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Conversa com a Jatobá recebe Célio Silva

por Universo Jatoba

1º bloco

Rosana Jatobá – Oi, pessoal. Boa tarde! Seja muito bem vindo, começa agora mais um Conversa com a Jatobá. Você está ouvindo aí a canção “Happy Day” que é um clássico da música gospel, uma canção americana executada no mundo inteiro. E a gente está tocando essa música a pedido do grande jogar de futebol Célio Silva, que é o nosso convidado de hoje aqui no Conversa com a Jatobá. Oi, Célio. Boa tarde, tudo bem?

Célio Silva – Boa tarde! Tudo maravilhoso, né.

Rosana Jatobá – Que bom receber você aqui, muito obrigada.

Célio Silva – Eu que agradeço a oportunidade, o convite de poder estar aqui.

Rosana Jatobá – Eu li que você ficou apelidado de Chute do Brasileirão.

Célio Silva – É, o tempo passa, né.

Rosana Jatobá – Você ficou conhecido pelo seu chute de perna direita, um chute potente que alcançava até 140 km/h.

Célio Silva – Isso quando não pegava mal, né. Foi feita uma competição em 1995 pelo Esporte Espetacular e eu tive a felicidade de ganhar essa competição. Era uma distância de 20 metros, bola parada, normalmente a bola parada é mais pesada e as bolas não eram tão leves como são hoje . Então eu competi contra oito, inclusive o Branco que é o nosso lateral da seleção brasileira . Era da meia lua da grande área até cruzar a linha do gol, mais ou menos uns 20 metros. Então ao cruzar a linha, deu 114,6 km/h.

Rosana Jatobá – Nossa, que coisa, dá para furar uma parede (risos).

Célio Silva – O pessoal tá economizando no tijolo, se pegar na parede. Mas eu já consegui atingir uma velocidade de 136 km/h, nós fizemos uns testes pra Copa do Mundo de 98 com bolas da Penalty, da Nike, bola Adidas e nós utilizamos uma bola da Penalty, ela chegou a uma velocidade de 136 km/h, que era esse radar.

Rosana Jatobá – Você já tá aposentado do futebol há quantos anos?

Célio Silva – No futebol a gente não para nunca, não tem como. Eu digo que eu não consegui fazer outra coisa, até porque eu não tenho tempo. Eu comecei a jogar futebol com 20 anos de idade praticamente, então a área de bar man, garçom, lavo um copo um copo e um prato como ninguém, tive uma boa experiência nessa época. A última competição que eu disputei só para parar mesmo foi em 2003, eu retornei ao Americano de Campos, o clube que eu iniciei a minha carreira, minha família é daquela região, eu estava fazendo faculdade de Educação Física. Fui pra Americana encerrar a carreira e iniciar a carreira de treinador de futebol.

Rosana Jatobá – E hoje então somando tudo isso, esses anos todos, quanto tempo faz que você tá fora dos gramados como jogador?

Célio Silva – Como jogador eu parei em 2003, praticamente 10 anos.

Rosana Jatobá – Praticamente 10 anos e o seu chute hoje alcança quantos km/h?

Célio Silva – Eu vou ser bem sincero, a última vez que eu entrei para jogar futebol society foi o ano passado. Foi um pequeno campeonato que reuniu ex-atletas para jogar. Meu chute hoje se eu bater bem na bola, com bastante força, chegue a uns 10, 12 km/h, por aí.

Rosana Jatobá – Só isso, será? Porque você tá aí com algumas sequelas no joelho, né.

Célio Silva – É, eu tenho quatro cirurgias no joelho, preciso urgentemente fazer a quinta cirurgia.

Rosana Jatobá – O que você tem exatamente no joelho?

Célio Silva –  Eu tenho várias lesões no joelho, lesão de ligamento, de cartilagem, menisco, eu tirei os meniscos, hoje tá batendo um osso no outro. Hoje eu tenho que fazer uma cirurgia um pouco complicada.

Rosana Jatobá – Colocar uma prótese?

Célio Silva – Eu tenho que botar uma placa, ainda não é uma prótese não, futuramente. A perna entortou completamente, tem que colocar uma placa, então uma caminhada daqui até o banheiro dá um cheiro de osso queimado, fica batendo osso com osso.

Rosana Jatobá – Mas são  as sequelas do futebol porque vocês passam por um treinamento intenso.

Célio Silva – Eu tenho 14 cirurgias, duas lesões no nariz, tenho três implantes dentários, eu não vou nem contar supercílio, estiramento, essas coisas.

Rosana Jatobá – Mas isso é comum entre os jogadores? Quando a gente vê na televisão os meninos jogando com todo aquele desempenho, uma performance maravilhosa, nem imagina o que vocês passam.

Célio Silva – Se você parar pra analisar, principalmente os lances onde passa a câmera lenta, a diferença que passa o pé um do outro, o joelho um do outro, a possibilidade de uma lesão é muito grande. Por incrível que pareça, as grandes lesões que eu tive foram em treinamentos porque até em treinamentos nós trabalhávamos em alto nível, em alta performance, alto risco. O treinamento é uma sequência do jogo, então não adianta você fazer mais ou menos sendo que amanhã você tem que dar 100%. Então as minhas grandes lesões  no Corinthians, por exemplo, eu fraturei o nariz num treinamento, eu tive uma lesão de adutor na coxa direita também num treinamento cobrando pênalti, após o treino. No Rio, eu tive lesão no ligamento no joelho lá no Flamengo, na época também em treinamento. Então os grandes problemas que eu tive, a maioria deles foi em treinamento.

Rosana Jatobá – Inclusive esse apelido “Chute do Brasileirão” você adquiriu na época que estava no Corinthians?

Célio Silva – Justamente, foi onde teve essa competição no ano de 95.

Rosana Jatobá – Você passou por vários clubes, foi campeão em quase todos. Qual o clube do seu coração?

Célio Silva – Olha, eu tenho um problema aqui em São Paulo quando eu tenho que responder isso, né. Eu só digo para as pessoas que a minha origem é Rio.

