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Conversa com a Jatobá recebe Demônios da Garoa

por Universo Jatoba

1º bloco

Rosana Jatobá – Oi pessoal, boa tarde! Começa agora mais um Conversa com a Jatobá, vocês estão ouvindo “Tiro ao Álvaro” .Eu tenho a honra de receber hoje aqui o lendário grupo Demônios da Garoa. Eu acompanho a carreira de vocês desde pequenininha porque são 70 anos. Inclusive o Demônios da Garoa é o grupo musical em atividade mais antigo do país, vocês fazem parte inclusive do Guiness Book, o livro dos recordes. Setenta anos, claro que agora uma outra formação, o grupo passou por muitas mudanças. Mas a primeira pergunta que eu quero fazer pra vocês, qual é o segredo pra vocês se manterem assim, um grupo de sucesso durante 7 décadas e o mais importante, mantendo o estilo original, sem se descaracterizar?

Sérgio Rosa – É assim, a base do seu programa. O Demônios da Garoa se recicla, a reciclagem, a substituição dos componentes já que infelizmente o tempo é implacável, a idade é implacável, mas é isso. É manter aquela característica, fazer tudo aquilo que a gente gosta e esperamos aí com meu filho Ricardinho aqui a terceira geração do Demônios da Garoa, que o Demônios da Garoa possa ser o grupo vocal mais antigo do mundo com um século de existência, com certeza ele vai chegar lá.

Rosana Jatobá – Amém. Olha, eu quero apresentar pra vocês então Ricardinho, que é o neto do fundador Arnaldo Rosa, que tá aqui no pandeiro. Boa tarde, Ricardinho!

Ricardinho – Boa tarde, Rosana. É um prazer estarmos aqui pra falar um pouquinho da nossa trajetória.

Rosana Jatobá – Temos também o Canhotinho no cavaquinho.

Canhotinho – Oi, Rosana. Boa tarde!

Rosana Jatobá – Muito obrigada por ter vindo.

Canhotinho – A gente tava com saudade, viu.

Rosana Jatobá – Ah, tá vendo, matando a saudade hoje. Izael na timba.

Izael – Fala, Rosana. Tudo bem? Estamos aí, estamos levando essa bandeira aí com força, com o coração, com a alma sempre ativa e então Demônios da Garoa com certeza como o Sérgio falou, vai chegar a 100 anos.

Rosana Jatobá – É isso mesmo. Serginho no afoxé.

Sérginho – É isso aí, estamos aí.

Rosana Jatobá – E o Dedé Paraiso no violão de 7 cordas.

Dedé Paraizo – É isso aí, Rosana. É um prazer tá aqui.

Rosana Jatobá – O prazer é nosso, muito obrigada. Gente, vocês são os Demônios da Garoa, esse nome é muito representativo de São Paulo porque vocês testemunharam uma época em que a garoa vinha todos os dias pra cidade. Hoje ela não existe mais. Vocês vão mudar o nome agora pra Demônios da Seca, por exemplo? (risos)

Sérgio Rosa – Nós estamos querendo é combater tudo isso.

Rosana Jatobá – Que volte aquela garoa fina todos os dias!

Sérgio Rosa – Aí a gente vai ter que fazer um reflorestamento total na cidade porque a cidade perdeu aquela garoinha, aquele glamour da garoa, da tão famosa neblina, aquela serração. Mas um dia se Deus quiser a gente ainda vai conseguir fazer um reflorestamento na cidade de São Paulo e vamos conseguir respirar um pouquinho melhor.

Rosana Jatobá – Vocês acham que isso é realmente possível? Olhando hoje em dia pra esse cenário que a gente tem em São Paulo, um mar de concreto, muita poluição, falta de educação do povo que muitas vezes não tem conscientização ambiental pra perceber, por exemplo, que não pode jogar lixo na rua, que o lixo pode ser reciclado. Enfim, vocês são otimistas? Será que dá pra ver São Paulo  reflorestada?

