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Conversa com a Jatobá: Antônio e Bruno Fagundes

por Universo Jatoba

1º bloco

Rosana Jatobá – Oi, pessoal, boa tarde! Seja muito bem vindo ao nosso programa. O Conversa com a Jatobá de hoje está no Teatro Tuca, que fica em Perdizes, na zona oeste de São Paulo. Aqui a gente vai mostrar para vocês um pouco da peça “Tribos”, um espetáculo estrelado pelo grande ator Antônio Fagundes e o filho dele, o Bruno Fagundes. É um prazer enorme receber vocês dois aqui no Conversa com a Jatobá, tô toda honrada, hein.

Antônio Fagundes – Nossa, nós que estamos, maior prazer.

Bruno Fagundes – Obrigado.

Antônio Fagundes – Obrigado por ter vindo !

Rosana Jatobá – Eu vi vocês dois pela última vez em maio desse ano na peça “Vermelho”, um espetáculo maravilhoso e agora vocês estão juntos dividindo o palco de novo. Como é que tem sido esse repeteco?

Antônio Fagundes – Primeiro “Vermelho” era só nós dois, agora nós temos um elenco maravilhoso que é a Arieta Corrêa, a Eliete Cigaarini, o Guilherme Magon, a Maíra Dvorek. Então já é um elenco maior, tem essa diferença. Mas a primeira vez fui eu que convidei o Bruno pra fazer o “Vermelho” e agora ele retribuiu o convite.

Rosana Jatobá – Você que chamou o seu pai para fazer, Bruno?

Bruno Fagundes – Digamos que a gente empatou aí, a gente fez essa dobradinha e dessa vez saiu mais de mim do que dele.

Rosana Jatobá – E como é que tem sido pra vocês dois mais uma vez estarem juntos no palco?

Bruno Fagundes – Maravilhoso, é muito gostoso, os dois espetáculos são completamente diferentes conceitualmente e a dramaturgia também é bem diferente. Então é muito legal a gente experimentar dois conceitos diferentes de teatro, mas que buscam a mesma coisa. Então tá muito bacana.

Antônio Fagundes – A gente tem uma brincadeira que a gente acha que o espetáculo de teatro é bom quando faz o público pensar 5 minutos até o estacionamento. Então a gente tem conseguido isso, o “Vermelho” fazia pensar um pouquinho mais do que 5 minutos e esse aqui também. Esse aqui vai fazer pensar, mas esse aqui tem um dado que o “Vermelho” tinha menos, ele é bastante engraçado e a gente chama de comédia perversa porque exatamente no momento de maior tensão do espetáculo, ele fica mais engraçado. Ou seja, você ri muito, mas você tem um pouco de vergonha de estar rindo daquilo.

Rosana Jatobá – Politicamente incorreto?

Antônio Fagundes – Completamente politicamente incorreto e isso é muito divertido para a plateia.

Rosana Jatobá – A peça “Tribos” trata de uma família de intelectuais em que o filho caçula  tem uma deficiência auditiva e o pai, protagonizado aqui pelo Antônio Fagundes, não aceita a surdez do filho. Esse é o mote do espetáculo, é todo o conflito a partir daí.

Antônio Fagundes – Com o agravante que eles são uma família totalmente disfuncional, o outro filho é esquizofrênico, a outra menina canta óperas em pubs, ou seja, é uma fracassada. Então a família toda não dá certo, mas eles são intelectuais, então a coisa é mais grave ainda porque tem um embasamento teórico pra tudo isso.

Rosana Jatobá – Quer dizer, deveriam ter um certo esclarecimento, discernimento das questões, mas não sabem colocar em prática?

Bruno Fagundes – É, no mínimo uma disponibilidade para buscar esse conhecimento e eles buscam, mas no sentido oposto, no sentido mais preconceituoso do que digamos pensar no filho. Então é muito cruel da família, mas ao mesmo tempo é muito forte.

Antônio Fagundes – E esse é outro método da Nina Raine, que é a autora da peça, que é uma inglesa, que ela criou uma estrutura que se você tirar o deficiente auditivo e colocar o negro, o homossexual, qualquer tipo de minoria que seja conceituada preconceituosamente pela sociedade, a peça vai funcionar do mesmo jeito. Porque na verdade o que a peça aborda através da deficiência auditiva, é o preconceito dessa família contra os surdos no caso.

Rosana Jatobá – Quer dizer que é um tema muito mais abrangente do que a surdez em si?

Antônio Fagundes – Na verdade ela fala da surdez do mundo. Uma pessoa que é preconceituosa contra o homossexual é surda ao desenvolvimento do mundo, quer dizer, a sociedade evoluiu em relação aos organismos vivos, as pessoas que ficam atreladas ao seu preconceito, não acompanharam o desenvolvimento da sociedade.

Rosana Jatobá – Como é que tem sido para você esse aprendizado, essa fera do teatro, da televisão,  do cinema, você como filho ter seu pai agora também como mestre profissionalmente ?

Antônio Fagundes – Eu tô aprendendo muito com ele, viu, está sendo ótimo.

Bruno Fagundes – É muito gostoso a gente ter esse espaço, a nossa brincadeira de pai e filho tá sendo essa, a gente fazer teatro juntos e tá sendo muito gostoso. É um ambiente de muito aprendizado mesmo porque a gente tá dividindo o palco juntos sempre e são desafios completamente diferentes, cada vez mais desafiador, cada vez mais interessante, intrigante. Então está sendo muito bacana de novo repetir essa experiência.