Rosana Jatobá – Você nasceu no Rio de Janeiro? Você é carioca?

Célio Silva – Eu nasci no noroeste do estado do Rio, na cidade de Iracema, Rio de Janeiro. Então é aquilo, nós estávamos comentando agora a pouco, quando você nasce, antes do nome você já tem um time.

Rosana Jatobá – Qual é o seu então?

Célio Silva – Eu era torcedor do Botafogo, hoje a gente não tem mais aquela coisa de torcedor mesmo fanático, ficar assistindo jogo. Quando você começa a sua carreira profissional, você passa a ser profissional realmente. Então o que eu tenho hoje do Botafogo é o que eu trago da minha infância porque na verdade eu sou um vira folha. Lá no Rio a gente chama de vira folha. Meu falecido pai era fluminense, tricolor, e eu segui o meu pai tricolor, só que meu tio veio com uma bicicleta, uma bola, uma camisa do Botafogo, dei tchau para o meu pai e vazei. Na verdade o que eu trago do Botafogo, lembranças assim é da minha fase de infância. Hoje nós partimos para esse lado profissional, tenho um carinho imenso, gosto sempre de dizer isso, em relação ao Corinthians, ao torcedor corinthiano, que sempre me recebeu com carinho, mas eu não posso mentir para ele, eu não sou corinthiano de nascença, eu sou corinthiano de coração, eu passei a ser corinthiano.

Rosana Jatobá – Isso inclusive é uma das queixas dos torcedores, de que os jogadores não tem uma paixão verdadeira pelo seu time, eles estão ali temporariamente, circunstancialmente desempenhando sua função e se for mais interessante, tchau, um abraço.

Célio Silva – Eu tenho uma definição para isso e é o que realmente acontece, essa é a minha área de formação. Hoje eu não me vejo trabalhando com futebol profissional, eu faço futebol profissional, mas base. A minha área é de formação.

Rosana Jatobá – Revelar talentos.

Célio Silva – Justamente, essa é a minha especialidade. E o atleta, o garoto, ele é preparado pelo próprio dirigente do clube para que ele não se preocupe com o clube. Então ele é preparado para ir para fora do país. Por exemplo, vamos falar do Juventus, “Se você fizer um bom campeonato, vou te vender para o Corinthians”, aí ele chega no Corinthians, “Se você fizer um bom campeonato, eu vou te vender para o Barcelona”. Então como é que eu vou ficar preocupado com o Corinthians, com o Juventus.

Rosana Jatobá – Desde muito cedo ele está sendo focado com aquele objetivo de crescer ali no clube para ser vendido?

Célio Silva – A culpa não é do jogador, o futebol é 100% comércio hoje. Então o próprio jogador é preparado para sair do país, porque o Brasil é fornecedor.

Rosana Jatobá – É o celeiro de grandes talentos?

Célio Silva – É o celeiro, então ele prepara para fora do país. O goleiro chega para fazer um teste, se ele tiver uma determinada altura, tá fora. Eu, por exemplo, com 1,79 m, se eu chegasse hoje e falasse que era zagueiro, os caras não deixavam nem eu cruzar o portão porque o zagueiro hoje tem que ter 1,85 m. Não é por causa do futebol brasileiro, é por causa que o futebol brasileiro fornece para fora do país. E lá fora eles querem jogador grande. Então tem muitos bons jogadores, muitos bons talentos não tendo oportunidade porque estão fora do padrão e não tem um profissional qualificado para poder direcioná-lo para outra posição. Eu sou zagueiro, a minha posição não é zagueiro, eu fui improvisado, minha posição é meia direita, número 8, artilheiro, eu era goleador. Por uma necessidade virei zagueiro, porque o time do meu irmão na época precisava. Então meu irmão teve uma visão de me colocar como zagueiro, eu poderia dar conta do recado, então hoje não tem isso. Hoje você chega como zagueiro e o cara te olha só como zagueiro. Não existe um profissional qualificado para dar treinamento, então pelo fato do comércio e a necessidade de fazer dinheiro, acaba excluindo muito.

Rosana Jatobá – Daqui a pouco a gente vai conversar um pouco mais sobre a sua paixão pelo futebol. Mesmo fora dos gramados você tem um projeto muito interessante para promover a dignidade de crianças carentes por meio do esporte, do futebol. Tudo isso no próximo bloco, porque agora a gente vai para uma outra paixão da sua vida que é a música gospel. Vamos ouvir então um pedacinho dessa canção que o Célio Silva adora. Até já no Conversa com a Jatobá!

2º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com o Conversa com a Jatobá, você está ouvindo a canção “Agora sou de Deus”, do Mattos Nascimento, um compositor que o Célio Silva, que é o nosso convidado aqui hoje, gosta muito. O que você curte nessa canção, Célio?

Célio Silva – Tem muito a ver com a minha mudança de vida, eu comecei a conhecer um pouco mais da palavra de Deus. Se você for em todas, a maioria das residências, das casas, principalmente do interior, de onde eu vim, uma cidade de 30, 35 mil habitantes, tem uma bíblia aberta em cima da mesa, em especial no salmo 91.

Rosana Jatobá – É lindo esse salmo, né. Eu gosto muito do salmo 23.

Célio Silva – Essa é outra página, se você não achar aberta no 91, você vai achar no 23.

Rosana Jatobá – O senhor é meu pastor, nada me faltará.

Célio Silva – Exatamente, às vezes a bíblia fica lá aberta o tempo inteiro, cheia de poeira, mas fica ali.

Rosana Jatobá – Abençoando a casa.

Célio Silva – Justamente. O conhecimento um pouco mais da palavra, buscar um pouco mais a Deus, entender um pouco mais a nossa existência também, a nossa forma de vida, tá certo, tá errado. Pensar antes de executar algumas coisas, foi a partir do ano de 88 que surgiu o grupo dos Atletas de Cristo, que na época era o João Leite, o Jorginho, o Alex Dias Ribeiro, que era o piloto de corrida, então eu participava daquelas reuniões, mas por curiosidade e status. Eles entravam em campo com uns bonés, as camisas, mas na verdade a gente não tinha um conhecimento daquilo. A gente não sabia realmente o que era, sabia que eram Atletas de Cristo, de Deus, que eram pessoas diferentes, mas não tinha o total conhecimento. Então eu passei a participar daquelas reuniões para saber um pouco o que era aquilo e até para poder falar, porque eu tinha já a camisa, já tinha comprado o boné, várias pessoas me perguntavam o que era e eu não sabia explicar realmente.