Canhotinho – Eu acho que sim, Rosana. Conscientização geral, né, tanto dos governantes, quanto do povo também ajudando, reciclando, deixando a cidade limpa, não jogando sujeira na rua, essas coisas.

Rosana Jatobá – E vocês acreditam que as pessoas que tem influência junto ao povo, os nossos ídolos, eles tem que dedicar um pouco desse talento pra tentar motivar as pessoas nesse sentido?

Sérgio Rosa – Eu acredito que sim, mas infelizmente o que acontece não depende só da população, porque mesmo que a população tenha aquela vontade, tenha aquele espírito de querer fazer com que São Paulo respire melhor ou que seja uma cidade melhor, a gente depende muito dos nossos governantes. Não adianta você querer se aqueles que têm o poder na mão, não vão executar aquilo que você quer, aquilo que a população deseja. Então, esse crescimento desenfreado de São Paulo, vamos colocar assim cada grande construção que se faz em São Paulo, teria que ter uma lei, deveria ser feito uma grande laje pra que naquela área de 200, 300 metros quadrados deveria ser obrigado ter um espaço pra que se plantasse 10, 15 árvores em cima de cada prédio. Vamos fazer dos prédios, a raiz das árvores.

Rosana Jatobá – Eu acho muito interessante realmente.

Canhotinho – Eu moro atrás da Berrini, atrás da Globo, da TV, quando eu mudei pra lá, eu moro lá já há 5 anos. Quando eu mudei pra lá tinha muita árvore, então eu percebi que o tempo vai passando e as árvores vão sumindo.

Rosana Jatobá – Desmatamento. Você acha que faltam políticas públicas de preservação do verde na cidade?

Canhotinho – Isso, exatamente, é exatamente isso que falta, um controle mesmo.

Rosana Jatobá – E é muito triste a gente ver uma cidade assim sendo destruída, em um dia sobe prédio, no outro dia uma ponte, mais e mais concreto e o verde, que é a base de tudo, sendo destruído.

Dedé Paraizo – É necessário que cresça, mas não assim desse jeito, sem um controle, sem nada.

Rosana Jatobá – Eu concordo com vocês que o poder público precisa de fato ser mais efetivo, mais eficiente no combate à isso, estimulando a nossa cidade a ter uma atitude mais severa com quem desmata. No próximo bloco eu quero saber que atitudes vocês têm no dia a dia, na vida pessoal, sobre redução de impacto ambiental, preservação da natureza e inclusão social. Mas agora, já no finalzinho do primeiro bloco, eu queria mostrar pra vocês o novo trabalho do Demônios da Garoa, é o CD e DVD “Vem cantar comigo”, que tem vários sucessos desses 70 anos de carreira e tem também algumas músicas inéditas. Uma delas se chama “Rotina”, que é a faixa de número 5 aqui do nosso DVD, que eu quero pedir para os nossos meninos Demônios da Garoa executarem nesse momento.

2º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com a Conversa com a Jatobá, hoje tenho o prazer de receber aqui no nosso programa os Demônios da Garoa. Os meninos estão lançando um CD e DVD novo “Vem Cantar Comigo”.  E “Saudosa Maloca” é claro um dos grandes sucessos desse grupo . Linda música. Marca registrada do Demônios da Garoa é cantar de forma bem humorada o cotidiano do paulistano. Dessa maneira mesmo cantando as desgraças do povo, sem perder o bom humor. Esse é o segredo pra viver tanto tempo?

Sérgio Rosa – Eu acho que sim, né. A gente teve a felicidade de termos o Adoniran Barbosa como o cronista da cidade de São Paulo, aquele de qualquer evento que acontecia, de um tropeção de uma pessoa que ele via no meio da rua, ele transformava, fazia a letra, ele transformava em música. E graças a Deus deu certo, foi uma parceria que durou bastante tempo e pra nós é uma satisfação muito grande podermos aí juntar, lincar a música com a alegria, com a brincadeira, com a própria desgraça que acontece. Então, é uma satisfação muito grande.

