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Conversa com a Jatobá recebe Cássio Scapin

por Universo Jatoba

1º bloco

Rosana Jatobá – Oi, pessoal! Boa tarde, seja bem vindo. Começa agora mais um Conversa com a Jatobá. Hoje eu tenho a honra de receber aqui no estúdio esse grande ator que já fez muitas novelas, filmes, minisséries e atua muito também no teatro, inclusive ele está em cartaz com a peça “Eu Não Dava Praquilo”, que está em cartaz no Hotel Renassaince, em São Paulo. Boa tarde, Cássio!

Cássio Scapin – Boa tarde, Rosana! É um prazer estar aqui com você.

Rosana Jatobá – Prazer o meu. Eu queria falar um pouco, já para começar, dessa peça “Eu Não Dava Praquilo”, a gente acabou de ouvir aí um trechinho, é um monólogo. É só você que fala na peça?

Cássio Scapin – É, o Jô Soares costuma dizer que não existe monólogo e sim um espetáculo solo porque uma vez que você está em cena você está se comunicando com a plateia, imediatamente você tem um interlocutor que é o público para o qual você tá se apresentando.

Rosana Jatobá – Ou seja, você tá interagindo ali?

Cássio Scapin – Eu tô interagindo ali. Na verdade esse espetáculo conta a história da Myrian Muniz. Myrian Muniz foi uma importante atriz paulista. No ano que vem vão fazer 10 anos que a Myrian Muniz morreu e ela foi muito atuante na década de 70, não só como atriz, mas depois como pedagoga para atores, uma formadora de atores.

Rosana Jatobá – E como é que surgiu a ideia de homenagear uma atriz nessa peça?

Cássio Scapin – A Myrian é uma personalidade muito importante do nosso teatro, da cultura nacional e do teatro paulista. Existe um vídeo, um DVD, a Myrian é muito avessa a entrevistas, então um grupo de amigas resolveu fazer um DVD, porque quase não existia registro da Myrian, sobre a trajetória da Myrian. E é um DVD emocionante, que vai muito além de um depoimento pessoal e passa a ser um depoimento de vida, de conduta de vida. E toda vez que eu via esse DVD, eu ficava muito emocionado. E junto com um poeta paulista chamado Cássio Junqueira, nós resolvemos fazer deste depoimento da Myrian um espetáculo, aonde não consta só o DVD, as entrevistas, os pensamentos da Myrian do DVD, mas a gente também recheou com uns poemas, coisas inclusive que a Myrian nunca fez em cena. E aí a gente faz no espetáculo como se a Myrian fizesse.

Rosana Jatobá – E por que você considera a Myrian uma pessoa tão especial a ponto de merecer uma peça?

Cássio Scapin – Porque ela tem pensamentos sobre o teatro e sobre o que é atuação, sobre a cultura nacional que hoje é muito relevante. A gente está se esquecendo, hoje é muito voltado para o culto da personalidade, o tipo de coisa que a Myrian era avessa, ela tinha em primeiro plano a qualidade artística e o comprometimento do ator como um pensamento cultural, como um pensamento da relação do ator com a sociedade, que hoje foi absolutamente abandonado. As pessoas muitas vezes procuram a profissão hoje em dia como…

Rosana Jatobá – Uma forma de aparecer?

Cássio Scapin – Uma forma de aparecer, uma forma de ascensão social. E a Myrian era avessa a esse tipo de conduta.

Rosana Jatobá – Ela amava o teatro na sua essência?

Cássio Scapin – Ela era o teatro. É impossível você falar da Myrian desassociado da questão teatral. A Myrian era uma mulher de teatro, era um bicho de teatro. A Myrian essencialmente era uma mulher da arte. Então é muito importante hoje estar retomando esse tipo de pensamento no momento que a cultura no país é tão renegada a segundo plano, onde a gente tem principalmente a cultura do país voltada para uma cultura de massa, de consumo imediato, é justamente o que a Myrian fala que não deve ser cultura.

Rosana Jatobá – E o nome “Eu Não Dava Praquilo”, qual é a relação que tem?

Cássio Scapin – “Eu Não Dava Pra Aquilo” é o que a Myrian antes de embarcar de cabeça na profissão de atriz, ela tentou algumas outras profissões como, por exemplo, as duas que a gente cita que era bailarina e enfermeira. E quase ela desistiu de ser diretora de teatro, porque a Myrian também foi uma importante diretora. Ela dirigiu um espetáculo musical muito importante no Brasil chamado “Falso Brilhante”, que virou um marco na carreira da Elis Regina e a Myrian dirigiu esse espetáculo.

Rosana Jatobá – A grande Elis.

Cássio Scapin – A grande Elis Regina.

Rosana Jatobá – Vamos aproveitar o nosso bate-papo para refrescar a memória dos nossos ouvintes com essa música linda da Elis Regina “Falso Brilhante”.

Cássio Scapin – Vamos lá.

Rosana Jatobá – João Bosco que compôs essa música “Falso Brilhante”, né?

Cássio Scapin – É.

Rosana Jatobá – E a Myrian trabalhou com a Elis Regina?

Cássio Scapin – A Myrian dirigiu a Elis Regina, a Myrian fez o roteiro desse espetáculo brilhante com uma equipe brilhante, era Naum Alves de Souza, José Rubens Siqueira fazendo o roteiro junto com a Myrian e o Naum Alves de Souza fazendo toda a coreografia do espetáculo. Foi a primeira vez que a Elis Regina deu um passo na carreira que era um espetáculo que a Elis inclusive atuava um pouco.

Rosana Jatobá – Era um pouco atriz, um pouco intérprete?

Cássio Scapin – Era um pouco atriz, um pouco cantora, um pouco intérprete.

Rosana Jatobá – Agora é interessante a gente divulgar essa peça de vocês, o espetáculo “Eu Não Dava Praquilo”, quando hoje se fala muito da questão das biografias não autorizadas. Então está muito apropriado o tema, o que você acha desse assunto?