Rosana Jatobá – Na peça “Tribos” uma coisa que me chamou muita atenção e  que você faz alusão é que nós temos hoje no Brasil 10 milhões de pessoas com algum tipo de problema auditivo e são pessoas que não tem acesso aos bens culturais, aos espetáculos,  e você tem uma experiência muito interessante aqui. Queria que você compartilhasse com os nossos ouvintes.

Antônio Fagundes – A gente fez no dia 28 de setembro uma experiência com intérprete de libras, então o espetáculo corria normalmente e ao lado tinha uma pessoa fazendo libras para os deficientes auditivos.

Rosana Jatobá – Libras que é a Linguagem Brasileira de Sinais.

Bruno Fagundes – Língua Brasileira de Sinais. É língua, não uma linguagem, a partir do momento que você fala que ela é uma linguagem, ela não necessariamente é uma língua. Mas toda língua tem a sua linguagem, então ela é maior do que linguagem.

Antônio Fagundes – Então ela fez esse espetáculo e metade da plateia era de deficientes auditivos e eu tenho a impressão que para muitas das pessoas que estavam lá nessas condições, foi a primeira vez que eles viram uma peça de teatro, porque você imagina a dificuldade que é pra eles, eles até podem ir ao teatro. Mas eles não vão entender, não vão ouvir nada, então nós resolvemos isso de uma maneira tão positiva que dia 26 de outubro vai ter outro espetáculo com intérprete e nós pretendemos fazer isso no último sábado de cada mês.

Bruno Fagundes – Até dezembro já temos as três datas marcadas, o último sábado de outubro, o último sábado de novembro e dia 14 de dezembro, que não é o último sábado do mês, mas é o último sábado antes da temporada acabar.

Rosana Jatobá – E como é que foi para vocês ver a reação desse público, deve ter sido emocionante, né?

Bruno Fagundes – Maravilhosa. É isso que nós estávamos falando, eles são carentes de ter opção cultural, a gente conseguir desenvolver e oferecer pra eles uma opção que seja de qualidade, divertida e ainda falando da vida deles, do problema deles, a gente ficou muito emocionado, porque depois a gente faz bate-papo todos os dias e a gente conseguiu pegar alguns depoimentos de surdos que falaram que iam trazer a família, que se sentiram muito bem representados.

Antônio Fagundes – Nós ouvimos da grande maioria deles que todos aqueles que vieram assistir dia 28, voltarão dia 26 e voltarão em outro dia e aí naturalmente vão trazendo outras pessoas. Então a gente conseguiu dar uma mexidinha com a comunidade de deficientes auditivos e vamos ampliar isso para outros espetáculos que a gente fizer. Agora a gente botou na cabeça que a gente pode fazer isso, que não é uma coisa tão complicada e que estamos atendendo uma parte da população, como você falou, quase 10 milhões só no Brasil, que não tem acesso.

Bruno Fagundes – Além da intérprete de libras, a gente deve usar legendas também que são para surdos oralizados, não se dão bem com libras ou não sabem falar libras, eles não sabem sinalizar e eles tem a opção da legenda.

Rosana Jatobá – Oralizados são aquelas pessoas que tem deficiência auditiva, mas fazem a leitura labial.

Bruno Fagundes – Fazem a leitura labial e falam, passaram pela construção oral.

Antônio Fagundes – Agora em teatro fica muito distante, ele não tem como…

Rosana Jatobá – Captar o sinal dos lábios.

Antônio Fagundes – Porque a língua libras pra muitas pessoas é a primeira língua, para aqueles que nasceram surdos e pais surdos, então é a primeira língua e a segunda língua é o português. Então muitas dessas pessoas não sabem o português, não sabem nem ler em português, então pra essas pessoas a intérprete é muito importante. Mas tem outras que sabem, que foram oralizadas e que sabem ler em português, onde o letreiro vai funcionar. Então você vê que até dentro da comunidade surda tem tribos.

Bruno Fagundes – A gente ficou muito atento a conhecer direito a comunidade e atento às necessidades deles porque cada pessoa tem uma individualidade, um jeito diferente de lidar, então a gente fez questão de tentar a inclusão total, na medida do possível e de quanto a nossa logística permite.

Rosana Jatobá – O Conversa com a Jatobá é um programa que fala sobre sustentabilidade, então a gente procura mostrar exemplos de pessoas famosas, formadoras de opinião, que são engajadas em projetos sociais e projetos ambientais. No caso de vocês aqui, artistas que estão promovendo a inclusão social. Que planos vocês têm para continuar fazendo esse trabalho, não só com os deficientes auditivos?

Antônio Fagundes – A inclusão social significa trazer pessoas para o teatro, ouvintes inclusive. Se você pensar bem, hoje saiu uma pesquisa na Folha de São Paulo mostrando que a partir de uma determinada idade, 70% da população não vai ao teatro. Então nós temos que incluir os ouvintes também.

Bruno Fagundes – Eram 60% que não frequentam e 21% que vão uma vez por ano.

Antônio Fagundes – Ou menos do que uma vez por ano. Então você tem aí quase 90% da população acima de uma determinada idade, acima dos 40 anos de idade que sumiram do teatro. Então nós temos que pegar esses primeiro, claro que se a gente conseguir acoplar já que a gente tá fazendo essa acessibilidade pra todo mundo. Se a gente conseguir acoplar o cego, os surdos, os jovens, nós vamos fazer o diabo pra que eles venham. Pra fazer isso, a gente tem que fazer espetáculos que façam as pessoas pensarem cinco minutos até o estacionamento e graças a Deus a gente tá fazendo isso há muito tempo.