Rosana Jatobá – Isso aí, como é que foi a sua experiência no “Atletas de Cristo”?

Célio Silva – Maravilhosa, na verdade eu vim me batizar, o batismo das águas, foi em 2002. Então passei um período de vai e volta, porque eu sempre gostei na época de samba, pagode, de festa. Quando eu cheguei no Inter, de Porto Alegre, no ano de 91, o time começou a ganhar, tinha festa. Então você acaba curtindo a vida da maneira que a gente entendia e era legal. Eu já era casado, tinha uma esposa, tinha uma filha.

Rosana Jatobá – Tinha que entrar na linha, né, Célio? O “Atletas de Cristo” te colocou aí na linha?

Célio Silva – As pessoas não estão aqui para criticar A ou B, mas ou você é ou você não é. Não adianta vocês às vezes ir pra igreja, qualquer que seja, vai lá reza, encontra os seus pedidos. Por exemplo, eu chegava em casa, meus filhos estavam dormindo. Eu saia e meus filhos estavam dormindo, eu chegava eles estavam dormindo. Eu sempre me achei uma pessoa boa, nunca roubei, nunca matei, nunca trairei ninguém. Sempre ajudei todo mundo, só que falta ainda um algo mais. Eu tenho esposa, eu tenho filhos, tenho que cuidar deles. Então é aí que o Evangelho vem, ele te cobra realmente, o Cristianismo te cobra, você tá errado, você não pode fazer isso, isso é errado, você tem um compromisso. Então, muitas vezes, as pessoas procuram que a religião se encaixe a elas, não elas se encaixarem na religião. Eu vou buscar aquilo que me interessa, aquilo que me faz bem, não é trazer pra mim uma mudança de vida.

Rosana Jatobá – Agora você fala das baladas, das festas dos jogadores, dessa vida que você levava antes. Mas o jogador é muito solicitado, ele tem um treinamento muito intenso, dá tempo deles terem essa vida assim?

Célio Silva – Tempo acha, a gente dá um jeito. Acabou o jogo, ganhou o jogo, esse é um excelente motivo para você dar uma esticada a mais.

Rosana Jatobá – E dá tempo, eles fazem mesmo? Ou essa vida mais profissional impede que eles tenham esse comportamento?

Célio Silva – Hoje o clube a nível de grande porte, por exemplo, um Corinthians, um São Paulo, se o cara tentar viver dessa forma, ele não vai conseguir. Tem várias competições, antes jogava só o Campeonato Paulista, jogava domingo e tinha jogo só no outro domingo. Jogava sábado, tinha jogo só no outro sábado, então seria uma semana que daria esse espaço. O máximo que você jogava era uma Copa do Brasil, de vez em quando uma Libertadores, hoje não. Hoje nós temos Campeonato regional, nós temos a Copa do Brasil, a Sul-Americana, nós temos Libertadores, nós temos várias competições e um time de alto nível, você não tem espaço para curtir a vida da maneira que às vezes as pessoas se dão o direito de fazer. Então eu dou orientação, eu digo pra eles: “A namorada espera, a balada espera, o carro espera, a casa espera, agora o futebol não espera”.

Rosana Jatobá – Até porque realmente é uma carreira muito curta a de jogador de futebol, né.

Célio Silva – Então hoje temos aí, dependendo do jogador, 10, 15 anos, para ele tentar a vida dele nesse período. É muito? É muito porque você tem 10 anos, quando você está com 20 está terminando o espaço. Então o que eu oriento é “Viva 100% o futebol porque uma hora você vai ter que parar. Queria você ou não, você vai ter que parar”, mas aí que vem ou parou bem ou parou mal.

Rosana Jatobá – E você tem um projeto muito interessante com crianças carentes, em que você realmente orienta as crianças, como você mesmo diz aí, você gosta de orientar, passar a experiência que você acumulou ao longo desses anos. Como é o nome desse projeto?

Célio Silva – Entre 2007 e 2009, nós tínhamos o projeto na cidade próximo a Bragança, chamada Joanópolis, a famosa terra do lobisomem. Então nós ficamos dois anos lá no projeto, custeado por um amigo nosso chamado Ednilson, que é dono de uma grande empresa em Guarulhos chamada WH Modas. Então ele custeava do bolso, ele gostava do projeto social e era realmente um projeto social. Mas automaticamente ele passa a virar profissional, porque nós estamos tratando de jogadores de futebol, a gente inicia o projeto social e amanhã vai sair jogadores.

Rosana Jatobá – Revelar talentos.

Célio Silva – Justamente, tanto é que hoje nós temos o atacante do Flamengo hoje chamado Paulinho era do nosso projeto. O atacante do Botafogo chamado Elias, era do nosso projeto.

Rosana Jatobá – Esse sub-20?

Célio Silva – É, do Campeonato sub-20. Passou pelo nosso projeto o Luciano Castán, que é irmão do Leandro Castán do Corinthians, que hoje tá no São Bernardo, ele também passou pelo projeto. E temos vários, eu fiz um levantamento e nós temos aí dos 40 que nós trabalhávamos, tem 16 deles ganhando o seu dinheirinho na carreira profissional.

Rosana Jatobá – E por que você parou com esse trabalho?

Célio Silva – Porque acabou o dinheiro, como era o custo de uma pessoa só ele teve seus problemas familiares e o projeto teve que parar. Então nós estamos retomando com esse projeto, só que em São Paulo e o nome dele hoje é Esperança Futebol Clube. Como eu disse, eu vou ter que mudar para Esperança Esporte Clube por causa de domínio de site, né. Então eu penso que eu tenho muito mais do que futebol pra oferecer pra esses jovens, então são crianças, adolescentes e jovens.