Cássio Scapin – Olha, ontem eu tomei um vôo e por acaso eu revi um trecho de uma matéria sobre o Santos Dumont. Santos Dumont foi mais que um inventor, ele foi um cientista brasileiro, que declaradamente ele outorgou tudo que ele fez para a sociedade, inclusive sua própria biografia. Eu acho que não tem que ter essa história de biografia pré-autorizada. A questão é a seguinte, se não a gente começa a ter um cerceamento de liberdade, isso é uma censura, isso é uma coisa absurda. Existem mecanismos na lei para que se garanta um ressarcimento, alguma coisa, isso já existe.

Rosana Jatobá – Para uma ação de difamação, injúria, né?

Cássio Scapin – Inaceitável, acho que uma coisa que é permiciosa hoje para a cultura nacional é a as coisas estão sendo movimentadas a questão financeira. As pessoas pensam em primeira instância na questão financeira. É quase a discussão principal: pagando bem que mal tem? Então eu acho que o resultante dessa discussão que é muito triste é esta, você em detrimento da cultura nacional, em detrimento da memória, você começa a criar um mecanismo, que é um mecanismo voltado para a questão econômica do lucro.

Rosana Jatobá – Isso pra você que é um ator de teatro, que é um militante do palco, é aviltante?

Cássio Scapin – Pra mim é aviltante, é desnecessário, é inaceitável, pra mim é um equívoco de pensamento que é um estrago para a cultura nacional. Um estrago para a honra dessas pessoas que uma vez que lutaram para que não houvesse censura, não houvesse ditadura. Eu lembro que a gente fazia espetáculo para censura prévia, onde a censura chegava lá e decidia o que deveria falar ou não, onde fazíamos espetáculo para três ou quatro pessoas na plateia que era censores que diziam o que a gente devia dizer ou não, quais as coisas do texto que deveriam ser cortadas. É a mesma coisa.

Rosana Jatobá – Então não a isso, a esse movimento.

Cássio Scapin – Não a isso, é ridículo.

Rosana Jatobá – Então nessa “Eu Não Dava Praquilo” que traz a história da Myrian, essa grande diretora de teatro, hoje você pode dizer o que diante da debandada das pessoas? Eu tava conversando com o Antônio Fagundes e ele lamentava o fato que o jovem brasileiro não frequenta o teatro. Por que?

Cássio Scapin – Por que? Porque a educação do Brasil não é voltada, não é associada à cultura. A gente hoje tem um país de formadores de educação funcional, uma educação muito objetivada.

Rosana Jatobá – Para ser técnico, né?

Cássio Scapin – Para ser técnico. Então eu acho que o Brasil não se preocupou em associar cultura a educação, começou a ter uma linha divisória muito grave e prejudicial para o país. Então por isso que as pessoas não se interessam ir ao teatro, porque pensar dá trabalho. Pensar é prazeroso, mas dá trabalho. Então as pessoas não estão interessadas em pensar, em refletir e uma das funções da educação que se perdeu é o encaminhamento para a reflexão, para o pensamento.

Rosana Jatobá – E você acha que o teatro então é a grande ferramenta nesse sentido?

Cássio Scapin – Sem dúvida que é uma grande ferramenta nesse sentido e a gente dizer que não tem público no teatro é mentira. Tem público sim, mas o público opta pra assistir coisas que não pense.

Rosana Jatobá – Só para divertir, dar risada.

Cássio Scapin – O público opta pra diversão. Tem um momento aí que eu acho que por culpa da educação que a gente tem no país, que foi associar cultura a entretenimento. Cultura não é só entretenimento. A cultura também entretém, também pode divertir, você pode se divertir com a cultura, mas o teatro virou um lugar aonde você não deve pensar, aonde você só tem que rir, aonde é uma zona de esquecimento da realidade, de falta de contato com a realidade. Tipo um escape ou uma crítica vulgar ao teu cotidiano, isso é culpa da cultura que a gente tem no país, da educação que a gente tem.

Rosana Jatobá – Que bom que nós temos um ator como você, o Cássio Scapin, que resgata essa questão do teatro sendo um cenário de reflexão!

Cássio Scapin – Não sou só eu não. Você falou do Fagundes, você citou o Fafá, o Fafá é um cara que tá em cartaz com um espetáculo bacana.

Rosana Jatobá – Que trata da surdez, né. Uma inclusão social muito importante.

Cássio Scapin – Muito importante, muito bacana. O Fagundes sempre foi o cara que lutou bastante por isso.

Rosana Jatobá – E ele é uma celebridade.

Cássio Scapin – E ele é uma celebridade, mesmo assim ainda tem dificuldade de público pelas opções que o Fagundes faz, pela escolha do material que ele tá levando pra cena. Porque as pessoas se desabituaram, muitas vezes elas querem ver a reprodução do Fagundes, do Fafá, daquilo que ele faz na televisão. E às vezes as pessoas se decepcionam, porque ele quer fazer outra coisa, ele sabe que o teatro é um lugar onde ele pode fazer outra coisa.

Rosana Jatobá – E essa peça dele que está em cartaz no Teatro Tuca, nós já falamos aqui no Conversa com a Jatobá, é uma peça que trata da deficiência auditiva. Eu acho muito interessante a gente voltar a falar nesse assunto porque no Brasil nós temos 15 milhões de deficientes auditivos. No próximo bloco, eu quero repercutir outras facetas do ator Cássio Scapin. Você que já faz novela, minissérie, uma série de coisas, está totalmente entregue aos bens culturais.

Cássio Scapin – Tá ok.

Rosana Jatobá – Pra gente ir para o intervalo, eu sugiro que a gente ouça um pouco da Bethânia porque esse espetáculo conta um pouquinho ali de uma passagem da história da Bethânia.

Cássio Scapin – É e vai falar do teatro de arena que foi um movimento importante do teatro paulista aonde a Bethânia teve ali uma incursão em alguns espetáculos de arena.

Rosana Jatobá – Então vamos lá, “Carcará” com a Maria Bethânia.

