Sampa – Eu não sei nem se é bom ou não, mas em casa o açúcar é 80% light.

Rosana Jatobá – Você usa pouco açúcar

J.C. Sampa – Eu uso pouco açúcar e ainda uso light. Eu não uso adoçante, eu uso aquele açúcar que é light mesmo, ele é 80%.

Rosana Jatobá – Mas você tá falando do mascavo, aquele escuro?

J.C. Sampa – Não, não, o açúcar mesmo normal. Mas diz que ele é 80% menos calórico.

Rosana Jatobá – Mas de qualquer forma o industrializado é processado. Se for usar açúcar, a dica aqui do Conversa com a Jatobá, é o mascavo ou então adoçar com mel.

J.C. Sampa – Vou começar a ver isso aí, porque eu me cuido muito nesse sentido, de praticar academia, pra praticar esporte não é questão de academia, em casa mesmo você consegue fazer muita coisa.

Rosana Jatobá – Agora em termos de responsabilidade social, fazer alguma coisa que reverta positivamente para a comunidade, vocês fazem shows beneficentes, né?

J.C. Sampa – Fazemos, principalmente em hospitais. Agora dia 20 estaremos no Hospital das Clínicas, aqui em São Paulo. Mais uma vez fazendo show beneficente lá. Quando a gente fala beneficente é todo mundo, os músicos vão, o dono do transporte que faz o transporte pra gente também manda o carro gratuitamente, vai todo mundo.

Ricardo Anthony – E o mais legal disso é que a gente encontrou outro dia num show uma menina que chegou até a gente, a gente estava na baixada e ela falou: “Eu estava no Hospital das Clínicas no ano passado. Vocês foram fazer um show lá e deu levantei do quarto aonde eu tava com o soro pendurado e fui até a janela na escada pra poder ouvir vocês e ver”. Então assim, de uma certa forma a nossa música entra nas pessoas e a gente quer mesmo que isso aconteça de uma forma positiva, seja fazendo ela sonhar, recordar de alguma coisa boa. É uma forma sutil, mas que faz uma diferença num momento da pessoa.

J.C. Sampa – Fazer show em hospital, como a gente fez na Santa Casa, tenho uma gratidão enorme com a equipe médica de lá. Hoje a Santa Casa não tá não boa como ela era em 2005. Meu irmão teve leucemia, eu fui doador da medula, é uma coisa que eu incentivo sempre. Na fanpage da gente oficial eu tô sempre colocando “Doe medula”. As pessoas imaginam que vão perder um órgão, elas não entendem que a medula é uma parte do sangue, uma célula do sangue diferenciada, que ela é tirada de uma forma especial. Eu doei medula e meu irmão sobreviveu.

Rosana Jatobá – Que maravilha!

J.C. Sampa – Graças a Deus ele tá bem, trabalha com a gente inclusive. Desde 2005 está curado, foi o ano que o São Paulo foi campeão da Libertadores. Então a gente incentiva esse tipo de coisa também. Eu sou doador de órgãos.

Rosana Jatobá – Agora quem dizer fazer um show, qual é o contato? Vamos falar aqui para os nossos ouvintes, para os empresários!

Ricardo Anthony – Tá tudo centralizado no site, é mais fácil.

J.C. Sampa – Se você perguntar o número pra mim eu não sei, sabia?

Rosana Jatobá – Então vamos dar o site novamente!

J.C. Sampa – www.sampacrew.com.br, lá você baixa o CD do Sampa Crew, vê agenda e ainda contrata o show.

Rosana Jatobá – Muito bem. Crew é uma palavra inglesa.

J.C. Sampa – Na época do hip hop tudo era crew, todo mundo tinha a sua crew, de dança, ou seja do que fosse. Aí ficou Crew porque era Sampa, homenagem a São Paulo, eu que não sou paulista, mas sou conhecido como Sampa, sou pernambucano de Recife. Mas fui tão bem acolhido como todo o Brasil.

Rosana Jatobá – Eu também, sou de Salvador.

J.C. Sampa – Fui tão bem acolhido, então foi uma homenagem pra São Paulo e o Crew é tripulação de São Paulo e ficou assim.

Rosana Jatobá – É isso aí, então pra terminar o nosso Conversa com a Jatobá, eu quero que vocês escolham uma música, vamos dedicar aos nossos ouvintes que estão aqui sintonizados na Rádio Globo.

Ricardo Anthony – Pode ser “Daqui a 10 anos”, por exemplo.

Rosana Jatobá – Essa música é muito apropriada porque é um alerta e faz a gente refletir sobre o nosso comportamento hoje.

J.C. Sampa – Isso.

Rosana Jatobá – Então vamos lá! Eu quero deixar um beijo pra vocês e dizer que tô muito honrada de recebê-los aqui. Adorei a conversa, vocês além de muito bem apessoados, as meninas vão poder conferir lá no nosso site os gatinhos do Sampa Crew, vocês são muito inteligentes e engajados, parabéns!

J.C. Sampa – Obrigada. É a gente que agradece porque eu e o Ricardo temos admiração por você, uma grande jornalista, a gente acompanha a seriedade da maneira que você passa a notícia, a gente é fã mesmo. Pra nós é uma honra muito estar aqui conversando com você.

Rosana Jatobá – Obrigada.

Ricardo Anthony – Parabéns pelo livro, inclusive.

Rosana Jatobá – Isso, o livro “Questão de Pele” tá em todas as livrarias. Obrigada aí pelo gancho pra poder divulgar o livro.

J.C. Sampa – Então muito obrigado, obrigado a toda sua equipe que nos recebeu tão bem, desde a entrada aqui da Rádio Globo, até aqui com você.

Rosana Jatobá – É isso aí. Você que tá ouvindo o Conversa com a Jatobá, semana que vem tem mais! Um beijo grande e até lá pessoal!

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