2) Western Harbour. Malmö, Suécia

Cidades para pessoas

por Ivana Jatoba

“Cidades precisam ser construídas para pessoas, não para carros”. Esta frase estava escrita numa matéria de jornal que falava sobre a construção da ponte Salvador – Itaparica, uma obra que pretende ligar a capital baiana à maior ilha da Baía de Todos os Santos, e assim dar acesso rápido aos municípios do Recôncavo e de muitas outras localidades do estado da Bahia. Projetada com seis pistas de cada lado para a passagem de carros e corredor para um futuro transporte sobre trilhos, não há dúvidas dos benefícios que esta obra trará em termos de logística, pois proporcionará rapidez e redução dos congestionamentos do trânsito da região. Mas, quais seriam as vantagens desta ponte para quem não possui carro, ou seja, para a maioria da população do entorno?

A ideia de que a mobilidade urbana das cidades aumenta à medida que estas se afastam dos automóveis vem ganhando força a cada dia, principalmente por causa de exemplos de gestão que priorizam o transporte público e de qualidade. Compartilhando a experiência do ex-prefeito de Bogotá, o arquiteto Enrique Peñalosa, medidas forma tomadas no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas que não possuíam carros, representadas por 70% da população de lá. O que ele fez? Desenvolveu um sistema de ônibus de trânsito rápido (BRT), construiu centenas de quilômetros de passeios e ciclovias, plantou cem mil árvores, envolveu os cidadãos na melhoria de seus bairros e proibiu estacionamento de carros ao longo das avenidas, reduzindo assim o engarrafamento em torno de 40% em horário de pico.

Saindo da Colômbia e vindo para o nosso país, temos o exemplo de Curitiba, cidade em que o então prefeito Jaime Lerner projetou um sistema de transporte barato e útil aos cidadãos, onde deslocamentos de ônibus e bicicletas correspondem a mais de 80% das viagens dos curitibanos, numa clara demonstração do que vem a ser uma cidade para pessoas.

Ao ter esta consciência, comecei a observar as ruas da cidade onde moro, Salvador. Apesar do poder público daqui estar execuando muitos projetos no sentido de melhorar a mobilidade urbana, seja ampliando avenidas, ciclovias e as linhas do metrô, muita coisa precisa ser feita. Percebendo que o problema não estava apenas no projeto da ponte, questionei o porquê de muitas vias expressas não possuírem espaço para os ciclistas e muito menos calçadas para pedestres. E se a cidade é para todos, por que o descaso com o exercício de ir e vir do cidadão desmotorizado?

Convido você, leitor, a fazer uma reflexão sob esta nova ótica. Aliás, não apenas uma reflexão, faça também uma experiência: deixe seu carro na garagem pelo menos um dia e tente se locomover para os lugares do seu cotidiano, caminhando ou fazendo uso do transporte público. Procure então analisar se sua cidade é feita para pessoas ou para carros. Depois deixe seu comentário.

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

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