2º bloco

Rosana Jatobá – De volta no Conversa com a Jatobá, hoje entrevistando o grande ator Cássio Scapin. No primeiro bloco a gente falou sobre a atuação dele numa peça, que está em cartaz em São Paulo, no Teatro Renassaince, “Eu Não Dava Praquilo”, que conta a história de uma grande diretora de teatro, a Myrian Muniz. Agora eu quero saber do Cássio a atuação dele no Castelo Rá-Tim-Bum, que foi um sucesso na televisão para o público infantil, né, Cássio?

Cássio Scapin – Pois é, formou algumas gerações. O Castelo Rá-Tim-Bum agora passa na TV a cabo ainda, na TV Rá-Tim-Bum e formou várias gerações, uma sequência de gerações. O programa tem 18 anos.

Rosana Jatobá – Mas você participou desde o início?

Cássio Scapin – Não, na verdade foi o seguinte, o programa tem a duração de 90 episódios só e esses 90 episódios foram reprisados durante esse tempo todo. E virou um cult, é um dos programas infantis mais importantes, se não o mais importante da TV brasileira e de algumas TVs fora do país. É um programa que foi dublado em chinês, foi dublado em espanhol, passa em Cuba, foi dublado em russo, passa na França, hoje passa na TV a cabo nos Estados Unidos.

Rosana Jatobá – Quer dizer que corre o risco de você viajar e ser reconhecido lá fora?

Cássio Scapin – Já aconteceu (risos).

Rosana Jatobá – Aonde?

Cássio Scapin – Aconteceu em Paris, já aconteceu na Espanha, então é um programa que virou uma referência de cultura para criança.

Rosana Jatobá – E você era o Nino.

Cássio Scapin – Eu era o Nino, eu era o protagonista da série.

Rosana Jatobá – O que você fazia? Porque nessa época, 18 anos atrás, eu já me interessava por outras coisas. Eu confesso que eu não assistia.

Cássio Scapin – Tá certo (risos). O Nino ele era um aprendiz de feiticeiro, ele tinha 300 anos, ele tinha o Tio Vítor e a Morgana, que a Morgana quem fazia era a Rosi Campos, que era uma bruxa. O Doutor Vítor que também era um feiticeiro e era meu tio e eu era um aprendiz de feiticeiro que não conseguia crescer. Na verdade tem gente que brinca que o Harry Potter foi inspirado no Castelo Rá-Tim-Bum. Tem muita gente que fala isso.

Rosana Jatobá – Eu não duvido não porque os brasileiros são muito criativos e exportam as ideias aí mundo afora.

Cássio Scapin – É verdade.

Rosana Jatobá – Você se lembra de algum trechinho do Nino?

Cássio Scapin – Ah, não lembro assim. Faz muito tempo, 18 anos atrás, não lembro mais.

Rosana Jatobá – Mas qual era a mensagem do Castelo?

Cássio Scapin – A mensagem do Castelo principalmente era um programa cultural, didático para as crianças, aonde tinha esse garoto de 300 anos que morava isolado nessa casa, ele ficava isolado do convívio externo e recebia a visita de três crianças aonde tinha informações do mundo externo por essas três crianças. Então era um moleque muito especial e como ele era bem aceito por essas crianças. Mais ou menos o que você tava falando sobre a inclusão social, era um jeito de incluir o amiguinho diferente.

Rosana Jatobá – Por meio das diferenças encontrar as semelhanças, né?

Cássio Scapin – Exatamente.

Rosana Jatobá – E você também já protagonizou outros papeis aí no cenário infantil?

Cássio Scapin – Pois é, eu tinha um projeto na Sala São Paulo que se chamava Aprendiz de Maestro, junto com o maestro João Maurício Galindo, onde a gente trabalhava com música pra criança e informações sobre música erudita pra criança. Um projeto com a Tuca, que é uma associação que trabalha com crianças deficientes e tumores cerebrais e é muito importante em São Paulo, faz um trabalho bárbaro. E a gente fazia concertos e a renda desses concertos era voltada pra essa instituição.

Rosana Jatobá – Interessante você citar isso porque o Conversa com a Jatobá é um programa de sustentabilidade, ou seja, se preocupa com as futuras gerações, quer falar de impacto ambiental, de preservação do meio ambiente e inclusão social, responsabilidade social por uma sociedade mais justa, mais igualitária. E você emprestando seu talento para um projeto como esse eu acho que todo artista deveria pensar um pouco em como revelar isso para o público, inspirar as pessoas também a se engajarem. E você escolhe os seus projetos com esse viés?

Cássio Scapin – Na medida do possível sim, eu escolho sim. Eu tenho muito cuidado com o que eu faço, com as escolhas que eu faço no palco, com os espetáculos que eu vou fazer, eu sou muito parcimonioso de saber exatamente o que eu tô fazendo e que impacto que isso vai atingir o público, qual a importância do que eu vou estar dizendo. Então eu tenho essa preocupação. A gente fazia no teatro Vivo um espetáculo, era Claudinho Fontana e eu onde a gente inaugurou o processo de audiodescrição durante o espetáculo para pessoas com problema de surdez. A gente inaugurou essa dinâmica no teatro Vivo, então a gente sempre tenta dar um viés nesse sentido.

Rosana Jatobá – Até porque hoje as crianças são as grandes agentes transformadoras. Elas que estão repreendendo os pais com relação a economia de água, de energia, preservação da natureza, não jogar lixo na rua, ter uma atitude mais consciente dentro de casa, né?

Cássio Scapin – Sem dúvida.

Rosana Jatobá – E você que é um cara que já atua há muitos anos nesse cenário infantil, pensa em fazer alguma coisa que tenha mais ou menos essa cara da sustentabilidade?

Cássio Scapin – Olha, eu tenho muita vontade. Eu tenho pensado muito num projeto, o Brasil que é um país que está envelhecendo, como é que a gente vai trabalhar a questão do idoso no país, as questões de sobrevivência desse país tem se tornado cada vez mais difíceis, no sentido da saúde…

Rosana Jatobá – Da mobilidade.