Rosana Jatobá – Mas as pessoas pensam em você Fagundes muito mais do que cinco minutos.

Antônio Fagundes – Ah, que bom. Espero que elas pensem vindo ao teatro.

Rosana Jatobá – Mas o que é que falta então pra esse contingente enorme frequentar mais o teatro? Porque vocês hoje estão aqui com casa cheia.

Bruno Fagundes – Essa é uma equação difícil porque são muitos fatores.

Antônio Fagundes – 90% deles não passa por nós, por exemplo, educação, a gente tem que dar educação para as pessoas, se a pessoa não tá habituada a ler, a ver um filme, ouvir uma música, ir à um museu ou enfim, aproveitar o que a cidade oferece a nível cultural, as pessoas tem isso na cidade. A cidade oferece isso, São Paulo é uma cidade rica culturalmente, isso está aí, mas se as pessoas não aproveitarem disso, como é que elas vão aproveitar, sabendo, indo à um museu, conhecendo um artista, ouvindo falar de uma peça que fala sobre um assunto interessante, alguma coisa que vá motivá-la, tendo curiosidade. Tudo isso é resolvido com educação, então isso não passa pela nossa mão.

Rosana Jatobá – Claro. E você como é que vê essa percepção dos jovens sobre o teatro, Bruno?

Bruno Fagundes – Eu me impressiono que tem muitas pessoas da minha geração que são meus amigos, colegas que não vão muito ao teatro e querem ser ator. Então isso pra mim é uma surpresa.

Rosana Jatobá – É uma contradição, né?

Bruno Fagundes – É uma contradição, a gente aprende tanto no teatro e 90% do que a gente consegue resolver em cena é quando a gente assistiu, pela observação. Então ir ao teatro é o primeiro passo pra qualquer pessoa, pra qualquer grande ator.

Antônio Fagundes – Tem uma mea-culpa aí também porque no Brasil particularmente, mas no resto do mundo também aconteceu isso. Algumas pessoas resolveram encampar o fazer teatral de uma forma errada, eles resolveram fazer pesquisa e essa pesquisa se estendeu durante décadas. E a ideia original dessa pesquisa, era conquistar o jovem, ou seja, uma linguagem diferenciada, o teatro está velho. Mas o teatro está velho pra quem nunca tinha ido ao teatro antes. Então digamos que essa pesquisa eterna, particularmente aqui no Brasil, acabou afastando o jovem. Claro, porque é chato, você vê espetáculos de três, quatro horas de duração chatos. O jovem vai lá, senta e é chato, ele não volta e se ele voltar ele vai voltar pra outra pesquisa chata. Então digamos que essa pretensão nossa de revolucionar o teatro, quando eu falo nossa, eu falo do mundo inteiro, não só do Brasil, acabou afastando essa população que ainda não conhecia nada e se deparou com a coisa mais chata que ela pode ver na vida dela, aí ela não quer. Tem uma culpa nossa nesse sentido, nossa eu tô sendo gentil, eu tô me incluindo. Eu posso me excluir um pouquinho porque a gente tá fazendo um espetáculo, por exemplo, com muitos jovens na plateia. Se você for observar, você vai ver que metade da nossa plateia é de jovens porque eles estão sendo conquistados por uma coisa nova, revolucionária, mas não é chata.

Bruno Fagundes – É uma coisa ágil, bacana, interessante, uma discussão boa com humor, com emoção, então a gente tá fazendo a nossa parte.

Rosana Jatobá – Olha, vocês estão falando de um tema que é muito sério, muito delicado, mas vocês trazem uma pitada de humor politicamente incorreto, que é até de certa forma malvisto,  que eu tô muito curiosa pra ver. Com certeza eu venho assistir a peça “Tribos”. E no próximo bloco aqui do Conversa com a Jatobá, eu quero falar sobre a novela “Amor à vida”, que também trata de preconceito.

Antônio Fagundes – Tem um pedacinho que fala disso.

Rosana Jatobá – Daqui a pouco a gente volta, você que tá ouvindo o programa não sai daí, até já.

2º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com o Conversa com a Jatobá, você está ouvindo aí a trilha sonora da novela das 9 da Rede Globo, “Amor à Vida” e eu converso hoje aqui no programa com Antônio Fagundes e com o filho dele, o Bruno Fagundes. Eles estão em cartaz em São Paulo, na zona oeste da cidade, numa peça de teatro, a peça “Tribos”, e na televisão Antônio Fagundes é o César, que não aceita que o filho seja homossexual.

Antônio Fagundes – É, você vê que foi sem querer isso até porque quem viu a peça em Nova York o Bruno foi viajar lá e viu esse espetáculo há mais de um ano atrás, antes de eu começar a fazer a novela até. E as duas coisas tratam basicamente do mesmo tema, os meus dois personagens abordam o preconceito, um é com o deficiente auditivo, o outro com o homossexual, mas a base dos dois personagens é o preconceito.

Rosana Jatobá – O seu personagem tá fazendo tanto sucesso na novela que foi mantido na trama, e estava previsto para morrer, não é isso?

Antônio Fagundes – Ele ia morrer logo no começo sim, mas continuou, está lá, morrer todo mundo vai um dia, mas não sabemos quando (risos). Agora ficou normal, eu não sei quando.

Rosana Jatobá – É verdade que você chega pra gravar e só dá uma olhada assim no texto e interpreta lindamente?

