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Conversa com a Jatobá recebe Blota Filho

por Universo Jatoba

1º bloco

Rosana Jatobá – O meu convidado de hoje é um ator polivalente. Ele faz mil coisas ao mesmo tempo, produz, está muito inserido nesse contexto artístico. Aliás, vem de uma família muito conhecida no nosso país e ele agora é sucesso numa peça no Teatro Augusta “Chá das cinco”, nove mulheres no palco, na verdade são nove homens interpretando essas mulheres. Não é isso, Geraldo Blota Filho? Obrigada pela sua presença aqui no Conversa com a Jatobá.

Blota Filho – Imagina, eu que agradeço estar aqui. Olá, pessoal! São nove homens vestidos de mulheres, a gente teve que fazer um trabalho pra não ficar aquela coisa do esteriótipo. Você bota um salto num homem e um vestido e vira uma drag e não é o que a gente quer. A gente quer o jeito de sentar, como é essa mão com o esmalte, essa alma feminina. A gente não muda de voz, é a voz da gente.

Rosana Jatobá – Nossa, que interessante! Como é que foi feito esse exercício pra você encarnar uma mulher?

Blota Filho – A observação, a nossa assistente de direção além de atriz é nossa assistente. A gente olhava ela andando, nós na rua olhávamos mulheres, cada um dentro da sua personalidade. Tem o que faz a gorda, então ela olhava como é que senta, como é que cruza a perna, tem aquela que é mais alta, mais espevitada, que usa vestidos longos, como ela se comporta na rua. A minha personagem é uma mulher muito rica, muito fina, então como é que é essa pessoa? Então eu fui ver novelas no canal Viva. Foi tudo na base da observação.

Rosana Jatobá – E o que foi que você mais dificuldade pra interpretar uma mulher chique?

Blota Filho – Eu acho que a dificuldade de todos nós, os nove, foi fazer uma mulher porque ia para o esteriótipo, para aquela coisa rebolativa que se mexe demais e mulher não é assim.

Rosana Jatobá – E a mulher chique na sua opinião, a mulher que você interpreta, como é que ela se chama?

Blota Filho – Clematite.

Rosana Jatobá – Clematite? Parece um nome de inflamação! (risos)

Blota Filho – É dito isso na peça. Todos os personagens tem nome de flores e clematite é uma flor linda. Então tem Miosotis, Malva Rosa, Margarida, Jasmim, Campainha, Açucena, todas nós temos nomes de flores.

Rosana Jatobá – E vocês falam da família!

Blota Filho – Sim, relacionamento familiar.

Rosana Jatobá – Delícias, dificuldades, problemas de relacionamento?

Blota Filho – Não tem tenta delícia assim, não. Na verdade são quatro irmãs que se reúnem na casa da mãe, que é o ator Eduardo Martini que faz, uma mulher de cadeira de roda, todo mês para um chá das cinco. Neste dia uma filha que há 18 anos não vem ao Brasil, que mora no Japão, veio. A minha personagem é a grande vilã da história, é a que faz uma chantagem com todas as irmãs porque existe um assassinato que ocorreu há muito tempo atrás, que envolve todas.

Rosana Jatobá – Mas tudo isso é uma comédia?

Blota Filho – Tudo isso é uma comédia.

Rosana Jatobá – Então o público tá convidado a rir muito.

Blota Filho – Muito.

Rosana Jatobá – Mas fica aquela mensagem pra você refletir sobre as questões familiares?

Blota Filho – No final o texto fala justamente isso, que apesar de todas terem um defeito que tem, todas participarem dessa trama de terem sido chantageadas, usadas inclusive sexualmente pela minha personagem, elas são filhas dela. E aí ele diz que num mundo aonde o pai joga a filha pela janela, a filha manda matar os pais a paulada por causa da herança, um louco que é posto dentro de casa porque era drogado joga insulina numa criança e afoga essa criança, então nós somos uma família absolutamente normal porque o mundo é assim. Então é pra você refletir sobre o relacionamento, coisas que você fez na infância que repercutem na sua adolescência, na sua velhice, coisas de mãe, de pai, do próprio irmão, de coleguinhas na rua.

Rosana Jatobá – Interessante também pensar que por mais que a sua família tenha problemas, é a sua família, é o seu porto seguro, é o seu refúgio, é o seu lar.

Blota Filho – É o que a Dona Campainha fala. Não tape o sol com a peneira, todo mundo tem defeitos. A minha personagem tem uma frase que fala: Ninguém é perfeito. Perfeito só Deus.