Cássio Scapin – Da mobilidade. São Paulo é uma cidade gigantesca com uma péssima condição de mobilidade e o idoso tem estado muito prejudicado na cidade de São Paulo. Então eu penso em caminhar, em tentar fazer um projeto para que acolha a terceira idade.

Rosana Jatobá – Mais qualidade de vida?

Cássio Scapin – Mais qualidade de vida para a terceira idade. Na Suíça você tem projetos que você tem cuidadores voluntários. Hoje com essa questão do seguro saúde e desta modificação que eles fizeram na legalização dos empregados domésticos, muita gente da terceira idade ficou com uma grande dificuldade.

Rosana Jatobá – De ter acesso a cuidadores?

Cássio Scapin – Ter acesso a cuidadores porque não se paga empregado com uma aposentadoria que você consegue. Na Suíça ainda existe um projeto de cuidadores voluntários aonde eles não passam o dia com o idoso, eles vão, eles dão assistência, eles verificam se está tudo certo, um outro cuidador volta à tarde. Ou então um outro sistema de troca de informações, de troca de aprendizado. Tem muita coisa que o idoso pode fornecer como informação para não se sentir só cuidado. Também acho isso é um porre, essa coisa, mas ele pode fornecer…

Rosana Jatobá – Ele não precisa de uma babá?

Cássio Scapin – É uma troca de informação, ele tem uma cultura, ele tem uma vivência, um conhecimento, que é uma transferência de cultura, uma transferência de informação, que eu penso em fazer alguma coisa no futuro a esse respeito.

Rosana Jatobá – Agora falando de novo do público infantil, você também atuou no “Sítio do pica-pau amarelo”.

Cássio Scapin – Também, fiz na Rede Globo o “Sítio do pica-pau amarelo”, que era um dos últimos períodos da série com direção do Ulisses Cruz.

Rosana Jatobá – Não foi aquela primeira versão que eu assisti.

Cássio Scapin – Não, não foi a primeira versão que eu também assisti (risos).

Rosana Jatobá – Essa última eu vou pegar para os meus filhos assistirem, para ter o prazer de te ver.

Cássio Scapin – Hoje eu sou um contratado da Record, trabalho na TV Record. Minha última novela na TV Record foi “Ribeirão do Tempo” e o ano que vem eu devo estar voltando pra lá pra fazer alguma coisa lá.

Rosana Jatobá – Agora no “Sítio do pica-pau amarelo” você era quem?  O Visconde?

Cássio Scapin – Não, eu era o Urbano. Não lembro o nome do personagem, faz bastante tempo. Urbano Madureira.

Rosana Jatobá – Urbano Madureira. O que ele fazia?

Cássio Scapin – Urbano Madureira era um cientista que, por acaso, ele acaba se casando com uma mulher do interior, que quem fazia era a Bel Kutner, filha da Dina Staf, e ela era uma caipora e ele não sabia. Era a relação dele, ele era um cara da cidade que não gostava muito do mato e acaba se casando com uma mulher que era quase um bicho do mato.

Rosana Jatobá – Ah, interessante porque resgata a questão das lendas, né? Do imaginário que é tão rico no nosso Brasil.

Cássio Scapin – Exatamente.

Rosana Jatobá – É bom saber o quanto você transita, você vai de um tema denso, de uma biografia de uma diretora de teatro até um personagem no cenário infantil que foi falar da caipora. Pra você é uma riqueza como ator?

Cássio Scapin – Pra mim é ótimo. Antes do Myrian do “Eu Não Dava Praquilo”, eu fazia um espetáculo chamado “Lampião Lancelote”, que era um musical que tava no Sesi, um musical brasileiro ótimo, que foi indicado para vários prêmios. Foi indicado para o Prêmio Coca-Cola como ator coadjuvante desse musical. Agora o Myrian está indicado para três prêmios: melhor texto, melhor ator e melhor direção, que é o Elias Andreato, que dirigiu esse espetáculo. Então já tem três prêmios APCAs indicados para o espetáculo “Eu Não Dava Praquilo”.

Rosana Jatobá – Eu se eu fosse jurada eu votaria em você tranquilamente, até porque eu já te vi no palco. Eu me lembro naquela peça com o Paulo Autran, há muitos anos numa reportagem que eu fiz para o Jornal da Globo “Visitando Mister Green”. Eu entrevistei você e ele, você não deve se lembrar de mim. Naquela época eu era muito jovenzinha, eu tô com outra cara agora (risos).

Cássio Scapin – Eu lembro sim, claro.

Rosana Jatobá – Só pra te dizer o quanto me impressionou a sua atuação diante de um monstro como o Paulo Autran.

Cássio Scapin – Que foi um grande parceiro, era um grande homem de outro. Foi uma honra trabalhar com o Paulo, foi uma grande escola, aprendi muito e ganhei um grande amigo ali na figura do Paulo. Foi um período muito feliz da minha vida.

Rosana Jatobá – Na televisão você chegou a atuar com o Paulo Autran?

Cássio Scapin – Não cheguei, infelizmente.

Rosana Jatobá – Olha, no próximo bloco eu vou conversar aqui com o Cássio Scapin sobre a atuação dele na televisão. Na TV Globo ele fez a novela “A lua me disse”. Vamos ouvir um pouco da trilha.

3º bloco

Rosana Jatobá – De volta no Conversa com a Jatobá. Eu recebo hoje o grande ator Cássio Scapin. Você tá ouvindo aí um trechinho da peça “Eu Não Dava Praquilo”, o Cássio está em cartaz no Teatro Renassaince em São Paulo de quinta a domingo. É isso, Cássio?

Cássio Scapin – Sextas, sábados e domingos. Sextas às 21h30, sábado às 21h e domingo às 18h. Gostaria de convidar vocês da Rádio Globo, é o seguinte, os ouvintes que ligarem aqui pra Rádio Globo, eu tô disponibilizando três pares de ingressos.

Rosana Jatobá – Três pares, ou seja, seis convites.

Cássio Scapin – Exatamente. É só deixar o nome e o RG e vocês retiram o ingresso na bilheteria do teatro.