Rosana Jatobá – Isso começou em 1965, essa parceria com o Adoniran, não é isso?

Sérgio Rosa – 51.

Rosana Jatobá – 1951. Aliás o Demônios da Garoa nasceu não como Demônios da Garoa, como Grupo do Luar. Por que houve a mudança? Grupo do Luar é um nome lindo também.

Sérgio Rosa – o Demônios da Garoa participou de um programa de calouros na Rádio Bandeirantes em São Paulo e ganhou o primeiro lugar. E ganhou o direito de participar do programa do Vicente Leporace. E ele anunciava esses endiabrados Grupo do Luar, era tudo uma garotada mesmo e o próprio Vicente Leporace achou que Grupo do Luar naquela época era antiradiofônico, não ia dar certo. Aí foi feito um concurso pra que os ouvintes mandassem sugestões pra nome até que veio lá Demônios da Garoa e ele batizou como Demônios da Garoa.

Rosana Jatobá – Demônios da Garoa vamos combinar que é bem melhor, né. E aí vieram vários outros sucessos, “Saudade Maloca” é apenas um deles. Com esse sucessos do grupo vocês lotam os teatros, as praças, enfim, todos os auditórios, mas o que eu quero chamar a atenção é a importância que vocês dão aos shows beneficentes. Pelo menos cinco shows por ano vocês dedicam pra essas obras, pra essas pessoas arrecadarem dinheiro pra as entidades. Por que vocês escolheram ajudar dessa forma, emprestando o talento de vocês?

Sérgio Rosa – Porque a gente gosta de ganhar dobrado, nesses shows a gente recebe dobrado, sabia (risos)!

Rosana Jatobá – Claro, vem um benefício muito mais valioso que dinheiro, não é isso?

Sérgio Rosa – É porque nós temos uma meta durante o ano de pelo menos meia dúzia de shows beneficentes, não importa pra que associação, pra que entidade, eu sei que pra nós é um prazer muito grande. Uma das maiores emoções que o Demônios passou foi num show que nós fizemos pra AACD no Ibirapuera. Mas tinha um garoto lá…

Ricardinho – O Felipe, um menino muito especial, muito querido, inclusive um beijão pra ele, e ele cantou o repertório inteiro e ele vibrava assim e quando ele pedia aquelas músicas tradicionais que geralmente até fã de carteirinha do grupo é difícil de se pedir e ele pediu com aquele entusiasmo. Então, foi um momento que com certeza tocou fundo, né. Às vezes a gente não enxerga dessa forma, apesar de cada um aqui fazer o que ama de verdade, se dedicar à música, você não tem noção da onde chega atingir e você vê que chegou no coração de uma pessoa, de uma criança especial como essa e aquele momento de felicidade pra ela, então…

Rosana Jatobá – A recompensa vem em dobro.

Ricardinho – Isso.

Sérgio Rosa – Ele provou que é fã mesmo.

Rosana Jatobá – Porque o que a gente vê hoje são pessoas muito centradas em si próprias, né. Fazendo seu trabalho apenas pra ganhar seu dinheiro, manter sua família, mas muito pouco preocupada com a coletividade, com essas instituições que precisam do nosso apoio. Então, vocês poderiam fazer shows aí porque eu sei que a agenda de vocês continua cheia, mas que bom que vocês dedicam parte do seu tempo pra ajudar essas pessoas. Parabéns! Isso é extremamente sustentável. Vocês inclusive ajudam o Amigos do Bem, não é isso?