Rosana Jatobá – E você vem de uma família de artistas, mas as pessoas confundem o seu pai. Dizem que você é filho do Blota Júnior.

Blota Filho – Isso e ele é irmão do papai. Eu sou filho do Geraldo Blota, casado com a Ibê Blota, que era atriz de rádio, sobrinho do Blota Júnior, do Gonzaga Blota e da Cleide Blota, que era atriz da Rede Globo.

Rosana Jatobá – Tem uma história muito curiosa que a canção “Ói nóis aqui traveis”, que foi eternizada pelo Demônios da Garoa, na verdade não é do Adoniran Barbosa, é do seu pai.

Blota Filho – É do meu pai com Joseval Peixoto.

Rosana Jatobá – Como é que foi a história dessa música?

Blota Filho – Eles estavam indo fazer futebol numa cidade do interior e vai no carro da emissora com aquelas agruras. Se a estrada hoje é complicado, imagina naquela época. Então meu pai falou para o Joseval: Vamos chegar lá cantando? E eles escreveram essa musiquinha que virou marcha de Carnaval, Adoniran gravou.

Rosana Jatobá – Sua mãe também trabalha em rádio?

Blota Filho – Mamãe foi rádio atriz até casar com papai em 1950. O sonho da vida dela era ser mãe e esposa. Ela veio pra São Paulo, porque ela era do Rio, grande atriz da Rádio Nacional. Casou e veio para São Paulo fazendo uma radionovela na Rádio Bandeirantes, enquanto ela descia a escada pra ir pra rádio o Dr Amato subia a escada pra atender minha irmã mais velha que estava com tosse comprida. Naquele dia ela ligou pra Ivani Ribeiro e falou assim: Não sei como, mate meu personagem porque eu não volto mais. Renunciou pra ser mãe totalmente e cuidou e criou seis filhos.

Rosana Jatobá – É difícil ver isso. Existe um chamamento muito grande quando você é mãe, eu falo por experiência própria. Mas hoje em dia a mulher sofre nesse conflito: querer ser profissional, querer ser mãe e fica dividida, não sabe como conciliar. E você nesse meio artístico traz essa veia muito forte. Mas em um período da sua vida você chegou a pensar mesmo se iria continuar como artista!

Blota Filho – Eu acho que toda vez que eu tô desempregado Rosana, eu penso em largar. É difícil se estabelecer na profissão, você fica dependendo de ser lembrado, de se fazer lembrar, de correr atrás, de pedir e é muito chato isso. Me formei em Radialismo, sou formado na Faap, vou trabalhar como produtor, vou trabalhar como outra coisa. Na hora que tá conseguindo, vem um chamado de televisão, vem um chamado de teatro.

2º bloco

Rosana Jatobá – Você ouviu a trilha de Sandy e Júnior, na verdade é um seriado que passava aos domingos na TV Globo. O que você fazia nesse seriado?

Blota Filho – Eu fazia o Camilo, que era o diretor do colégio, um cara toda engravatado, que perdeu mulher e filho no parto. Ele era um atleta, um jogador de futebol e no dia que o filho e a mulher dele morrem, ele perdeu uma Copa do Mundo. Ele perdeu um pênalti, então ele carregou isso durante muito tempo e virou diretor de escola pra ter todos aqueles filhos porque nunca mais ele casou.

Rosana Jatobá – Nossa, mas ele se tornou uma pessoa amarga ou ele soube superar essa perda?

Blota Filho – Não, ele soube superar. Ele carregava essa vontade de ser pai e aí ele se sentia paizão. Foi feita uma pesquisa na época na Rede Globo, todo mundo quer ter um diretor como você que ouve todo mundo. Diferente do Mathias de Malhação, ele não usava aquilo “Sou diretor, a palavra final é minha”.

Rosana Jatobá – Na Malhação que é uma novela da TV Globo, você também é diretor de escola. É um personagem que te ama, né?

Blota Filho – Sim, diretor de escola, advogado, médico e padre me adoram.

Rosana Jatobá – O grande desafio do ator é transitar por vários personagens.

Blota Filho – É e é muito engraçado que todas as coisas que eu fiz na Rede Globo, fora Malhação que foi um ano e Sandy e Júnior três anos no ar, eram participações de três, dois capítulos, uma fala e ficava até o final.