Rosana Jatobá – Então olha só, atenção! Você que tá interessado em ver essa peça, que eu recomendo “Eu Não Dava Praquilo”, interpretada pelo Cássio Scapin, inclusive com texto do próprio Cássio, liga agora aqui pra Rádio Globo. A gente vai sortear três pares de ingressos, no total são seis convites. Se você ligar, você ganha para levar alguém que você goste pra assistir ““Eu Não Dava Praquilo”. Mas agora eu quero falar um pouco sobre a questão do Cássio na televisão. O que você tá fazendo hoje em dia na TV, Cássio?

Cássio Scapin – Hoje eu estou contratado da TV Record, a minha última novela ali foi o “Ribeirão do Tempo”, novela onde eu fazia um nerd de computador, um maluco de computador. E o ano que vem eu devo voltar às telas da Rede Record porque meu contrato é longo ali, fazendo uma novela que ainda não sei qual é.

Rosana Jatobá – Tá bom. Agora na TV Globo você chegou a fazer “A Lua me disse”.

Cássio Scapin – Exatamente. Na TV Globo eu fiz “A Lua me disse” como novela e fiz uma minissérie que era “Um só coração”, que falava dos 450 anos do aniversário de São Paulo e eu fazia Santos Dumont, que era um papel que eu adorei fazer. E na “Lua me disse”, eu fazia um personagem chamado Samovar, que era uma novela do Miguel Falabella que era muito divertida.

Rosana Jatobá – Samovar, eu me lembro desse personagem. Como é que ele era?

Cássio Scapin – Olha, o Samovar era um personal stylist que dava umas dicas.

Rosana Jatobá – Era todo escandaloso.

Cássio Scapin – Exatamente.

Rosana Jatobá – E trabalhar com o Falabella foi uma experiência.

Cássio Scapin – É uma delícia porque ele é um gênio, um querido, uma pessoa ótima, adoro o Miguel e foi um prazer ter feito a novela lá com ele.

Rosana Jatobá – Agora pra você como Santos Dumont na televisão deve ter sido também um aprendizado, né?

Cássio Scapin – É, era uma minissérie da Maria Adelaide Amaral, que foi um presente esse personagem, foi muito legal, eu adorava fazer. Primeiro, pela personalidade do Santos Dumont e era uma minissérie muito, muito bem cuidada, direção geral do Ulisses Cruz, era uma reconstituição de época bárbara e contava a história de São Paulo. Então eu era duplamente contente (risos).

Rosana Jatobá – Você é paulistano?

Cássio Scapin – Sou, sou orgulhoso da terra.

Rosana Jatobá – E depois disso, o que você traz dessa atuação na televisão como Santos Dumont?  O que vocês tinham em comum?

Cássio Scapin – O que me admira até hoje com a personalidade de Santos Dumont, é que ele foi um cara que viveu a medida, ele foi um homem muito rico. Mas ele conseguiu viver a medida do dinheiro que ele tinha, sendo útil para a sociedade, ele acabou na medida certa. Tudo que ele tinha ele devolveu para a sociedade, todas as posses, todo o dinheiro dele ele redirecionou para a sociedade brasileira.

Rosana Jatobá – Deixou um legado, né?

Cássio Scapin – Deixou um legado, inclusive financeiro, ele devolveu as terras que ele ganhou como prêmio. Então eu acho isso um mérito e um exemplo para que os nossos políticos seguissem, para que fossem mais generosos, menos gananciosos, menos preocupados com as suas contas particulares. Então temos que lembrar que nós tivemos um grande homem no país onde ele reverteu tudo para a sociedade brasileira.

Rosana Jatobá – Existe aí uma polêmica de que ele não teria sido o inventor do avião, isso você toca nesse trabalho?

Cássio Scapin – Sim, a gente toca nesse trabalho. Tem uma coisa dos irmãos Wright, mas hoje já existe um estudo que se comprova que as fotografias apresentadas pelos irmãos  Wright que eles voaram, eles planaram com o avião deles apenas 20 metros. E o Santos Dumont fez um percurso de 200 metros com o 14 Bis.

Rosana Jatobá – Um percurso muito maior.

Cássio Scapin – Muito maior. E as fotos apresentadas pelos irmãos Wright foram apresentadas três anos após a publicação e o registro do vôo do 14 Bis com uma plateia imensa no Campo de Bagatelle, em Paris, e os irmãos Wright não tinham nenhuma testemunha, só aquelas fotografias. Então hoje já se coloca em xeque, em dúvida essa questão. Não é uma questão de vaidade, mas é uma questão para o povo brasileiro, para a memória do Santos Dumont, mas é uma questão de justiça simplesmente isso.

Rosana Jatobá – E ele realmente deixou esse grande legado de ser o pai da aviação, mas acima de tudo uma personalidade tão generosa, se preocupava em ser útil para a sociedade.

Cássio Scapin – Um homem cultíssimo, um homem elegantíssimo, era um apaixonado pela aventura. Tem fatos bárbaros do Santos Dumont pendurado na lateral de um prédio pacientemente aguardando o socorro dos bombeiros em Paris, tem coisas muito interessantes, muito peculiares.

Rosana Jatobá – E você tem uma certa semelhança física.

Cássio Scapin – Pois é, eu ficava muito parecido.

Rosana Jatobá – É, com aquele chapéu.

Cássio Scapin – Eu ficava muito parecido com o Santos Dumont, até eu me assustei um dia quando eu vi.

Rosana Jatobá – O que você queria ter do Santos Dumont?

Cássio Scapin – A inteligência.

Rosana Jatobá – Eu acho que você um pouquinho mais você chega lá (risos). A criatividade, a inventividade.

Cássio Scapin – A criatividade, a inventividade, eu acho que seria ótimo.

Rosana Jatobá – Agora você viveu também um grande homem para o Brasil, não chegou a protagonizar o Luiz Gonzaga, mas também participou do filme.

Cássio Scapin – Participei do filme aonde eu fazia o Ary Barroso.

Rosana Jatobá – Ah, grande Ary Barroso.