Rosana Jatobá – O que você tem para oferecer além da sua experiência como jogador?

Célio Silva – Eu fui filho, eu sou pai, eu sou marido, então eu tenho base para passar para aquele jovem ali, para aquela criança, porque eu passei por todo esse período deles. Nós sempre brincamos que aonde eles querem chegar, eu já fui e já voltei, tanto na área pessoal, dificuldades, eu sou o sétimo filho de uma família de nove, normalmente o que o meu pai trazia era só apra comer mesmo, nós crescemos usando roupas doadas, então desde o início eu fui envolvido em projetos sociais até sem saber. Então hoje eu tenho base para poder passar para aquele jovem.

Rosana Jatobá – Sentiu na pele todas as dificuldades. E você agora quer retornar para essas pessoas tudo que você recebeu de solidariedade.

Célio Silva – Com certeza. Hoje eu atingi o nível que eu atingi de poder conhecer o mundo porque alguém lá atrás me deu uma oportunidade. Então hoje eu tenho a possibilidade de poder retribuir de alguma forma.

Rosana Jatobá – Esperança Futebol Clube.

Célio Silva – Esperança Futebol Clube, passou a ser Esperança Esporte Clube por causa do domínio do site e até porque o futebol ele acaba limitando. Nem todo mundo gosta de futebol, esse projeto em si é específico futebol, o menino para entrar precisa gostar de futebol, se é gordinho, se é magrinho, isso aí não importa para nós.

Rosana Jatobá – Daqui a pouco então no Conversa com a Jatobá, eu quero saber mais sobre esse projeto do Esperança Esporte Clube idealizado pelo grande jogador, o ex-zagueiro Célio Silva. Daqui a pouco no Conversa com a Jatobá, você fica aí, hein, até já.

3º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com o Conversa com a Jatobá, você está ouvindo “É uma partida de futebol”, uma composição do Samuel Rosa, do Skank. Essa música é para homenagear o meu convidado de hoje Célio Silva. Ex-zagueiro, grande jogador que tá aqui com a gente contando as glórias do futebol, os planos e falando de um projeto muito importante que transforma a vida de meninos carentes por meio do esporte. É o Esperança Esporte Clube, não é isso, Célio?

Célio Silva – Justamente, Esperança Esporte Clube.

Rosana Jatobá – Qual é o perfil dos meninos que participam desse grupo?

Célio Silva – Hoje a gente trabalha com a inclusão social, que é uma palavra maravilhosa, o local de execução desse projeto é o Parque da Mooca e o alvo é a favela da Vila Prudente, a comunidade da Vila Prudente e o entorno ali. Mas eu também não posso excluir aquele garoto que tem uma condição também, o alvo específico é a comunidade.

Rosana Jatobá – Mas se chegar lá uma criança que veio de uma família classe média, classe média alta, também pode participar?

Célio Silva – Não temos problema nenhum de poder aceitar também, até porque eu estaria excluindo. Então o alvo é a comunidade, mas até seria interessante essa mistura de realidades. Talvez um tem uma experiência para passar para o outro, e eu já vi surgir grandes amizades com esse tipo de situação.

Rosana Jatobá – Agora o seu objetivo é transformar a vida desses meninos, é engajá-los, orientá-los por causa da sua experiência de 17 anos como jogador de futebol ou você pensa mesmo em revelar talentos para o futebol mundial?

Célio Silva – Não, esse não é o alvo. A gente sabe que vai acontecer, que nós vamos atingir esse objetivo também, mas não é o principal. A nossa preocupação é formar um homem e como nossa área específica é futebol, ele vai ser preparado como se fosse para tal.

Rosana Jatobá – E por que você acha que o futebol consegue atingir esse objetivo de transformar e encaminhar bem uma criança? Porque tem muita gente que diz que se essa criança vive ali num ambiente em que os pais são drogados, convive com traficantes tendo mau exemplo na sua casa dificilmente ele vai conseguir se transformar, se engajar em um projeto como esse.

Célio Silva – O nosso projeto não é simplesmente um apito e uma bola. Nós temos psicólogos, hoje nós temos o médico Joaquim Grava envolvido no projeto.

Rosana Jatobá – É um grande especialista em joelho, né.

Célio Silva – O Joaquim já nos ajudou muito nesse projeto, quando tem um caso mais grave, ele que socorre. O Joaquim é um cara espetacular, tenho um carinho muito grande por ele. Voltando ao assunto, o nosso projeto não é um apito e uma bola, nós temos psicologia, o projeto ainda não está da forma que eu gostaria que estivesse. É um projeto que o total dele seria R$ 1,5 milhão. Seria reforço escolar, seria cesta básica, alimentação de qualidade, aquele que mora um pouquinho mais longe, teria um passe para pegar ônibus. Só que nós temos dificuldade para adquirir esse valor, então nós diminuímos ele ao máximo que nós pudemos.

Rosana Jatobá – Você está atrás de patrocinadores para bancar o projeto?

Célio Silva – Para bancar o projeto, tem as leis de incentivo ao esporte e às vezes elas são um pouco difíceis de você conseguir. Mas o nosso foco principal é esse: conseguir verba da Prefeitura, verba do estado, verba do governo, esse é o alvo principal porque aí dá uma garantia. Porque às vezes você tem uma empresa que te ajuda, amanhã ela pode passar por alguma dificuldade, para de te ajudar, então nós temos que ter a retaguarda. O nosso alvo hoje é muito interessante, nem todos viram jogador de futebol. Tem um exemplo dentro da minha casa, o meu filho, por exemplo, estava no Noroeste de Bauru treinando, ele fez o alistamento militar e hoje ele é soldado da Aeronáutica, a Força Aérea Brasileira.

Rosana Jatobá – Inclusive voar sempre foi um grande sonho seu.

Célio Silva – Perfeitamente.

Rosana Jatobá – Você está realizando agora através do seu filho.

Célio Silva – Através dele. Quando eu completei o alistamento militar na cidade que eu morava não tinha, era Tiro de Guerra e nós não tínhamos opção. Aí juntamos meia dúzia de amigos, fomos para o Rio e fomos nos alistar, um medo de altura danado eu disse “Vou ser paraquedista” (risos).