Rosana Jatobá – Você conseguia prolongar o seu personagem. Isso aconteceu também no “Caminho das Índias”, uma novela de grande sucesso na TV Globo?

Blota Filho – Foi a melhor novela do mundo. Fasano ficou doente, pegou uma pneumonia e me ligaram dizendo que precisavam de mim no dia seguinte no Rio de Janeiro, eu moro em São Paulo. Passei a noite decorando os textos, peguei o avião, aproveitei que eu ia fazer uma peça no Rio e fiquei lá no flat. A Frida me ligou de novo dizendo que tinha mais uma ceninha. Mas quando eu vi no roteiro que o Fasano voltou liguei pra agradecer, mas ela me disse que eu ia assinar com eles e ficar até o final. Aí virei o advogado da Cadore, o Haroldo e fiquei sabendo lendo o jornal O Globo no Rio de Janeiro, que eu ia ser casado com a linda, talentosa e querida amiga Maitê Proença.

Rosana Jatobá – E você agora no teatro fazendo “Chá das cinco”, interpretando uma mulher, você e seus colegas. São nove homens interpretando mulheres no palco, uma comédia tratando das delícias e dificuldades de manter uma família. Tem saudades de votar pra novela, trabalhar em TV?

Blota Filho – Nossa, muito! Quando terminou Malhação, eu voltei em agosto passado pra São Paulo e em setembro eu já queria fazer novela de novo. Quem sabe esse ano entre “Chá das Cinco” e a peça que eu estreio em março que eu tô ensaiando já, quem sabe depois disso não vem uma novela depois da Copa.

Rosana Jatobá – E qual é o personagem do seu sonho?

Blota Filho – Nossa, acho que é o próximo, Rosana. A Ana Maria fala que quando você está apaixonado, você tem borboletas no estômago. Quando eu tenho um personagem novo, ele me dá borboletas no estômago.

Rosana Jatobá – Independentemente do perfil desse personagem, se é um vilão, se é um mocinho, uma mulher, um homem.

Blota Filho – No SBT eu fiz um vilão, minha primeira novela em 94, “Pérola Negra”, eu fazia um vilão. Era delicioso.

Rosana Jatobá – Qual o vilão da sua vida? A minha é Odete Roitman.

Blota Filho – Eu acho que o grande vilão da minha vida é da Avenida Brasil, a Carminha. Era dissimulada, ela não era aquele vilão declarado, que todo mundo não sabe que é mal caráter, ela engana todo mundo. Você ter a capacidade como ela, como Glória Pires fazendo Maria de Fátima, de manipular as pessoas da simpatia. Quando mais simpático o vilão for, mais ódio você tem dele e Adrianinha fazia isso maravilhosamente bem.

Rosana Jatobá – Hoje tá caminhando pra isso na dramaturgia, o personagem não ser tão do mal, tão do bem, aquela coisa dividida?

Blota Filho – Não tem aquela coisa mexicana, maniqueísta. Porque na novela mexicana o mal é mal e o bem é bem, acabou. Eu fiz muita novela mexicana no SBT traduzida pra cá. Na nossa não, elas vão mesclando, o gráfico dramatúrgico é uma serpente, vai ali te pica e volta pra cá e fica bonzinho.

Rosana Jatobá – Espelha melhor a alma humana porque todo mundo é assim.

Blota Filho – Com certeza. Não é difícil fazer um vilão, é só eu usar aquilo que eu não sou. Se eu sou bom caráter, ele vai ser mau caráter. A gente tem um lado ruinzinho da gente, é que ele fica ali, a gente não deixa isso aflorar. Tem gente que aflora e vai viver isso, que é o personagem que eu faço em “Chá das cinco”. Ela é cínica, ela diz absurdos para aquela família com uma simpatia, um ar de superioridade que é irritante.

Rosana Jatobá – Isso enriquece muito a vida da pessoa você como ator ter a oportunidade de encarnar vários personagens com diferentes perfis. Te enriquece como ser humano, né?

Blota Filho – Claro, você aprende coisas. Você é chamado pra fazer uma minissérie como “Casa das Sete Mulheres”, eu fui estudar de novo como é que era lá no sul, aquela guerra, aquelas histórias, aquelas mulheres, o jeito de falar, a roupa que vai usar. A gente gravava num sol de 40ºC, mas para o telespectador era inverno. Você pode viver um gaúcho, você pode viver um português desse século ou do século passado, você pode ter o sexo que você quiser. Você faz aquilo que quando você era pequeno você sempre brincou, de imaginar. Você usa essa imaginação aos 53 anos de idade.