Sérgio Rosa – a gente separa tudo que é reciclável e lá Amigos do Bem eles têm um setor em que eles recolhem tudo que é reciclável, livros, tudo que você possa reaproveitar. Então a gente leva, a gente faz essa doação e eles convertem isso aí em alimento. O Demônios da Garoa faz uma doação anual de 1 tonelada e 200 quilos de alimento todo ano.

Rosana Jatobá – Que maravilha!

Sérgio Rosa – Todo ano pra diversas instituições, no final do ano.

Rosana Jatobá – Pra várias instituições diferentes?

Sérgio Rosa – Pra várias instituições. Inclusive para o grande amigo do Demônios da Garoa, o Padre Antônio Maria. Ele tem umas crianças lá no orfanato.

Rosana Jatobá – Ele chama vocês de Anjos da Garoa? ( risos )

Sérgio Rosa – Ele nos chama de Anjos da Garoa.

Rosana Jatobá – Que bom, que legal, a gente realmente se sente gratificado. Qual música a gente vai executar agora?

Demônios da Garoa – “Samba do Arnesto”.

3º bloco

Rosana Jatobá – Conversa com a Jatobá tá de volta com os Demônios da Garoa, eu quero perguntar para os meninos que língua que é essa: “lâmpida”, “nóis aqui traveis”, “as mariposa”? É engraçado isso, acho que o público mais jovem adora falar errado, né.

Ricardinho – Inclusive isso se tornou tema universitário, Rosana. Os erros propositais porque até então esse foi um estilo criado pelo Demônios da Garoa na época pelo meu avô . o “Saudosa Maloca” quando o Adoniran trouxe para o Demônios era uma letra com português correto e numa brincadeira entre eles, eles começaram a cantar brincando da maneira que é hoje “nós vortemos”. Inclusive quando o Adoniran ouviu pela primeira vez ele disse: Pô, eles estragaram a minha música. E conforme ele viu que caiu no agrado do povo , ele relaxou porque aquele linguajar era o linguajar do povo. Então o povo se identificava muito com a maneira de cantar, por isso que tornou-se também uma característica do Demônios da Garoa cantar com os erros de português, com os “nóis vai”, “nóis vortemos” .

Rosana Jatobá – Até hoje vocês usam isso?

Ricardinho – Até hoje, até nas inéditas a gente procura incluir, é uma marca.

Rosana Jatobá – Inclusive o meu marido que está nos ouvindo, o Fred, eu quero que vocês mandem um beijo pra ele. Ele adora cantar só pra ficar falando esses erros de português aí.

Ricardinho – Obrigado pelo carinho, Fred. A gente nunca deixa faltar os “s”, “nóis fumos”, “nóis vortemos”.

Rosana Jatobá – “Lâmpida” eu acho ótimo.

Canhotinho – Como o Sérgio fala, é o linguajar do povo.

Sérgio Rosa – É do povo simples. A gíria de hoje é “é nóis”, “é nóis aí na fita”.

Rosana Jatobá – Meninos, vocês no novo DVD “Vem Cantar Comigo” tem a participação de quatro intérpretes da música brasileira, grandes intérpretes, o Péricles com a música “Samba da Criança”, o Wando que nos deixou mas gravou com vocês o “Fogo e Paixão”, uma música linda, Dudu Nobre com a música “Zoião”, é uma música inédita e o Arnaldo Antunes, que gravou “Tiro ao Álvaro”. Eu acho muito interessante porque o Arnaldo Antunes pertence à uma outra tribo, embora seja paulista, canta São Paulo, canta nosso cotidiano, mas completamente diferente de vocês.

Sérgio Rosa – Ele mandou legal, ele absorveu essa característica do Demônios da Garoa e pra nós foi uma satisfaço muito grande. A princípio nós fomos convidados para participarmos do DVD dele “ Arnaldo Antunes lá em casa” e o Demônios da Garoa fez a abertura do DVD do Arnaldo Antunes e aí surgiu essa amizade grande aí e agora a gente “viremos parceiros”.