Rosana Jatobá – Como assim? Para enfrentar o medo de altura você quis pular de paraquedas?

Célio Silva – Eu não sei se eu fui junto com os outros, o interessante é que nós chegamos no 3º Comar, na porta lá, e disseram que estava em obras e pediram para voltar em 20 dias. Nós retornamos pra cidade natal e nesses 20 dias eu tive a oportunidade de fazer um teste no Americana de Campos e dali segui a minha carreira profissional de futebol.

Rosana Jatobá – A vida é incrível, né? Por causa de um período ali de 20 dias que não funcionava você se dedicou ao esporte e aí conseguiu se destacar.

Célio Silva – Meu filho estava dentro do campo, ele ia jogar a famosa “Taça São Paulo de Futebol Juniores”, fez o alistamento e não liberaram. A gente vê hoje com mais tranquilidade, nós sabemos que o futebol é muito complicado, é muito difícil. Hoje ele tem uma carreira sólida, hoje depende mais dele. O futebol é assim, é uma linha reta, você pode chegar aqui e parar. Ele tem mais opções, hoje ele é Soldado 2, fez uma prova domingo passado para ser Soldado 1, depois vai a Cabo, Sargento,  Coronel, Marechal e vai embora. Aí depois vira sobremesa, pode chegar até a Brigadeiro (risos).

Rosana Jatobá – Você já pulou de paraquedas com ele?

Célio Silva – Nem se me pagar.

Rosana Jatobá – Mas você não queria antes?

Célio Silva – Queria.

Rosana Jatobá – Já passou a vontade?

Célio Silva – Nem passa perto. Quando pego um avião, a primeira coisa que eu faço é fechar a janela.

Rosana Jatobá – Mas voltando ao papo das crianças lá no Esperança Esporte Clube. Eles não precisam ser atletas de grande performance, nada disso. Você quer mesmo é orientar as crianças carentes ou outras crianças que tenham condições, mas que tenham paixão pelo esporte, pelo futebol?

Célio Silva – O alvo é assim, o menino entra com 10 anos de idade, são de 10 a 17 anos. A nossa preocupação maior é com aquele de 17 anos, que é aquele que vai ter que “sair” do projeto. Então aí que é a nossa preocupação maior, não deixando de olhar para os menorzinhos. Aquele menino que nós detectarmos que ele não tem o perfil, não tem determinado potencial, porque futebol é dom também. Nesse período todo que ele tem, nós já vamos tentar detectar qual é o forte dele: desenho, teatro.

Rosana Jatobá – Descobrir um outro talento?

Célio Silva – Justamente. E orientar também ao serviço militar.

Rosana Jatobá – E é uma experiência importante para a vida da gente.

Célio Silva – Maravilhosa.Traz uma disciplina, uma organização, um serviço social interessante. O sonho do meu filho é fazer fisioterapia, cuidar do meu joelho.

Rosana Jatobá – Então ele pode ser soldado da Aeronáutica e fisioterapeuta.

Célio Silva – É esse tipo de situação que nós vamos passar a todos eles.

Rosana Jatobá – Agora o que te move exatamente para empreender um projeto como esse? É um projeto difícil, você não conta com apoio, você precisa de patrocinadores para bancar o projeto e é dia após dia, numa luta danada cheia de decepções. É só pela tua história de vida, uma criança que teve uma história difícil e agora quer retribuir para as outras crianças, ou algo dentro de você que te diz “eu preciso trabalhar em prol desses meninos”?

Célio Silva – É tudo isso. Dar uma oportunidade para esses jovens, poder passar para eles, como eu disse, muito mais do que o futebol. Como eu disse antes, o clube é  selecionado, tem tamanho, biotipo. Os jovens, as crianças, a gente pode fazer com que ele realmente seja um jogador de futebol. O clube realmente exclui. Eu num período de 1 ano, levar ele até o final.  Realmente teve a sua oportunidade de ser um jogador de futebol, mas por um motivo ou outro você não conseguiu, você é homem. Eu tenho que passar isso para ele também, nem tudo eu consegui, eu tenho uns sonhos que eu não sei se eu vou conseguir realizar, eu tive outros que ficaram para trás. Hoje o Evangelho, Jesus Cristo me deu a condição de passar por cima de tudo isso. Com um período de um ano, nós temos condição de levar aquele garoto até o final. Não conseguiu porque talvez não é pra ser, o talento dele é para outra situação. Mas aí ele vai ter a oportunidade dele.  Infelizmente não dá para fazer com todos. No início são 120 e a ideia é em dois anos chegar a 500.

Rosana Jatobá – No próximo bloco a gente vai falar sabe do que? Copa do Mundo e Olimpíadas. Eu quero saber a sua opinião sobre os grandes eventos esportivos que o Brasil vai receber nos próximos anos. E você que tá ouvindo aí o Conversa com  a Jatobá, não sai daí que daqui a pouco a gente tá de volta. Até já!

4º bloco

Rosana Jatobá – No dia 26 de outubro de 96, você fez esse gol pelo Corinthians que o Oscar Ulisses narrou. Você se lembra desse dia?

Célio Silva – Ah, lembro, eu tenho guardado lá, se alguém duvidar a gente mostra.

Rosana Jatobá – Como é que foi a emoção? Chutou de perna direita fez o gol, o tal do Chute do Brasileirão?

Célio Silva – Aquela ali deve ser saído a uns 120 mais ou menos, tanto é que ela passou no meio da barreira, eles correm, não tem como ficar.

Rosana Jatobá – De todas essas glórias aí que você acumulou no futebol, que momento foi o mais marcante na sua vida? Se é que a gente pode elencar algum, né.

Célio Silva – Pra mim é muito fácil responder, todos os momentos pra mim no futebol foram maravilhosos. Eu não via mais a possibilidade de ser um jogador, um atleta profissional de futebol, eu já comecei a jogar futebol com 19 para 20 anos de idade.

Rosana Jatobá – Isso é tarde?