Rosana Jatobá – “Casa das Sete Mulheres” que foi outro grande sucesso, né.

Blota Filho – Isso, um seriado maravilhoso, que parou também o Brasil para você ver a história do seu país.

3º bloco

Rosana Jatobá – Você está em cartaz no Teatro Augusta com a peça “Chá das cinco” e você é a Clematite, uma mulher muito fina, muito arrogante, dona do mundo.

Blota Filho – Ela se acha a dona do mundo, ela também tem um segredo que é revelado depois. Ela tem uma arrogância, ela diz coisas absurdas, ela dá ordem. Ela conta todas as atrocidades que ela fez as meninas passarem porque ela usava essas garotas sexualmente além de tudo.

Rosana Jatobá – E qual é o perfume da Clematite?

Blota Filho – Alfazema, porque o perfume de alfazema você sente que é tão gostoso, mas na verdade quando vira é uma cascavel. Ela engana até nisso, ela engana em tudo.

Rosana Jatobá – Em algum momento você se identifica com esse personagem tão cruel?

Blota Filho – Não, eu acho que eu jamais faria o que ela fez. Eu jamais usaria de um poder meu, eu jamais faria isso, eu não consigo. Eu não tenho uma identificação com ela. Talvez guardadas as devidas proporções, acho que na elegância.

Rosana Jatobá – No nosso programa a gente fala sobre sustentabilidade, que é o cuidado com o planeta, com as pessoas pensando no futuro das próximas gerações. Você se preocupa com isso? Que tipo de atitude, de hábito você tem no seu dia a dia que demonstra essa preocupação?

Blota Filho – Na época do verão tem muito pernilongo, mas é difícil eu comprar inseticida. Existe um óleo que é o óleo de citronela, você põe num balde com um pouquinho de água, passa no chão da sala, joga no ralo do banheiro, do quintal, aquilo evita que o bichinho venha. Eu faço sabão em casa, eu faço artesanato.

Rosana Jatobá – Você faz sabão com óleo de cozinha?

Blota Filho – Sim, sabão com óleo de cozinha e faço com glicerina sabonete de lavabo, toalhinha de lavabo. Na época de entressafra de trabalho de ator, eu tenho que me virar. Reciclar o lixo, deixar separado, não existe a coleta seletiva nos bairros. Deveria ter na minha rua, nas ruas de todo mundo as caçambas coloridas pra gente jogar lá e o caminhão de lixo que já é um serviço pelo qual você paga, já passa e já recolhe. Mas não se facilita isso.

Rosana Jatobá – A gente tá numa onda também de economia de energia em casa, economia de água, é uma coisa com o qual você se preocupa?

Blota Filho – Lavo roupa, guardo os baldes, recolho os baldes de água quando saem no tanque pra lavar o quintal. Eu tenho dois cachorros, então toda vez que eu lavo roupa, eu guardo aquela água. É uma água com sabão em pó, amaciante. Luz em casa agora no verão eu só acendo às 20h, fica tudo apagado.

Rosana Jatobá – E quando sai do cômodo você desliga a luz, é automático isso, né?

Blota Filho – Sim, é automático. Tá no chuveiro e vai se ensaboar, desliga o chuveiro! Vai escovar o dente, desliga a torneira, coloca água num copo e com aquela água dá pra você enxaguar a boca.

Rosana Jatobá – E você é um homem da natureza?

Blota Filho – Eu gosto de natureza, mas não me convida pra ir para o meio do mato, pra acampar, fazenda, que eu não vou não. Negócio de bichinho voando! Agora praia pode me convidar. Rio de Janeiro, Salvador é uma coisa maravilhosa. Salvador nublado é bom, com chuva é bom.

Rosana Jatobá – Eu sou suspeita pra falar, eu sou soteropolitana. Então Salvador pra mim não tem igual.

Blota Filho – Amo praia, Santos, Guarujá, Itanhaém, seja o que for, é muito gostoso! Outra coisa da sustentabilidade, eu nunca liguei o ar condicionado da minha casa, deixo a janela aberta, as portas abertas, abro a porta da varanda para o ar circular.

Rosana Jatobá – Blota, a gente falou sobre a sua peça e é difícil ser ator, fazer teatro o Brasil. Televisão, cinema você ainda consegue ter um respiro, mas teatro é para aquele realmente que persevera.