Rosana Jatobá – Vamos ouvir um pouquinho do Arnaldo Antunes executando “Tiro ao Álvaro”. Ele cantou sem a característica de vocês de errar tudo, ele cantou do jeitinho dele. Mas interessante que ele imprimiu um ritmo mais largadão. Vocês curtiram participar com ele, né? Deve ter sido incrível.

Ricardinho – Muito bom, ele participou com muito gosto e isso foi muito bom pra gente.

Rosana Jatobá – Demonstrou que é tiete do Demônios da Garoa. E como é que foi com os outros intérpretes que eu citei, o Péricles, o Dudu Nobre, o Wando na época?

Ricardinho – Foi tão legal quanto, porque esse aí é um projeto diferente de tudo que o Demônios da Garoa já gravou, foi um projeto intimista, um DVD intimista, fechado só pra convidados com o repertório escolhido a dedo. Então a gente teve toda essa preocupação e também a preocupação de trazer amigos, pessoas que a gente admira no meio do cenário musical e o Péricles é um irmãozão da gente, ex-Exaltasamba sempre defendendo a bandeira do samba também. Quando a gente convidou recebeu o convite, ficou feliz da vida, veio participou. O Wando também a mesma coisa, já é uma amizade de longas datas e inclusive pra gente é uma felicidade termos nesse DVD um dos últimos registros dele, né, e Demônios da Garoa cantando uma música dele. “Fogo e Paixão” é de sua autoria.

Rosana Jatobá – gravar com esses intérpretes deve ter sido uma experiência incrível pra vocês.

Ricardinho – Muito bom. E o Dudu que faltou citar, o Dudu Nobre. Ele é um representante do samba carioca e ele veio também feliz da vida e veio e deu um banho de interpretação.

Rosana Jatobá – Ah, eu quero ouvir um pedacinho então do Dudu Nobre “Zóião”. Meninos, vocês têm um caso de amor com o samba, o samba de raiz. Vocês já se aventuraram por outros estilos ao longo desses 70 anos aí?

Sérgio Rosa – Já, inclusive nós regravamos um rock.

Rosana Jatobá – Vocês, Demônios da Garoa, regravaram um rock?

Ricardinho – É uma singela homenagem que surgiu num show que teve uma vez Demônios da Garoa e Paralamas do Sucesso. Houve essa junção e cantamos o “Óculos” do Paralamas. E aí a gente viu aquilo como um desafio para o Demônios da Garoa e a gente trouxe para o estilo Demônios da Garoa, adaptamos os vocais, as introduções e colocamos no show, inclusive tá gravado nesse DVD também.

Rosana Jatobá – Também “Óculos” aqui em rock?

Ricardinho – Em samba, a gente trouxe para o samba, fez uma mesclagem.

Rosana Jatobá – Vamos ouvir um pouquinho “Óculos” do Paralamas do Sucesso na voz dos Demônios da Garoa. A gente tá ouvindo Demônios da Garoa executando “Óculos” do Paralamas do Sucesso. No próximo bloco tem mais, a gente volta pra falar sobre a trajetória de sucesso desse grupo que é a lenda viva de São Paulo. Até já!

4º bloco

Rosana Jatobá – O Conversa com a Jatobá recebe hoje Demônios da Garoa e essa música “Você abusou” é uma música antiga, foi gravada em 1900 e…

Sérgio Rosa – 70, né.

Rosana Jatobá – Mas foi regravada por vários intérpretes, inclusive o Stevie Wonder regravou essa música, foi um sucesso no Rock in Rio.

Ricardinho – Ele veio pra cá e cantou, o público foi à loucura quando ele mandou em português ainda o “Você abusou”. Foi um sucesso, né.

Rosana Jatobá – Tá no inconsciente coletivo do povo brasileiro essa música. Essa também eu cantei muito, todo mundo gosta dessa música. Como é que foi feita essa seleção do novo DVD de vocês “Vem dançar comigo”, porque são 24 composições, destas 4 interpretadas por outros cantores, outros compositores. Vocês decidiram fazer uma espécie de pout-pourri assim com os grandes sucessos do grupo?