Antônio Fagundes – Graças a Deus, o interpretar lindamente é gentileza sua, mas eu só dou uma olhada no texto.

Rosana Jatobá – Só dá uma olhada e aí não tem erro, vai na boa, anos de anos de experiência ou você tem algum truque, algum macete aí?

Antônio Fagundes – Eu já tentei até teorizar isso aí, mas eu acho que é um dom mesmo graças a Deus, se não, não conseguiria fazer televisão. Eu morro de pena dos meus colegas que tem aquele bloco de 200 páginas por semana pra estudar em casa. Eu não, eu tenho a minha vida normal, meu trabalho é lá dentro mesmo. Eu chego e concentro e acaba dando certo.

Rosana Jatobá – E Bruno, você já está nesse estágio de só dar uma olhadinha e mandar ver?

Bruno Fagundes – Não, pelo amor de Deus. Realmente é um dom, uma mágica aí que ele faz, eu já testemunhei uma cena de seis páginas que ele bateu o olho e fez.

Rosana Jatobá – Eu vi a peça  “7 Minutos” há alguns anos em São Paulo e eu fiquei realmente extasiada com o  monólogo.  Você quer ser igual ao seu pai quando  crescer?

Bruno Fagundes – Não, eu acho que eu quero criar a minha história, o meu caminho.

Rosana Jatobá – Não, eu pergunto nesse sentido de total domínio em cena.

Antônio Fagundes – No sentido inveja total.

Bruno Fagundes – Invejo totalmente, eu adoraria decorar assim só numa olhada, mas não sei se meu cérebro comporta (risos). Não sei se fui preparado geneticamente pra isso.

Rosana Jatobá – Você já tem o fator do DNA, da genética, filho do Antônio Fagundes. Eu acho que a outra parte se deve muito ao trabalho.

Bruno Fagundes – Com certeza. Acho que a história a gente não herda, a nossa história a gente cria, a gente constrói, faz e eu tô há muito tempo tentando, lutando pra chegar num lugar bom pra mim.

Rosana Jatobá – Na novela você sendo pai do Félix, que é um malvado, a questão do homossexualismo que a gente vive hoje no Brasil, que ainda é tão mal interpretado, um tema ainda tão cheio de preconceitos. O que você diria com relação a isso?

Antônio Fagundes – Você sabe que é engraçado que ao mesmo tempo que fala do homossexualismo, o pai é homofóbico,  o público esqueceu quem é o Félix. Então o problema do Félix não é ser homossexual, o problema dele é ser assassino. Ele manda matar as pessoas, ele joga criança em caçamba. Então você vê como o povo brasileiro é bobinho,  porque de repente um pai homofóbico apaga todo o passado daquele personagem. Tudo bem, eu tenho peninha dele por ser homossexual e não ser compreendido dentro de casa. Mas é um assassino, é um mau caráter, é um ladrão e isso a gente esquece em dois minutos. Por isso que a gente vê aí tantos deputados ainda sendo reeleitos.

Bruno Fagundes – No caso daqui da peça o personagem do pai também é preconceituoso, mas o Billy é um cara legal e você vai ficar mais com peninha dele, faz mais sentido.

Antônio Fagundes – Mas aí faz mais sentido porque o cara é do bem (risos).

Rosana Jatobá – E a questão de você na novela, o seu personagem, o César, ser tão machista?

Antônio Fagundes – Bom, ele é árabe, ele tem ascendência árabe então digamos que culturalmente isso também se explica, se você quiser explicar tudo, você explica. Mas o fato dele ser machista também não é importante porque aí tem um outro lado, ele é ético também, pelo menos até agora. Tem um Deus em cima que se chama Walcyr Carrasco que determina as coisas que vão acontecer com o personagem, ele pode mudar radicalmente de uma hora pra outra. Mas de qualquer forma até agora ele é ético. Então digamos que a gente colocar o personagem num lado ou do outro é muito simplista, o ser humano é muito mais complexo do que isso e o Walcyr tá sabendo discutir essa complexidade em todos eles. A coisa não funciona por um lado só, né.

Rosana Jatobá – Você também ao longo da sua carreira já desempenhou muitos papéis que tratam de temas polêmicos, que citam essa reflexão, eu quero chamar atenção para o seriado “Carga Pesada”. Conhecidíssimo no Brasil em duas versões, a gente tá ouvindo aí uma composição do Renato Teixeira na voz da dupla Chitãozinho e Xororó. E em “Carga Pesada” vocês tratavam do tema trabalho escravo e reforma agrária, né?

Antônio Fagundes – É, a gente falava muita coisa. Foram sete anos de temporada, entre a primeira e a segunda, e a gente falou de muita coisa: prostituição infantil, homossexualismo, drogas. Durante esses anos todos a gente abordou diversos temas com que esses carreteiros tinham contato ao longo da vida.

Rosana Jatobá – E certamente formou muita opinião, de alguma forma fez as pessoas refletirem sobre assuntos importantes. Como é pra você um artista colocar o seu talento `a disposição da reflexão de temas que são importantes, que engajam as pessoas?

Antônio Fagundes – A televisão tem um detalhe que a gente não pode esquecer, é entretenimento, mas o teatro também é entretenimento, não pode ser chato, não pode ser uma defesa de tese. Então eu acho que qualquer coisa que você faça vai ser muito bom se você conseguir entreter as pessoas e colocar dentro desse entretenimento alguma coisa que faça pensar cinco minutos até o estacionamento ou faça ao acabar o programa de televisão, refletir junto com a família. E eu acho que alguns dos programas que eu fiz na TV Globo, 90% das peças que eu faço no teatro têm essa característica. Eu gosto de pensar que eu faço as pessoas pensarem um pouco na sua realidade.