Célio Silva – Hoje não teria chance nenhuma.

Rosana Jatobá – Hoje começa com que idade?

Célio Silva – Hoje a mãe ficou grávida e os caras já pegam (risos).

Rosana Jatobá – Quer dizer que o filhinho do Neymar certamente já está na mira dos caras?

Célio Silva – Certamente, no gatilho já, se ele tiver 10% do talento do Neymar, está empregado. Hoje o menino entra no clube, por exemplo, aqui em São Paulo tem muita facilidade, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa, Juventus, São Caetano. Então ele entra na escolinha do clube com 5 anos, 6 anos, então ele inicia aí. Nós só reconhecemos mesmo quando ele faz 16, que inicia o contrato profissional. Então parece que a partir daí começa a carreira do menino, mas ele inicia muito cedo hoje. Então tem alguns pais hoje, que eu até digo pra eles “Cuidado com o que estão fazendo com as crianças!”.

Rosana Jatobá – Roubando a infância.

Célio Silva – Justamente, o menino precisa de estudo, precisa de alegria, então futebol é 8h, 10h inglês, meio-dia capoeira, 14h natação. O moleque chega em casa morto, destruído, então ele não faz aquilo que ele quer fazer. O futebol eu tenho certeza que ele quer fazer, mas o mundo hoje quando o pai tem uma condição ele quer que o filho faça tudo.

Rosana Jatobá – É uma pressão muito grande, né?

Célio Silva – Tem aquela frase “Eu não tive oportunidade, então eu quero que meu filho tenha”, então faz natação, judô, faz tudo. E brincar mesmo, a gente tem que fazer o que gosta, soltar pipa, jogar bolinha de gude.

Rosana Jatobá – Quer dizer que você entrou tarde no futebol com 19 anos?

Célio Silva – Com 19 para 20 anos.

Rosana Jatobá – E até aí você fez o que da vida?

Célio Silva – Eu era garçom, vendedor de picolé, engraxate.

Rosana Jatobá – Fazia uns bicos para ganhar dinheiro.

Célio Silva – Fazia para se virar, né.

Rosana Jatobá – E teve uma infância feliz embora com dificuldades?

Célio Silva – A nível de brincadeiras, de alegria, a casa estava sempre cheia, oito irmãos, morando em casa. Hoje eu moro em apartamento, não sei o nome do meu vizinho, não sei o nome de ninguém. Morava em cidade pequena, a criançada ficava pra lá e pra cá, tinha um campo de futebol em frente à minha casa, então a minha infância foi maravilhosa.

Rosana Jatobá – E aí aos 19 anos você entra no futebol, se profissionaliza e nem acredita no que acontece com você?

Célio Silva – Sinceramente, foi tudo muito rápido, eu recebi a notícia e me lembro como se fosse hoje 26 de março de 1986, que eu me apresentei no Americana de Campos. A luta foi terrível, se houvesse tempo de contar com detalhes realmente a dificuldade que eu passei para se chegar, hoje tá fácil. Hoje você pega o garoto, você leva no clube, você espera acabar o treino, você leva ele pra casa, quando o menino vem de fora, você põe ele no hotel, você vai na porta do hotel, pega, chuteira de R$ 900, dinheiro para ele ir no McDonald’s, hoje tá fácil. Hoje o moleque que tem um potencial, hoje só não joga futebol se não quiser.

Rosana Jatobá – É tratado a pão-de-ló.

Célio Silva – E às vezes não chega longe até porque não cria raiz. Não tô dizendo que tem que sofrer, não. Mas ele tem que passar dificuldade.

Rosana Jatobá – Você acha? Para entender, valorizar?

Célio Silva – Justamente, porque é muito fácil, hoje você chega e coloca o garoto numa condição, então ele acaba se acomodando, ele não cria uma raiz. Sempre ouvi várias histórias das árvores que encontram dificuldade com um terreno mais duro para poder suas raízes afundarem o mais possível, essas árvores pode vir a ventania que for que elas não caem. Esse tipo de jovem te liga o dia inteiro “O treinador não me botou pra treinar hoje. Hoje eu cheguei no campo e ninguém me deu bom dia. Acho que a minha chuteira tá larga”, ele te liga o dia inteiro.

Rosana Jatobá – Tá muito mimado.

Célio Silva – É o que tá acontecendo hoje. Tenho a esperança de encontrar um Neymar por aí, mas tá complicado.

Rosana Jatobá – E como é que você tá agora pensando na Copa do Mundo, nas Olimpíadas que vem aí, qual é a sua expectativa para o Brasil? Foi realmente um passo importante a gente recepcionar esses grandes eventos?

Célio Silva – A minha resposta é a seguinte: eu como torcedor brasileiro, eu sou a favor, agora como cidadão brasileiro sou contra, totalmente contra.

Rosana Jatobá – Contra? Por que?

Célio Silva – Nós temos outras prioridades, o país precisa de outras coisas, principalmente no nosso comando, a gente fica sempre reclamando disso e aquilo. O nosso país tá em dificuldade de encontrar bons comandantes, grandes comandantes, pessoas que realmente olhem para baixo.

Rosana Jatobá – Mas você não acha que esses eventos podem deixar um legado, uma lembrança importante, uma infraestrutura no nosso país ou não?

Célio Silva – Eu não vejo, eles estão destruindo tudo. Já estão pensando em como fazer para destruir o estádio em Manaus, por exemplo. Quem vai jogar lá naquele estádio monstruoso? Com todo o respeito ao Nacional de Manaus, ao Misto, não tem time para jogar numa estrutura daquela. Brasília, não tem. Na África do Sul estão destruindo todos os estádios, apesar que há uma diferença, só que aqui tá na nossa porta, saneamento básico. Não tem dinheiro para um projeto desse aí que é R$ 350 mil por mês.

Rosana Jatobá – O seu projeto.