Ricardinho – Não, então os clássicos são todos individuais, são as músicas sozinhas do Adoniran Barbosa, a gente regravou tudo, prestamos homenagem à outros poetas da Música Popular Brasileira também, que é no caso Noel Rosa, a gente fez um pout-pourri de sucessos de Noel Rosa, Ataúfo Alves a gente cantou também, Antônio Carlos e Jocafi, a gente presta essa homenagem. A gente canta também “Mulher Rendeira”, que foi o primeiro sucesso do Demônios da Garoa que foi trilha sonora do filme do cangaceiro.

Rosana Jatobá – É um DVD histórico onde vocês resgatam todas as influências dos Demônios da Garoa?

Sérgio Rosa – Exatamente. Os compositores são os grandes diamantes da Música Popular Brasileira, a gente faz aí Toquinho e Vinícius, então pra nós é uma satisfação muito grande. Dentro dos 70 anos do Demônios da Garoa, de toda essa trajetória, todo esse pessoal fez parte dessa trajetória do Demônios da Garoa. Então nada mais junto que podermos homenageá-los também.

Rosana Jatobá – Meu pai deve tá muito feliz ouvindo o programa porque eu cresci ouvindo Noel Rosa, Ataulfo Alves, esses grandes músicos. Então eu tô muito familiarizada com o som de vocês. O que a gente tá ouvindo agora, por exemplo, é “Mulher Rendeira”, que é do Demônios da Garoa, eu não sabia, isso é uma surpresa pra mim. Todo mundo pensa que é de outro compositor.

Sérgio Rosa – Adoniran era um personagem do filme “O Cangaceiro” e o Demônios da Garoa gravava a trilha sonora do filme “O Cangaceiro” naquela ocasião.

Rosana Jatobá – A beleza das letras, mas tem também uma preocupação muito grande de vocês com a música de qualidade, os arranjos. Eu vejo que vocês sempre imprimem muita riqueza musical, instrumental na música de vocês.

Ricardinho – Com certeza, isso também foi uma identidade do grupo porque o samba até então é muito popular. E você trazer essa riqueza musical, esses arranjos de vocais pra uma coisa que é tão simples de se fazer como o samba, tornou-se um diferencial. E até hoje é um dos poucos grupos, eu acredito que o único que exerce assim os arranjos vocais no samba é o Demônios da Garoa. Então tornou-se uma característica também você juntar todo aquele bom humor, aquelas brincadeiras, mas musicalmente com coisa séria, com arranjos. Então tornou-se uma característica muito marcante também.

Rosana Jatobá – É, fica uma mistura linda e atemporal, a gente ouve e identifica imediatamente que é música de qualidade.

Ricardinho – Com certeza.

Rosana Jatobá – Ricardinho, você é neto de um dos fundadores do Demônios da Garoa, o Arnaldo Rosa que não está mais aqui conosco.

Ricardinho – Isso, infelizmente. Muito orgulho, eu represento a terceira geração do Demônios da Garoa e o pessoal brinca que no berçário ao invés de eu chorar, eu já mandei um quais, quais, quais. Então o samba já entrou na veia e eu cresci ouvindo, acompanhando Demônios da Garoa. Tive a oportunidade de acompanhar o meu avô nas trajetórias junto com o meu pai, vi meu pai trabalhando com o meu avô e eu tocava um pandeirinho, brincava, na hora eles me chamavam lá pra fazer um chorinho. E hoje poder tá vivendo uma coisa que eu cresci, hoje é minha realidade, é o meu sonho. Então eu posso dizer que sou feliz da vida e procuro aprender cada vez mais o que o Demônios da Garoa tem e é muito lindo o cenário da Música Popular Brasileira, é muito família, você vê não só no grupo as histórias de fãs do grupo que você no show do Demônios da Garoa o avô, o pai e o filho, os três cantando o nosso repertório, você se sente realizado. Eu procuro aprender ao máximo com esses mestres que eu tenho oportunidade de trabalhar pra quem sabe levar o Demônios da Garoa pra um século aí. No que está ganhando, não se pode mexer, então é só aprender a receita direitinho e pau na máquina.