Rosana Jatobá – Na novela “Dancin’ Days”, a gente tá ouvindo agora a música das Frenéticas, você era o Cacá que se relacionava com a Júlia Matos protagonizada pela Sônia Braga, uma ex-presidiária. E você era um diplomata.

Antônio Fagundes – Lá também tinha esse problema do preconceito da família do diplomata contra a questão dela ser ex-presidiária. Então você vê que de repente se você quiser pegar as coisas que eu fiz até na TV Globo todas elas tem esse viés e eu acho isso muito bom, foi sorte minha claro de eu estar perto desses criadores maravilhosos que levantam esses problemas. Mas parte disso também foi minha escolha.

Rosana Jatobá – Agora você quer saber o vilão que eu mais adorava? Felipe Barreto.

Antônio Fagundes – Pois é, outro dia eu estava até comentando com o Matheus Solano que na minha época o violão era só mau caráter, agora é assassino, chupa sangue de criança (risos).

Rosana Jatobá – O negócio tá trash na TV (risos).

Antônio Fagundes – Agora tá ficando pesado, no meu tempo ele era só mau caráter, traía a mulher e pronto (risos).

Rosana Jatobá – Você se vê na TV?

Antônio Fagundes – Eu andei vendo aí o canal Viva, eu vi com muito prazer muitas coisas, passaram-se tantos anos e continuam tão boas, tão atuais.Renascer, Rainha da Sucata, Vale Tudo, enfim, novelas que passaram aí e que eu acho que foram muito bem feitas, então são clássicos, foi muito bom de ver. É muito difícil eu ver porque os meus horários são complicados. Eu chego no teatro entre 18h, 19h30 e fico até 23h, então quando eu saio, eu já tô morto de cansaço. E quando eu tô no Rio de segunda, terça e quarta, eu tô gravando no horário da novela, então é muito difícil eu ver televisão. Mas como esses programas aí passavam de madrugada às vezes dava pra ver.

Rosana Jatobá – E no “Rainha da Sucata” você interpretava um gago.

Antônio Fagundes – Foi muito gostoso de fazer, dei boas risadas revendo a novela.

Rosana Jatobá – E depois de ver tudo isso, de se ver na tela, depois de tanto tempo.

Antônio Fagundes – A gente pensa assim: “Nossa, tô ficando velho”, passou muito tempo já.

Rosana Jatobá – Bruno, o seu pai por muito tempo teve a imagem dele associada à um galã, a fama de ser belo, de ser atraente. Você é muito assediado? Você é um rapaz bonito, como é que você lida com isso sendo de outra geração, que peso isso tem na sua carreira?

Bruno Fagundes – Eu acho que isso é muito do trabalho que encaminha, ele fez grandes personagens que tinham esse apelo. Então acho que isso é meio a posteriori, mas não é uma coisa que eu penso não. Se de repente algum dia começarem a dizer isso, a gente acata.

Antônio Fagundes – Eu tenho uma filha mais velha, a Dinah, sempre que eu sou eleito numa dessas eleições de homem bonito, homem mais sexy, ela fala “Que povo bom, né, meu pai”.

Rosana Jatobá – Olha, isso e muito mais vocês aí que estão ouvindo o nosso programa vão conferir no próximo bloco. A gente volta daqui a pouco, até já!

3º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com o Conversa com a Jatobá, hoje eu tenho a honra de receber o Antônio Fagundes e o filho dele Bruno Fagundes, que estão em São Paulo com a peça “Tribos”. Você no “Rei do Gado” interpretava o Antônio Mezenga na primeira fase e o Bruno Mezenga na segunda fase. Você era um latifundiário, um pecuarista, que teve um romance com a Luana, interpretada pela Patrícia Pilar. Naquela época a questão que mais se discutia era da posse de terra e hoje o que a gente vê com relação a fazendeiros, a criação de gado, é o desmatamento, um dos maiores problemas ambientais que o Brasil enfrenta. Você se preocupa com essa questão, que tipo de relação você tem com esse fato?

Antônio Fagundes – Você sabe que é uma coisa que sempre me levantou uma pulga atrás da orelha. Eu acho muito importante você preservar as matas, as florestas, mas se você observar os países que estão pressionando o Brasil para que sua mata seja preservada, não tem mais matas, ficaram ricos por causa disso. Porque exploraram seu território, porque plantam, porque exportam, porque são os maiores produtores de soja do mundo e são os maiores produtores de milho do mundo e porque não tem suas matas. Eles preservam aqueles parques, que é um negocinho pequenininho no meio daquele imenso território e de repente fazem campanhas muito fortes pra que a gente preserve as nossas matas e tiram 20% da nossa capacidade de plantio  só numa leizinha que é proibido plantar em 20% do território. Mas isso aí vai embora, se a gente for ver, estamos proibidos por lei de plantar em 50% do nosso território arável. E se a gente plantasse mais 10%, talvez a gente viesse a ser os primeiros produtores de soja do mundo. Então eu acho que você vê que as coisas não são tão simples assim. Não é só a favor ou contra, tem que pensar os dois lados.

Rosana Jatobá – Tem essas variáveis todas, de mercado sobretudo.

Antônio Fagundes – Pensar os dois lados quer dizer o seguinte: a agricultura tá segurando a balança comercial do Brasil, se você não pensar na agricultura industrial do Brasil, você acaba com o país porque nós não temos uma indústria forte. Quem segura a balança comercial são as exportações de grãos brasileiros.