Blota Filho – Conversando com o Eduardo Martini em outubro do ano passado a gente começou a falar sobre isso, como a gente é refém de leis, Lei Rouanet, ProAC, em que você tem que montar um projeto, escrever na lei pra conseguir primeiro aprovação. Tem projeto que a lei não aprova. Aí você consegue a aprovação, depois tem que mandar pra um captador pra ele captar os recursos de dinheiro. Existe uma porcentagem que depois que você tiver isso depositado na conta, eles liberam essa conta pra você começar a usar pra fazer o seu espetáculo. Nós começamos a conversar sobre isso, o que era ficar refém disso. Antigamente a gente montava espetáculo sem nada. Nós dávamos as mãos, entrávamos no barco e remávamos todos pra mesma ilha: o espetáculo. Com a vinda da lei, isso favoreceu algumas pessoas, mas não outras. Pra muita gente é fácil, você tem nome, você tá na mídia, então lógico que você capta recursos. Ninguém quer associar um nome à uma pessoa que não conhece. Conversando com o Eduardo, chamamos mais sete e o elenco estava formado. A gente ensaiava no quintal da minha casa, o Edu tinha o acervo de vestidos e perucas. Pra ver tudo isso tem que ir ao Teatro Augusta todas as sextas-feiras, 21h30, aqui em São Paulo. “Chá das cinco”, corre porque chá esfria!

4º bloco

Rosana Jatobá – Você gosta de se assistir?

Blota Filho – Não.

Rosana Jatobá – Por que, é muito crítico?

Blota Filho – Muito crítico, Rosana. Eu assisto novela e quando eu fico olhando eu penso pra quê mexeu sobrancelha, essa careca parece uma persiana. Olha esse papo parece uma bolacha maisena, olha o tamanho desse braço, parece amassador de pão. Eu sou muito crítico.

Rosana Jatobá – Mas você não precisa ser assim porque você tá muito bem. Você pára, por favor.

Blota Filho – Imagina, obrigado. Com 53 anos eu acho que eu tô legal.

Rosana Jatobá – Você é muito vaidoso?

Blota Filho – Vaidoso ao extremo não, mas eu gosto de me cuidar.

Rosana Jatobá – O que você faz?

Blota Filho – Eu não como fritura, eu gosto de tomar café preto. Eu fiquei 10 anos sem fumar e no ano que o meu pai morreu eu fui para o Rio fazer “Caminho das Índias” e teatro, eu ficava sozinho num flat e precisava de um amigo, aí eu voltei. Mas eu já tô pensando em parar.

Rosana Jatobá – Atividade física?

Blota Filho – Fiz durante muito tempo, hoje em dia não tenho feito mais por uma questão monetária. Ou eu compro comida e pago as minhas contas, ou faço academia.

Rosana Jatobá – Mas e colocar um tênis e sair pra caminhar?

Blota Filho – Isso eu faço muito quando eu pego metrô, ao invés de subir a escada rolante, eu vou na escada normal. Se eu vou no apartamento de alguém, eu prefiro ir pela escada. Eu gosto de andar, correr na esteira me dá um desespero. Então eu prefiro correr num parque, andar pela cidade de São Paulo, eu faço muito isso, eu gosto muito de caminhar.

Rosana Jatobá – A gente tá fazendo uma enquete no meu portal, o Universo Jatobá, perguntando às pessoas se as fotos que são colocadas nos maços de cigarro conseguem de alguma maneira fazer com que o fumante pense duas vezes antes de se entregar ao fumo. E nessa enquete 75% dos entrevistados disseram que essas fotos não ajudam em nada, não influenciam em praticamente nada.

Blota Filho – Não influencia, você compra e diz não dá essa do nenenzinho não, me dá aquela do pé que é melhor. Parece álbum de figurinha, não existe uma campanha, como não existe uma campanha para parar de beber e guiar. Tem que ter uma campanha de impacto.

Rosana Jatobá – Blota, então você vai voltar com o propósito de parar de fumar.

Blota Filho – Sim, essa é a minha proposta para 2014.

Rosana Jatobá – Você já fez campanha para o ex-prefeito Gilberto Kassab aqui de São Paulo. Como é que foi essa experiência?