Rosana Jatobá – Eu acho interessante você falar disso, de família, de gerações futuras porque a sustentabilidade se preocupa exatamente com isso, em garantir para as próximas gerações o bem-estar que a gente tem hoje. Sem comprometer o nosso planeta, sem esgotar os nossos recursos. Você fala sobre gratificação, dessa realização de uma forma emocionada, imagine seu pai aqui.

Sérgio Rosa – Com certeza. O Manteguinha não fala, senão ele já derrete.

Rosana Jatobá – Ele já tá com os olhos marejados aqui, imagina ver o filho, um dos integrantes do Demônios da Garoa assim tão bem inserido.

Sérgio Rosa – Já tem o meu outro filho que é o Sérgio Júnior, tem 16 anos, já tá na banda de apoio, já tá aprendendo o que é o Demônios da Garoa, o que significa o Demônios da Garoa dentro da música brasileira pra dar a mão para o irmão e levar pra frente.

Rosana Jatobá – Como é que é pra você ver seus filhos inseridos, integrados nesse projeto que pra você é a sua vida?

Ricardinho – O gostoso do Demônios da Garoa, pra mim, acredito que para o meu pai a mesma coisa, é que a gente nunca se sentiu num trabalho, a gente se sente em casa de verdade. Essa é a nossa família, essa é a nossa realidade. Eu passo muito mais tempo ao lado do Canhoto, do meu pai no caso, dos meus companheiros, do que com a minha própria vó, com a minha própria mãe. Então essa verdade pra gente é muito forte e você poder tá dando continuidade numa história tão bonita como essa, com tamanha responsabilidade, é muito complicado de repente o pessoal que não sabe da história falar “Mas o Demônios da Garoa eram mestres, agora já tem um molequinho no meio”, mas não procura entender qual é a origem, os preconceitos que você sabe que existe. Mas a gente com certeza vem provando o dia a dia que a gente mantém as características e agregando cada vez mais fãs, também é muito bom.

Rosana Jatobá – Eu acho que vocês passam acima de tudo a mensagem de que família é tudo na vida da gente. É o nosso porto seguro, é o nosso refúgio e a família é a base de tudo e é a célula que vai perpetuar a nossa espécie. Então vocês estão de parabéns por isso. A gente tá chegando ao fim do nosso programa infelizmente.

Demônios da Garoa – Que peninha!

Rosana Jatobá – Agora a gente quer agradecer muito a presença de vocês aqui e quero que cada um de vocês deixe uma mensagem para o nosso ouvinte da Rádio Globo, sobretudo essa mensagem que vocês trazem da família, a importância de passar a mensagem, o conteúdo de pai pra filho e continuar com essa trajetória de sucesso de vocês.

Ricardinho – Bom, eu vou puxar o carro aqui, gostaria de agradecer primeiramente o carinho de todos os ouvintes da Rádio Globo para com o Demônios da Garoa, você em especial, Rosana, o convite para o Demônios da Garoa estar participando. E deixar o nosso abraço e que todos preservem a família porque a família com certeza é o nosso porto seguro. Não tenha medo de festejar, seja feliz com as pessoas que te amam de verdade! Tenha o amor próprio de chegar olhar no olho do seu pai e falar “Pai, eu te amo”, olhar “Mãe, eu te amo”, porque a gente infelizmente não sabe do dia de amanhã e faz muito bem provar o quanto a gente ama os nossos familiares. Então fica a dica aí você que é um pouco tímido, aproveitar desse momento e desfrute da sua família, com certeza vai valer a pena.