Célio Silva – Você tem que pedir pelo amor de Deus de joelho. Eu ando sempre com milho no bolso, você conhece aquela história do milho? Joga no chão e ajoelho para o cara ver que você está sofrendo mesmo. É um projeto de R$ 350 mil, você encontra pessoas pra te ajudar? Encontra, mas o governo tem que dar o dinheiro com olho fechado. Eu tô trabalhando pra ele e para fazer estádio, pra fazer isso e aquilo é num estalar de dedos e o dinheiro aparece da noite para o dia. O estádio não é do cidadão, o cara não pode ir lá. O Pacaembu é do estado, vai lá, pede pra fazer um jogo lá, não entra. Então não é nosso, aquilo não é nosso. Você não consegue entrar no Pacaembu, para entrar lá você tem que pagar. Não é nosso isso, não tá fazendo pra nós. Quanto é um ingresso para assistir a Copa do Mundo hoje? Quem é que vai assistir esses jogos? Nós precisamos de escolas, nós precisamos de médicos, tá uma briga aí, traz médico de lá, não traz, aí você vai tem que dar chance para os jovens. Aí você passa na porta das faculdades e o jovem estão todos bêbados, fumando maconha, então a culpa não é só do governo. Nós estamos levando o papo para outro lado, mas as pessoas às vezes cobram, mas também não faz por onde.

Rosana Jatobá – Você tá dizendo que os grandes eventos esportivos que nós vamos receber, uma Copa e as Olimpíadas, não vão representar uma melhora na qualidade de vida do cidadão brasileiro?

Célio Silva – Eu não vejo. Vai ter um estádio bonito e depois que acabar o jogo? Depois que passar a Copa do Mundo?

Rosana Jatobá – Fica lá como elefante branco?

Célio Silva – Eu não tô dizendo nem que vai ficar como elefante branco. Por exemplo, hoje tem a Copa do Mundo, estão precisando de gente, acabou a Copa do Mundo, você tava trabalhando aonde? Eu ajudei o tal bar lá, acabou o evento, acabou o emprego. É igual Natal, no Natal as empresas, shopping, contrata aquele monte de pessoas por causa daquele muvuca, acabou o Natal, acabou o emprego. A Copa do Mundo vai ser a mesma coisa, acabou a Copa do Mundo acabou o emprego. Vai continuar do mesmo jeito, nós não estamos criando emprego para o futuro.

Rosana Jatobá – Você acha então que é um recurso mal empregado?

Célio Silva – Nesse ponto de vista que nós estamos dizendo, o que vai acontecer lá no Maracanã depois da Copa do Mundo? Vai fazer uma escola lá, vai ter eventos lá?

Rosana Jatobá – Vai ser acessível ao povo?

Célio Silva – Justamente. Tudo você paga para entrar, não é nosso, não é do povo? Então deixa os caras entrarem, vamos ver a exposição do Pelé, a exposição do não sei quem.

Rosana Jatobá – Você falou da grandiosidade desses estádios, aqui no Conversa com a Jatobá a gente fala muito sobre questões ambientais, preservação do meio ambiente e muitos desses estádios estão sendo construídos ou reformados para atender essas exigências de preservação ambiental, né. Por exemplo, contra o desperdício de água, contra o desperdício de energia, ventilação natural, painéis solares, enfim, o que você acha de toda essa tecnologia nos estádios brasileiros?

Célio Silva – Eu penso que é viável, já que vai se fazer, que faça realmente as necessidades do planeta, do mundo. Eu sou totalmente favorável, as grandes construções hoje, não só os estádios, os prédios novos que estão sendo construídos, a separação para colher água da chuva.

Rosana Jatobá – Para reaproveitar a água da chuva.

Célio Silva – Exatamente, então eu penso que aí é fantástico, a tecnologia, a inteligência do ser humano chegou realmente para isso. Nesse ponto eu não vejo problema algum.

Rosana Jatobá – Célio, você se considera um cidadão consciente, no sentido de ser preocupado com a questão da natureza, preocupado com o desperdício de água, de energia, de alimentos, de deixar o seu carro em casa para evitar poluir ainda mais a cidade? Como é que você lida com essas questões da sustentabilidade?

Célio Silva – Principalmente no bolso, né. Os meus filhos saem acendendo as luzes e eu vou atrás apagando (risos). Eu reclamava que meu pai falava “Quem deixou a luz acesa?” e hoje eu faço a mesma coisa. Acho que eu tô ficando velho.

Rosana Jatobá – Mas é bom porque desperdiçar assim à toa, não tem justificativa.

Célio Silva – Eu tenho que melhorar bastante porque eu gosto muito de tomar banho, principalmente o banho quente.

Rosana Jatobá – Quanto tempo dura o seu banho?

Célio Silva – É rápido, mas eu tomo banho toda hora.

Rosana Jatobá – Rápido o que?

Célio Silva – Cinco minutos no máximo.

Rosana Jatobá – Quantos banhos por dia?

Célio Silva – Eu tomo de manhã cedo, não saio de casa sem tomar um banho pela manhã, e se eu sair, for pra rua, por exemplo, eu levanto cedo, normalmente 6h30, 7h, se eu chegar em casa ao meio-dia, eu tomo outro banho. Eu chego em casa no final da tarde, ou eu seguro um pouquinho para tomar um só no final do dia.

Rosana Jatobá – Pelo menos três por dia, mas se for cinco minutos porque você não tem nem cabelo para lavar, dá aí uns 15 minutos. O ideal são sete minutos.

Célio Silva – Sete? Então eu tenho dois ainda?

Rosana Jatobá – Não, você já tá ultrapassando o dobro do ideal. Da próxima vez que você vir ao Conversa com a Jatobá, você vai falar pra mim que reduziu o tempo do banho.

Célio Silva – Eu pensei que era sete cada um.

Rosana Jatobá – Sete é um banho por dia.

Célio Silva – Só? Aí eu tenho que voltar para a França (risos).

Rosana Jatobá – Porque na França você tomava só um banho por dia?

Célio Silva – Só tomava um banho por dia, não existe ralo na sua casa, para você não ficar jogando água, espalhando, você tem que molhar um pano e passar no chão. Eu lembro muito bem de uma banheira de água para a minha filha tomar banho logo no início, daqui a pouco tem um cara desesperado batendo na minha porta, apertando a campainha. Eu abri, o cara saiu falando francês, eu não entendia nada, naquela ocasião o cara saiu correndo para dentro do banheiro, fechou a torneira e saiu esculhambando, eu não entendia nada.