Blota Filho – Maravilhosa monetariamente, eu não tenho pudor nenhum em contar, eu ganhava R$ 20.000,00 por mês, trabalhava das 8h até a hora que eles me mandassem embora. Muitas vezes eu ia para o teatro, fazia, pegava um táxi e voltava para o estúdio, ficava aguardando o horário político acabar pra saber se eu ia ter que gravar um direito de resposta. Muitas vezes já tinha terminado, eu estava no táxi, chegava em casa e tocava o celular e eu tinha que voltar. Eu voltava a hora que for. Foi muito engraçado porque o Kassab pelas pesquisas estava em terceiro lugar. Lá na produtora disseram que eu fiz ele passar pra segundo e você fez ele ganhar. Eu disse que não, não fui eu gente. Eu só contribuí lendo o teleprompter porque nada daquilo é a minha opinião, eu estou sendo pago para ler. O publicitário sim fez as pessoas verem a comparação entre Marta Suplicy e Gilberto Kassab e aí a pessoa decidiu.

Rosana Jatobá – E você diz que não tinha nada a ver com a sua opinião. Mas aquilo de falar alguma coisa que não se identifica com a sua orientação, te incomodou em algum momento ou não? Você estava exercendo ali o seu papel de ator.

Blota Filho – Exatamente, eu tô sendo pago pra fazer isso.

Rosana Jatobá – A gente tá num ano de eleições e você que teve essa experiência tão próxima de fazer uma campanha pra um candidato. O que você poderia dizer para as pessoas? Hoje se fala muito em voto consciente, na sua opinião o que é esse voto consciente?

Blota Filho – É você realmente saber que esse candidato que está agora aqui teve uma vida passada pública. Preste atenção, veja no que ele participou, no que ele contribuiu, no que em outras campanhas ao ganhar, o que ele prometeu durante o horário político se ele fez isso mesmo, se ele tentou fazer. Se com a entrada do prefeito da sua cidade a sua rua, a sua praça tá mais limpa, se você uma política cultural melhor, uma política social melhor. O que foi feito para educar o seu filho? Porque é esse cidadão pequenininho que vai eleger os próximos. Você tem a obrigação de se ele não fez, cobre! É você que paga o salário dele, quem paga salário é patrão.

Rosana Jatobá – E hoje é mais fácil, você tem internet onde você consegue mais informação, debates, muitos meios de comunicação fomentando isso. Esse é o ano da Copa do Mundo, o Brasil tá sediando esse grande evento. Eu tenho lido que isso pode influenciar no humor do brasileiro na hora de votar do voto. Você concorda?

Blota Filho – Claro, é um comoção social, é uma alegria. Se o Brasil ganhar então.

Rosana Jatobá – Mas você não acha que é perigoso você atrelar um evento como esse à consciência nas urnas?

Blota Filho – As pessoas atrelam o feriado prolongado, se aquele prefeito deu um ponto facultativo para os bancos fecharem, para os funcionários públicos não trabalharem, é um bom prefeito, ele pensou em nós. Não ele não pensou, pensar em nós é pensar no todo. Eu sou uma das pessoas que gostei que a Copa fosse no Brasil, mas acho que nós ainda não temos condição pra receber uma Copa.

Rosana Jatobá – Você acha que existem outras prioridades?

Blota Filho – Acho. Se você olhar as recentes notícias de alagamento, roubo, de arrastão em praia, de turistas que são assaltados, existem outras prioridades. O saneamento básico da cidade, a coisa da enchente e pior pra mim é a questão da educação. Você tem hoje professores que não são respeitados nem pelo governo porque o salário é vergonhoso.

Rosana Jatobá – Um prazer enorme receber você aqui. Nesse programa eu saio cada vez mais satisfeita porque eu admiro muito os ídolos. Aqui a gente mostra o ídolo com mais profundidade. Nós somos um país que adora celebridades, mas muitas são vazias, não tem história, não tem trajetória. Quando eu recebo uma pessoa como você com mais de 20 anos de carreira, uma carreia dura, muita batalha, mas uma carreira vitoriosa, polivalente, eu fico muito feliz de receber você aqui.

Blota Filho – Eu que agradeço, já era seu fã quando você fazia a mulher do tempo. Alta, bonita, magra, educada e elegantérrima.

Rosana Jatobá – De olho aqui em mim pra Clematite, em cartaz com “Chá das cinco” até 21 de fevereiro no Teatro Augusta.

Blota Filho – E é só de sexta-feira, gente. Todas as sextas às 21h30. A gente tá tentando voltar em horários alternativos. Um beijo gente, muito obrigado!

Clique aqui e assista a entrevista na seção TV Jatobá.

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