Rosana Jatobá – E não valorizar só as diferenças das gerações, mas o que elas tem em comum, né, e esse amor que está acima de tudo.

Ricardinho – Isso, com certeza.

Rosana Jatobá – Será que o seu pai já tá preparado pra falar com a gente depois dessas lágrimas de emoção?

Sérgio Rosa – Não, só agradecer a acolhida que a gente sempre tem aqui na Rádio Globo, agradecer a você a oportunidade de nós podermos estar aqui mostrando um pouquinho dessa tão longa trajetória de 70 anos dos Demônios da Garoa, falar de toda essa sustentabilidade, demonstrar o carinho, o amor que nós do Demônios da Garoa temos por essa megalópole que é São Paulo. Pelo amor de Deus, gente, façam algo mais pra que São Paulo volte a ser aquela terra da garoa, aquela sustentabilidade. Não tenha vergonha de reciclar o que você tem na sua casa. Não tenha vergonha de doar um pouco de si àqueles que necessitam porque a gente divulga pouco de tudo aquilo que a gente faz porque a gente considera que quem realmente faz de coração não precisa da necessidade de divulgar aquilo que faz. Quando você faz de coração, não há necessidade de propagar, mas Graças a Deus nós temos essa meta e agradecemos a vocês podermos dizer que o Demônios da Garoa é doador, contribui com entidades. Muito obrigado a vocês!

Rosana Jatobá – Izael, você acha que o artista tem que vir mostrar que tem outros projetos do bem, projetos sociais, projetos ambientais para o público?

Izael – Sem dúvida de que isso é necessário, eu acho que o mundo necessita disso. Se você botar na balança, tá faltando muita coisa pra que a humanidade viva legal, em paz, né. E falta também um pouco de amor, né, de benevolência, de caridade e de amor principalmente em família. Construir uma família sadia para que não caia na desgraça, isso tá acontecendo muito no mundo e é necessário que se faça o bem sempre para que as famílias no mundo cresçam, progridam numa boa para que o mundo melhore muito. É isso que eu quero.

Rosana Jatobá – É isso aí. Dedé Paraizo você concorda, claro né?

Dedé Paraizo – Claro, até vou deixar uma dica para os artistas, o artista tem um peso muito grande na sociedade. Então eu acho que o artista deveria fazer isso com mais frequência, falar sobre isso, sustentabilidade, família, falar sobre preservação, eu acho isso importantíssimo.

Rosana Jatobá – Ele tem um poder de influência, né?

Dedé Paraizo – Muito grande.

Rosana Jatobá – A gente se espelha nos nossos ídolos?

Dedé Paraizo – Exatamente. Então eu acho que nós artistas deveríamos fazer com mais frequência o bem. E vamos falar do nosso site também, www.demoniosdagaroa.com.br, lá tem histórias do grupo, redes sociais, agenda dos shows, tá tudo lá. Queria agradecer muito a você Rosana, você é uma pessoa muito espetacular, muito obrigado por tudo que você nos proporcionou e a todos os ouvintes da Rádio Globo. Muito obrigado.

Rosana Jatobá – Canhotinho, manda um beijo pra mim.

Canhotinho – Nós amamos você, Rosana, de coração.

Rosana Jatobá – Muito obrigada. Vamos fazer uma música juntos sobre meio ambiente.

Demônios da Garoa – Vamos sim!

Rosana Jatobá – Vocês disseram que eu sou afinada, né. Eu vou fazer uma música pra gente cantar (risos). Mas enquanto isso a gente vai ouvir o clássico “Trem das Onze”, essa todo mundo sabe deixando um beijo especial para os nossos ouvintes, semana que vem tem mais aqui no Conversa com a Jatobá. Beijo grande, tchau.

Se preferir, ouça aqui.

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