Rosana Jatobá – O agronegócio é sem dúvida o carro-chefe e tem excelência no mundo inteiro.

Antônio Fagundes – Mas aqui no Brasil principalmente, nós somos o “celeiro” do mundo porque nós temos uma capacidade muito grande de plantio.

Rosana Jatobá – Mas o que você me diria dos impactos ambientais da criação de gado, por exemplo, em pasto para uma área que foi desmatada para a criação do gado?

Antônio Fagundes – Eu não sei te dizer isso profundamente, mas eu sei que tem sim alguns predadores, né. Esse é um outro lado, você tem que ver também que a coisa não seja feita de tal forma que a gente dizime uma capacidade de reserva florestal que a gente tem bastante grande ainda. Então a gente tem que tomar cuidado, se não acabam com tudo. Mas não precisa ser assim tão radical, eu acho que a gente tem que analisar melhor isso daí e ver exatamente onde a gente pode plantar, onde não pode plantar, quem pode, quem não pode. Precisa ter uma política agrária, nós não temos política agrária. No Brasil é cada um por si. Quem planta soja, planta soja porque quer, não é porque o governo delimita. Nos Estados Unidos você não planta o que você quer não, o cara diz “Agora você vai plantar milho porque nós precisamos de milho, o mercado tá dizendo que precisa de milho”. E aí o milho não baixa o preço porque não é todo mundo plantando milho. Aqui no Brasil o que é que você vê? A soja sobe o preço, todo mundo planta soja. Aí depois cai o preço da soja, então sobe o preço do milho porque ninguém plantou milho. Aí todo mundo planta milho, tá errado.

Rosana Jatobá – A mesma coisa acontece com relação ao álcool e ao açúcar, o que determina é a demanda de mercado.

Antônio Fagundes – Tudo e nós somos grandes produtores e nós não determinamos o preço de nada, quem determina é a Bolsa de Chicago. Então é horrível o que acontece no Brasil porque nós não discutimos, nós não conversamos. E aí ei volto, o teatro faz tudo isso. Ali em dois minutinhos você sentou, viu uma peça e essa peça faz você pensar na complexidade da vida e você leva pra casa essa complexidade, você acaba aprendendo se vai sempre, se você vê sempre peças desse jeito, a pensar complexamente que as coisas não são tão simples.

Bruno Fagundes – Você pensar numa questão com todas as vertentes que envolvem, não só o preto no branco. Mas pensar como essa peça, a gente fala de um assunto, sobre a deficiência auditiva, mas não é tendenciosa, ela levanta um problema e explode, que é pra você criar mesmo esse hábito de reflexão: “E aí, o que eu faria no lugar  desse pai, desse filho, da namorada?”.

Rosana Jatobá – Bruno, você tem algum tipo de preocupação ambiental, você se engaja de alguma forma em movimentos ambientalistas, tem no seu dia a dia hábitos de sustentabilidade, você é voltado para essas questões?

Bruno Fagundes – Eu sou de uma geração que isso é muito forte, quando eu era criança, por exemplo, eu aprendi isso na escola. Então acho que de uma certa maneira eu cresci e faço coisas meio automáticas assim, que é reciclar, economizar água. Então acho que é uma consciência que foi engendrada em mim que eu carrego.

Rosana Jatobá – E em casa, por exemplo, seu pai também tem essa consciência, o Antônio Fagundes? Você ensina pra ele?

Bruno Fagundes – A gente se ajuda.

Antônio Fagundes – Eu não prestei atenção também.

Bruno Fagundes – A gente presta atenção em tudo, sempre atentos, isso é o mais importante do que você estar fazendo uma coisa rígida, você se atém às demandas, a gente troca muito também nesse sentido.

Rosana Jatobá – E aqui no Conversa com a Jatobá no próximo bloco, que é o último bloco do nosso programa, eu quero saber do Antônio Fagundes e do Bruno Fagundes, que tipo de conexão eles mantêm com a natureza. Daqui a pouco a gente volta.

4º bloco

Rosana Jatobá – Estamos de volta com o Conversa com a Jatobá, hoje entrevistando Antônio Fagundes e o filho dele o Bruno Fagundes. No bloco anterior a gente estava falando sobre hábitos sustentáveis, o que a gente pode fazer dentro de casa pra ter um estilo de vida mais sustentável, reduzir o impacto ambiental. Na casa de vocês o que vocês fazem diariamente que pode contribuir com um mundo mais sustentável?

Antônio Fagundes – Tem aquelas bobagens, que é bobagem, mas se todo mundo fizer de repente pode ser. Eu, por exemplo, quando eu faço a barba, eu abro um pouquinho a água e fecho e faço a barba. Depois eu abro um pouquinho, então eu acostumei a fazer isso. Meu banho dura menos de 5 minutos porque eu já me organizei como é que eu tenho que me ensaboar. Então eu tô economizando eletricidade, eu tô economizando água.

Bruno Fagundes – Luz, né. Às vezes eu fico surpreso em casa como a gente esquece luz acesa, às vezes nem tá escuro ainda e já tem luz acesa, isso é uma coisa que a gente se habituou a fazer rápido.

Antônio Fagundes – Tem lixinho no carro, então não joga lixo na rua. Eu vejo no Rio de Janeiro, por exemplo, é um exemplo péssimo disso aí porque o carioca adora a cidade, mas aquilo é uma porcaria, a praia é uma porcaria. Quem é que faz isso?