Cássio Scapin – Participei do filme que foi um importante compositor e ele tinha um programa de rádio e o Ary Barroso era muito cruel, ele deu umas três gongadas no Gonzagão. Inclusive tem uma passagem do Ary Barroso com a Elza Soares que ela conta que ela foi muito mal ajambrada no programa, porque a Elza era muito pobre. Ela foi muito mal ajambrada com a roupa da mãe dela e a Elza era muito magrinha, muito pequeninha e ela foi cheia de alfinetes na roupa e aí o Ary Barroso virou pra ela e disse “Minha filha, de que país você veio?” e ela disse “Meu senhor, eu vim do bairro do Planeta Fome.

Rosana Jatobá – Nossa, forte.

Cássio Scapin – A Elza encantou e foi brilhante, soltou a voz e se tornou a grande Elza Soares que a gente conhece hoje.

Rosana Jatobá – Então assim, agora eu tô na dúvida se a gente toca uma música da Elza Soares ou do Gonzagão. O que você sugere?

Cássio Scapin – Ah, manda uma Elza Soares.

Rosana Jatobá – Vamos lá com Elza Soares, ela é maravilhosa. Nessa música “Do cóccix até o pescoço”, é a fase mais moderna da Elza?

Cássio Scapin – Isso, esse é um dos últimos CDs da Elza, acho que é o penúltimo CD da Elza e mostra que é uma mulher que continua antenada, continua atualizada.

Rosana Jatobá – Mas a danada tá firme e forte, né.

Cássio Scapin – É uma beleza.

Rosana Jatobá – Você curte ela, você ouve?

Cássio Scapin – Adoro, adoro.

Rosana Jatobá – E o Gonzagão?

Cássio Scapin – Olha, adoro também Gonzagão, eu acho que é um grande nome da nossa música, da cultura popular e ele teve uma trajetória importantíssima de resgate da raiz cultural brasileira.

Rosana Jatobá – E no filme “Luiz Gonzaga – de pai para filho”, o que você trouxe par a sua trajetória como ator daquela experiência?

Cássio Scapin – Olha, foi um prazer tá fazendo, eu adoro fazer coisas de época. Adoro contar esse período da história do Brasil, então foi um prazer me envolver, fazer esse raciocínio da Rádio Nacional, o que era essa dinâmica, dos cantores tentando a sobrevivência aonde tinha uma qualidade musical impressionante.

Rosana Jatobá – Mesmo com poucos recursos, né.

Cássio Scapin – Mesmo com poucos recursos aonde a gente ainda tinha uma musicalidade não de quatro notas, arranjos maravilhosos. E mesmo quando a questão era popular, uma criatividade sonora que a gente anda um pouquinho defasado.

Rosana Jatobá – Eu entrevistei aqui no programa o Chambinho do Acordeon, que foi o Luiz Gonzaga nesse filme.

Cássio Scapin – Isso.

Rosana Jatobá – Como é que foi a experiência de trabalhar com ele?

Cássio Scapin – Foi ótima, é um cara genial, super simpático e se saiu muito bem na experiência como ator, né.

Rosana Jatobá – Era inédito pra ele.

Cássio Scapin – Inédito pra ele e ele fez com uma delicadeza muito impressionante.

Rosana Jatobá – Incrível você me dizer isso porque no final foi isso que ele falou aqui pra gente (risos).

Cássio Scapin – Verdade?

Rosana Jatobá – Ele falou que ficou apavorado.

Cássio Scapin – Eu imagino, mas ele fez e foi muito bonito ver ele fazer.

Rosana Jatobá – O resultado é realmente primoroso.

Cássio Scapin – E o trato com ele era muito bom.

Rosana Jatobá – Então sugere pra gente uma música do Gonzagão.

Cássio Scapin – Eu mando a tradicional “Asa Branca”.

Rosana Jatobá – Vamos lá.

4º bloco

Rosana Jatobá – Zizi Possi com a música “Nem um toque”, você tá ouvindo porque o nosso entrevistado de hoje, o Cássio Scapin, esse grande ator, adora Zizi Possi, né, Cássio?

Cássio Scapin – Adoro a Zizi Possi, a Gal Costa, Marisa Monte, adoro, adoro.

Rosana Jatobá – Agora nada desses estilos mais modernos aí, do axé, do funk?

Cássio Scapin – Olha, não gosto. Eu não vou nem fingir, fazer uma onda, eu não gosto.

Rosana Jatobá – Por que você não gosta desses estilos?

Cássio Scapin – Não tem a ver com a minha personalidade, não me encanta, não reverbera.

Rosana Jatobá – Você utiliza a música com que intenção, ela serve para fluir, para você se transportar desse mundo, para refletir?

Cássio Scapin – Olha, ela serve pra me transportar desse mundo, pra me dar um estado de espírito de elevação e não é que eu goste só de música erudita, que eu seja sério. Eu sou de escola de samba, eu saio na Mocidade Alegre aqui em São Paulo todo ano. Eu sou destaque da Mocidade há 15 anos, adoro samba, adoro escola de samba.

Rosana Jatobá – E você tem samba no pé?

Cássio Scapin – Tenho, eu sou destaque da escola.

Rosana Jatobá – Você aprendeu a sambar ou já tá no sangue?

Cássio Scapin – Já tá no sangue.

Rosana Jatobá – É mesmo?

Cássio Scapin – Tem um lado brasileiro aí, tenho uma neguinha dentro de mim (risos).

Rosana Jatobá – Com esse nariz de judeu.

Cássio Scapin – Com esse nariz de judeu, tem uma neguinha judaica. Eu adoro, adoro escola de samba.

Rosana Jatobá – É uma delícia bateria quando tá ali na passarela, né?

Cássio Scapin – É, eu vou na quadra da Mocidade Alegre e me sinto super confortável, me sinto feliz, é um ambiente super agradável, super carinhoso. Você vê a relação, uma festa popular onde você tem adolescente, adulto, gente da terceira idade, brincando e dançando juntas num ambiente delicioso, aonde tem criança, tem paquera, onde tem tudo e é uma comunidade junta que tá ali, onde a família participa. Olha, eu adoro o pessoal da quadra da Mocidade, a dona Solange, que é diretora da escola, o Sidnei.