Rosana Jatobá – Ele te deu uma bronca?

Célio Silva – Eu não sei se hoje ainda é assim, isso foi em 1993 que eu tava na França. Eu tinha um limite de água diário e se eu estourasse aquele limite, eu pagava. Mas mesmo pagando ele ainda vem me dar uma bronca.

Rosana Jatobá – E você ficou quietinho ali?

Célio Silva – Até porque eu não sabia o que ele estava falando (risos).

Rosana Jatobá – Só viu que ele estava bem bravo?

Célio Silva – Ele estava bravo, depois eu fui, chamei a moça, a intérprete lá e ele falou “Esse cara aí encheu uma banheira d’água”, aí eu falei “Mas não tem uma banheira aí? e ele disse “Não, é só enfeite”. Aí eu fui ver e não tinha ralo lá.

Rosana Jatobá – Mas isso te ajudou de alguma forma a você se conscientizar mais?

Célio Silva – Foi o primeiro lugar que eu vi aquela torneira que você aperta e sai água. A água é muito cara, hoje se você for em determinado mercado, você encontra aquelas águas francesas caríssimas. Lá não tem, aqui você cava um buraco e você acha água doce, lá não tem isso não.

Rosana Jatobá – Você aprendeu a valorizar a água com a sua experiência na França?

Célio Silva – Perfeitamente.

Rosana Jatobá – O que mais você aprendeu lá fora, pelas suas andanças pelo mundo que você acha que pode servir de exemplo para o brasileiro?

Célio Silva – Aqui a gente estraga muita comida, uma das coisas que mais me chamaram atenção foi que eu fui para a França 1 dólar valia uma fortuna, inflação 40% ao mês. Eu cheguei lá, eu contava para os caras e os caras não acreditavam. Vai subir o óleo de soja, a gente comprava caixa, quem tem 45 anos lembra disso aí, compra que vai subir. Eu fui para a França nessa época, eu entrei na fila do supermercado Carrefour com dois carrinhos lotados de óleo, aquela compra que a gente faz por mês. E eu passava e os caras estavam com só um saquinho na mão, os caras olhavam pra mim, na hora que eu cheguei na boca do caixa, a menina do caixa ficou assustada. Aí veio um cara na minha direção e falou assim “A guerra acabou, não precisa guardar mais” (risos). Porque o francês compra o que ele vai comer somente.

Rosana Jatobá – Para aquele dia e não desperdiça, né?

Célio Silva – Não, nada, nada. Na época de frio mesmo eles desligam a geladeira e colocam leite, queijo, bota tudo na janela.

Rosana Jatobá – É mesmo?

Célio Silva – Desliga a geladeira, tá um frio danado lá fora, desliga a geladeira e bota tudo na janela. É comum você passar e ver leite na janela.

Rosana Jatobá – E aí você aplica hoje na sua casa, nada de desperdício de comida?

Célio Silva – Não, hoje eu brigo realmente eu falo para os meus filhos quando eles jogam um pouco de comida fora, eu falo põe no prato o que você vai comer. Isso aí lá na Etiópia se você chegar com esse punhadinho de comida na rua, o cara passa por cima de você.

Rosana Jatobá – É verdade, 1 bilhão de famintos no mundo e a África é realmente uma miséria.

Célio Silva – E aqui nós desperdiçamos muito.

Rosana Jatobá – Eu acho que essa sua experiência como jogador, essa sua infância difícil, mas ao mesmo tempo muito feliz em contato com a natureza, tudo que você acumulou e hoje você quer passar para os meninos lá no Esperança Esporte Clube, eles tem muito a ganhar com o seu exemplo. Parabéns pela sua iniciativa com essas crianças!

Célio Silva – Eu agradeço.

Rosana Jatobá – Tomara que a gente revele não só talentos no futebol, mas grandes homens, homens de bem, que eu acho que é o seu objetivo.

Célio Silva – É o principal alvo.

Rosana Jatobá – E eu fiquei feliz em saber que você também está aí preocupado com a preservação do meio ambiente, tomando essas medidas simples no dia a dia que ajudam a gente ter melhor qualidade de vida.

Célio Silva – Isso é importante.

Rosana Jatobá – Eu quero agradecer pela sua presença aqui no Conversa com a Jatobá.

Célio Silva – Eu que agradeço, eu só queria dar um recadozinho. Logo, logo o nosso site vai estar no ar, vai ser esperancaesporteclube.com.br. Eu creio aí que até o dia 1º do mês que vem, ele já está no ar. Ali vão estar as leis que as pessoas podem fazer as suas doações. Essa lei é baseada no ICMS, no Imposto de Renda, nas notas fiscais paulistanas.

Rosana Jatobá – Ou seja, todas as empresas que têm interesse em deduzir do Imposto de Renda para ajudar esse projeto Esperança Esporte Clube, pode entrar lá no site que daqui a pouco está no ar, é o www.esperancaesporteclube.com.br. Então manda um beijo aí para os nossos ouvintes.

Célio Silva – Muito obrigado pela atenção, ficar aqui enchendo a orelha de vocês.

Rosana Jatobá – Imagina, foi uma delícia.

Célio Silva – Mas eu fico feliz de poder passar alguma coisa, às vezes o torcedor não sabe o que a gente tá fazendo, então é importante esse teu programa também que vem resgatar não só aquilo que a gente tem em mente, o que pretende fazer e até o torcedor saber onde nós estamos e o que nós estamos fazendo.

Rosana Jatobá – Você foi uma alegria para o torcedor brasileiro e agora é uma alegria para o cidadão brasileiro.

Célio Silva – Espero que seja muito mais, até o fim dos meus dias

Rosana Jatobá – Um beijo para você e para todos os ouvintes e você aí que tá ouvindo o Conversa com a Jatobá, até semana que vem! Uma ótima semana para todo mundo, tchau gente, um beijo!

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