Rosana Jatobá – Mas a cidade tem o Programa Lixo Zero e está dando resultado.

Antônio Fagundes – Mas na praia não está dando certo, eles estão pegando quem joga bituca de cigarro no chão. Mas não estão pegando na praia, vai na praia e pega quem joga lixo na praia. Não sei se você já foi à praia no domingo às 18h pra ver depois que acabou o sol o que é que fica ali, é um lixão que você tem vontade de nunca mais passar perto. Eles passam com aquele trator ali e limpam, mas é claro que os vermes, aquela coisa que fica lá fermentando o dia inteiro, ficou naquela areia que você vai frequentar no dia seguinte. Então o homem é o animal que defeca onde come, é horrível isso.

Bruno Fagundes – Você tem que levar um saco plástico, juntar o lixo pra levar de volta pra sua casa.

Antônio Fagundes – Voltamos lá no começo do programa quando a gente falou que as pessoas não vão ao teatro por educação. Mas a educação mexe com isso também, eu me lembro os meus filhos quando eram pequeninhos, a gente saía e eles ficavam com a mãozinha fechada e quando a gente chegava em casa eles perguntavam:  “Pai, posso jogar fora agora?”. Pode no lixinho. Eles ficavam com a mãozinha fechada o dia inteiro porque eles foram ensinados a fazer isso, isso é educação. Eu, por exemplo, se eu for à praia e eu tiver um papel na minha mão eu não tenho coragem de jogar na areia. Eu vou ficar com o lixinho na mão até achar um lugar pra jogar. Por que as pessoas não fazem isso? Educação.

Rosana Jatobá – Bruno,  no Brasil temos apenas 1,5%  de reciclagem, baixíssimo índice, o poder público mistura todo o lixo que você separa em casa. As pessoas que não se dão o trabalho de pegar o lixo, separar e levar a uma cooperativa ou associação estão sabendo que o lixo que ela separou vai para o mesmo lugar, vai ser misturado.

Antônio Fagundes – Mas as pessoas não tem que se dar ao trabalho, elas pagam imposto, tem um departamento de lixo exclusivamente pra isso. Quem tem que fazer isso é o cara do lixo, não somos nós.  Eles querem pegar o nosso dinheiro, que é uma fortuna, que é o maior imposto do mundo, e gastar com as maracutaias deles. Porque nós temos segurança privada, nós temos saúde privada, nós temos educação privada, lixo você quer que a gente separe e leve no lugar, nós temos o problema do trânsito que a gente enfrenta, os impostos são altos e eles estão fazendo o que? Roubando o nosso dinheiro. Não, nós temos que brigar pra que eles usem o dinheiro que nós pagamos pra eles fazerem isso. Eu tenho que trabalhar pra pagar o imposto, eu trabalho muito pra pagar esse imposto. Eu pago esse imposto pra que seja feito por outras pessoas, que naturalmente só tem isso pra fazer. Eu não, eu tenho que gravar, tenho que dar entrevista, tenho que fazer teatro. Onde é que eu vou arrumar tempo pra separar meu lixo e levar lá? Eles é que têm que vir buscar e eles é que têm que levar lá e separar. Eles é que têm que reciclar, não somos nós. Nós estamos acostumados a cobrar do governo, mas sem cobrar certo. Cobrar certo é isso: “Eu não tenho que fazer nada, a minha parte eu faço trabalhando, produzindo, pagando meu imposto”.

Rosana Jatobá – Bruno, como é que deve ser essa cobrança então pra ser realmente eficaz?

Bruno Fagundes – Eu acho que o poder público não faz esse papel deles, a gente tem que fazer o trabalho dobrado, triplicado.

Antônio Fagundes – Educação, saúde, transporte, tudo é por nossa conta.

Bruno Fagundes – A gente tá fazendo espetáculo com acessibilidade, muitas pessoas vem aqui, deficientes auditivos e militantes da causa surda, e vem reclamar pra gente por que não tem museu acessível. E a gente fala: “Desculpa, não é nossa culpa. Você tem que falar com a pessoa certa, a gente tá fazendo a nossa parte, que é fazer um espetáculo que promove a inclusão, promove a acessibilidade”. Então acho que é uma questão muito mais profunda.

Antônio Fagundes – A gente sabe quem é o inimigo. A gente começa cobrar às vezes de pessoas que não têm que se cobradas. Por exemplo, eu cobro da pessoa que joga lixo na praia, isso eu cobro.

Rosana Jatobá – Você repreende a pessoa ali na hora?

Antônio Fagundes – Eu nem vou à praia porque eu vou ficar brigando com a praia inteira. Mas se você ver aquela mulher lá com cachorrinho, o cachorrinho faz cocô no chão, eu falo: “Limpa essa porcaria”.

Bruno Fagundes – Mas eu cansei de estar dentro do meu carro e eu vejo um carro na frente jogar papel fora, eu fico buzinando, eu falo alto: “Vai pegar o papel que você jogou fora”. Eu aprendi a fazer isso, eu aprendi isso com a minha mãe, minha mãe faz isso sempre. É uma questão de conscientização que é mínima, é educação.

Antônio Fagundes – Fora isso precisa ter limpeza, mesmo que você não jogue, tem folha, tem coisas que caem e sujam a cidade. Então precisa ter, mas aí eles que não fazem a parte deles direitinho.

Rosana Jatobá – Então em termos políticos, engajamento político, você mostrou ao longo da sua trajetória que sempre foi uma pessoa com as suas posições políticas muito bem manifestadas. Como é isso pra você hoje em dia?