Rosana Jatobá – Você é destaque então

Cássio Scapin – Eu sou destaque da Mocidade todo ano.

Rosana Jatobá – Você vai com a fantasia apropriada, passa por todos os ensaios, ou seja, todo o processo você participa?

Cássio Scapin – Participo. Na semana passada eu não pude porque eu estava trabalhando, tinha que ir para o Rio, teve a apresentação das próximas fantasias para o ano que vem. Não pude ir, infelizmente.

Rosana Jatobá – E qual é o tema?

Cássio Scapin – Eu não vi esse ano.

Rosana Jatobá – Ainda não sabe. Eu acho que eles não divulgaram ainda.

Cássio Scapin – Eu tô afastado por causa do trabalho, mas daqui a pouco eu começo ir.

Rosana Jatobá – E pra você é rápido pegar ali a letra, você pega rápido?

Cássio Scapin – Pego rápido, mas eu faço questão de ir a muitos ensaios porque eu gosto do ambiente, eu quase já não saio mais pra dançar à noite, me divertir à noite. E quando vai chegando o Carnaval é o meu lugar de diversão, eu gosto de ir para os ensaios.

Rosana Jatobá – E você extravasa no Carnaval?

Cássio Scapin – Ah, extravaso, extravaso. Adoro avenida, eu sempre comparo a escola de samba como a ópera, é uma ópera popular, uma ópera nacional. Você tem ali aquela passagem daquela escola que canta uma história, que canta um tema, é uma ópera popular. E gosto muito dos desfiles, eu vejo os desfiles no Rio também, geralmente no segundo dia. Eu saio daqui e vou para assistir o desfile do segundo dia do Rio de Janeiro. Mas eu adoro o desfile de São Paulo, ainda tem um contato caloroso com a plateia, as comunidades estão nas arquibancadas, então eu gosto muito do desfile aqui em São Paulo.

Rosana Jatobá – Você já disse que tem samba no pé e tem condicionamento físico, que eu tô te olhando e tô vendo, magrinho, forte com 49 anos de idade. Como assim?

Cássio Scapin – Pois é, eu faço esse ano 49. Olha, eu dancei muitos anos, eu fiz aula de balé clássico durante muitos anos, acho que uns 10 anos, então acho que eu tenho uma memória muscular boa, então isso ajuda. E adoro dançar.

Rosana Jatobá – Agora tá explicado. E a coisa do condicionamento físico também te ajuda nessa maratona de peças, né?

Cássio Scapin – Me ajuda, sem dúvida. O teatro te exige muito fisicamente, a energia que você despende, pode ser um espetáculo que o ator nem se movimenta tanta, mas a energia vital que ele despende pra entrar em contato com a plateia é grande. Você move um núcleo de energia pra poder cativar a plateia, às vezes parece que você não tá fazendo nada, mas você tá emanando uma energia muito forte, então é bom você estar bem preparado.

Rosana Jatobá – E onde é que você recarrega as suas energias, você é da natureza, tem essa conexão?

Cássio Scapin – Olha, eu não tenho por falta de tempo, porque eu trabalho muito, graças a Deus. Eu vou muito a academia, faço aula de dança sempre que eu posso, continuo mantendo essa questão de aulas de dança. Semana passa eu consegui tirar cinco dias de folga pra ir pra Buenos Aires, que é uma cidade que eu gosto.

Rosana Jatobá – Tá linda Buenos Aires, a despeito de toda a crise.

Cássio Scapin – Mas continua sendo uma cidade limpa, uma pequena Europazinha. Eu ia pra Lisboa, mas era muito longe, eram 11 horas de vôo e eu não estava com saco de ficar no avião 11 horas, fui pra Buenos Aires que é aqui do ladinho.  Vi em cinco dias 8 peças, eu sempre faço isso. Enquanto descansa carrega pedra, né.

Rosana Jatobá – E a alimentação?

Cássio Scapin – Olha, eu cuido bastante da alimentação. Como bastante saladas, frutas.

Rosana Jatobá – Orgânicos?

Cássio Scapin – Orgânicos, procura sempre buscar verdura orgânica. Eu como carne, não consegui me livrar da carne.

Rosana Jatobá – Mas você fala assim “Não consegui me livrar da carne”, você sabe que a carne em excesso traz problemas?

Cássio Scapin – Eu sei que a carne traz problemas e gostaria de me livrar da questão da carne também por uma questão de humanidade, mas ainda infelizmente não consigo.

Rosana Jatobá – Mas aí eu te pergunto, humanidade você tá se referindo aí à questão dos maus tratos ao animal, à questão da preservação do meio ambiente porque tem um impacto ambiental muito grande de contaminação do solo, da água, do ar. Qual é a sua questão com isso?

Cássio Scapin – Pois é, principalmente os maus tratos aos animais, ao gado.

Rosana Jatobá – É por isso que eu te convidei, porque o Conversa com a Jatobá está aqui para discutir temas polêmicos. Você quer se livrar um pouco da carne?

Cássio Scapin – Eu quero me livrar um pouco da carne sim.

Cássio Scapin – Pela questão dos maus tratos que eu me preocupo, eu ainda acho um ato de barbárie comer um animal.

Rosana Jatobá – Mas como se a carne permitiu a evolução do cérebro humano, a evolução?

Cássio Scapin – Eu tenho uma amiga que você deve conhecer, que é a Patrícia Travassos, uma mulher inteligentíssima, uma mulher culta, uma mulher antenada, esperta, ela fez o Alternativa Saúde no GNT. A Patrícia Travassos, desde criança, ela nunca comeu nenhum bicho vivo. Ela tá comendo animal por indicação médica, ela tá comendo salmão por indicação médica porque ela tá precisando ingerir uma proteína animal. Ela diz que não gosta, não gosta do cheiro e opção foi ser vegetariana desde criança.