Antônio Fagundes – Eu continuo na minha vida privada, eu voto, eu procuro escolher dos males o menor, porque você sabe que democracia é escolher dos males o menor. A gente nunca vai acertar plenamente, a gente tem que ir corrigindo esses caminhos. Eu votei nessa pessoa aqui e ela tá fazendo porcaria na administração, então vou tirá-la de lá e votar em outra se puder tirar. Às vezes não posso tirar, mas posso votar em outra. De qualquer forma, eu continuo tendo a minha postura individual, mas não quero mais fazer parte desse mundo não. É um mundo que não me interessa divulgar, até porque eu me lembro de ter ajudado a colocar muita gente lá, mas não me deram o mesmo espaço pra tirar quando eles fizeram alguma bobagem. Então como eu não tenho esse espaço, eu não quero mais ajudar a botar. Eu vou dar o meu voto só como cidadão.

Rosana Jatobá – E você, Bruno?

Bruno Fagundes – Eu acho que votar consciente é você votar numa pessoa e acompanhá-la e ver que tipo de reinvindicação ela prometeu e está cumprindo. Então acho que voto consciente é isso. Buscar ficar sempre atento ao que está sendo feito.

Rosana Jatobá – E você tem uma forte conexão com a natureza?

Bruno Fagundes – Ah, pessoalmente tenho, eu gosto muito de ir à praia, às limpas, né (risos).

Rosana Jatobá – Você mora no Rio de Janeiro?

Bruno Fagundes – Não, moro em São Paulo. Eu sou bem urbanóide, mas quando eu vou pra praia eu me sinto muito bem e gosto muito.

Rosana Jatobá – E você, Antônio Fagundes? Onde é que a gente pode te encontrar apreciando a natureza, caminhando?

Antônio Fagundes – Eu não sou muito assim não, até porque eu não tenho muito tempo. Quando eu tenho esse tempo, eu prefiro ficar em casa lendo com ar condicionado. Eu gosto da natureza controlada, um vidro e aquela Mata Atlântica ali do outro lado, mas não tem mosquito, não tem as intempéries, eu controlo o ar, não chove em mim, eu não gosto de acampamento.

Rosana Jatobá – É mesmo (risos)?

Antônio Fagundes – Então digamos que eu sou assim bem consciente que a natureza é muito boa, mas `a distância.

Rosana Jatobá – Você sabia que o jatobá é a árvore que mais sequestra gás carbônico da atmosfera?

Antônio Fagundes – Tá vendo, você é culpada disso. Vamos fazer uma campanha contra o jatobá, né. (risos)

Rosana Jatobá – O jatobá e não contra a Jatobá (risos). Olha, o nosso programa está chegando ao fim, muito obrigada pela presença de vocês adorei essa conversa tão qualificada, acho que tão esclarecedora para os nossos ouvintes. E a sustentabilidade é pensar no futuro do planeta e das próximas gerações. Antônio Fagundes, que planeta você quer deixar para o seu filho Bruno e para os filhos eventuais do Bruno?

Antônio Fagundes – Eu acho que se a gente pensar na sustentabilidade levando em conta todos os lados a coisa vai ser boa. Nós podemos virar luditas, luditas são aqueles homens que na Revolução Industrial eram contra as máquinas. Então eles quebraram todas as máquinas, mas quebrou a máquina e daí? Não vai ter mais emprego, não vai ter mais progresso. Não é bem assim, não adianta quebrar a máquina. Quebrar a máquina não vai resolver o problema. Sustentabilidade pra mim é levar em conta todos os fatores e ser razoável na análise disso tudo. Eu tenho uma frase do Oscar Wilde que eu adoro e que eu acho que define bem a minha posição em relação ao mundo: “Tudo com moderação, inclusive a moderação”.

Rosana Jatobá – E você, Bruno?

Bruno Fagundes – Eu acho que sustentabilidade não é só verde, acho que é você ter consciência mesmo do lugar onde você está inserido e de achar maneiras de preservar, não só no sentido da natureza, mas preservar mesmo também a sua autocrítica, preservar o seu jeito de lidar com os outros, tudo isso eu acho que é sustentabilidade.

Rosana Jatobá – É uma forma de estar no planeta.

Bruno Fagundes – É uma forma de estar consciente, respeitando o próximo, acho que começa por aí, depois o resto a gente vai se informando.

Rosana Jatobá – Para terminar então convida aí o nosso público pra assistir a peça “Tribos”.

Bruno Fagundes – “Tribos” no Teatro Tuca, o teatro da PUC, de sexta a domingo, sexta e sábado às 21h30, domingo às 18h, com Antônio Fagundes, Bruno Fagundes, Maíra Dvorek,  Arieta Corrêa, Eliete Cigaarini e Guilherme Magon.

Antônio Fagundes – Direção do Ulysses Cruz e nós temos no dia 26 de outubro um espetáculo com acessibilidade para os deficientes auditivos.

Bruno Fagundes – E o público ouvinte também pode vir no dia 26, não é fechado para deficientes auditivos, intérpretes de libras e legenda.

Rosana Jatobá – Muito bem. Muito obrigada então mais uma vez, um beijo grande pra vocês, eu já era fã, agora então não tenho nem palavras pra descrever.

Antônio Fagundes – Que bom. Muito obrigado, viu.

Bruno Fagundes – Obrigado.

Rosana Jatobá – E para você que está ouvindo a gente aqui em casa, semana que vem tem mais! Um beijo grande e até lá!

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