Rosana Jatobá – Agora o que tem encanta na carne então?

Cássio Scapin – O sabor, né. É uma delícia um churrasco.

Rosana Jatobá – Eu, por exemplo, parei de comer carne vermelha e eu não sinto mais falta, sabia.

Cássio Scapin – Eu sinto falta, eu fico cansado, meus caninos continuam aqui, eu não sou um ser evoluído. Eu consigo evitar o porco, eu consegui radicalizar e cortar o porco.

Rosana Jatobá – E lixo em casa, você separa?

Cássio Scapin – Eu separo os vidros dos plásticos e dos degradáveis porque no meu prédio infelizmente a gente não tem o sistema de coleta de lixo.

Rosana Jatobá – Como é que você faz para garantir a reciclagem?

Cássio Scapin – Tenho um amigo que vai buscar, ele faz a coleta.

Rosana Jatobá – Ai que maravilha. A gente separa o lixo e a prefeitura mistura no caminhão.

Cássio Scapin – Então vira uma balela.

Rosana Jatobá – E economia de energia, de água, desperdício de comida, você se liga nisso?

Cássio Scapin – Ligo, ligo. Bom, desperdício de comida é muito tranquilo porque eu moro sozinho, então tem pouco desperdício de comida em casa. A gente tenta evitar o desperdício da água, energia elétrica, por morar sozinho fico um pouco às escuras. Então algumas preocupações mínimas assim que a gente tenta manter pra tentar fazer um pouquinho melhor o mundo, né.

Rosana Jatobá – E você se preocupa mesmo com essa questão, você acha que é urgente, é um alerta que a gente tá vivendo, ou não, essa teoria das mudanças climáticas, tudo isso é uma bobagem

Cássio Scapin – Mas é claro, é evidente. A gente nem começou o verão e olha eu estava no Rio de Janeiro gravando essa semana e já tá um calor insuportável e a gente nem começou o verão.

Rosana Jatobá – Você sabe que isso é científico, o último relatório do IPCC diz que a temperatura no Brasil pode subir até 6 graus até 2050. E a gente já tá vivendo isso de fato no dia a dia do brasileiro.

Cássio Scapin – Isso é insuportável, é muito quente e aí a gente fica condicionado ao ar condicionado e isso é uma bola de fogo.

Rosana Jatobá – Dentre todos esses exemplos de degradação, devastação do meio ambiente, qual aquele que te comove mais, te deixa entristecido, revoltado?

Cássio Scapin – Olha, eu acho que é a devastação das nossas matas que eu acho que o desmatamento por questão financeira a gente tá perdendo um patrimônio que o Brasil ainda não tem noção. O Brasil ainda não tem noção do valor do que a gente tem ali, da biodiversidade, da questão da medicina tradicional que está dentro das nossas matas e a gente tá deixando se deteriorar por questões financeiras de determinados grupos de interesses particulares, onde se tem um grande lobby junto ao governo, eu acho que isso é revoltante.

Rosana Jatobá – Agora você falou do governo, ele tá cumprindo o papel em termos de políticas públicas para proteger essa nossa pérola?

Cássio Scapin – Eu acho que não, eu acho que fica muito a dever. Fica muito a desejar, eu acho que poderia ser muito mais incisivo, ter uma política de proteção ambiental muito mais eficaz e que, principalmente, as penalidades que deveriam estar sendo aplicadas, que elas fossem cumpridas. Tudo se acontece assim no Brasil, de determina, com um recurso se volta atrás, se resolve de um outro jeito e as penalidades não são cumpridas.

Rosana Jatobá – Eu já entrevistei aqui um colega seu, que diz que não faz reciclagem de lixo, que não quer nem saber aí da mata porque ele acha que é o poder público que tem a obrigação já que a gente paga imposto. O que você acha disso, a responsabilidade é do poder público ou deve ser compartilhada?

Cássio Scapin – Eu acho que a responsabilidade, sem dúvida, deve ser compartilhada. Eu acho que a gente só pode exigir do poder público, se a gente também tiver iniciativa. Não é só o poder público, a gente não vai conseguir cobrar do poder público se eu não fizer a minha parte. Então eu acho que é uma responsabilidade compartilhada.

Rosana Jatobá – Você é um ator multifacetado, teatro, televisão, cinema, minissérie, de todos esses estilos, eu diria que o que realmente te captura é o teatro.

Cássio Scapin – É, eu sou um bicho de teatro, eu fui criado no teatro, foi no teatro que eu aprendi a ser gente. Eu comecei a fazer teatro na escola Célia Helena, onde a Célia tinha uma preocupação com a formação do adolescente, que o teatro servia não só era lugar para se ganhar dinheiro, mas a função primeira do teatro era construir um adulto melhor. Então foi dessa premissa que eu parti e assim eu comecei a ver o teatro e é isso que me guiou pela profissão, pelo ofício.

Rosana Jatobá – Isso me faz lembrar de um grande homem chamado Fábio Barrosa, um executivo, que diz que nós estamos muito preocupados em deixar um planeta melhor para os nossos filhos e não filhos melhores para o nosso planeta.

Cássio Scapin – Eu acho perfeito, é isso mesmo.

Rosana Jatobá – Olha, eu quero agradecer muito a sua presença aqui no Conversa com a Jatobá, eu já era sua fã lá atrás com o Paulo Autran e agora fiquei muito mais satisfeita de saber o quanto você é rico, o quanto você traz essa experiência toda para os nossos ouvintes. Muito obrigada.

Cássio Scapin – Muito obrigado. Foi um prazer estar aqui com vocês e um beijo para todos os seus ouvintes aqui da Rádio Globo.

Rosana Jatobá – Então pra terminar eu quero que você escolha uma música, que rádio é música também, pra você homenagear o nosso programa porque eu sei que você adorou.

Cássio Scapin – Eu adorei estar aqui, então já que eu sei que você é baiana, então manda aí uma Gal Costa cantando “Folhetim”.

Rosana Jatobá – Ótimo, adoro. Vamos lá.

Se preferir, ouça aqui.

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