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Ao mestre, com carinho…

por Pagan Senior

Quando a jornalista Rosana Jatobá me honrou com a possibilidade de oferecer um espaço semanal para meus escritos em seu Universo Jatobá, colocou como condição eu lhe adiantar 8 textos. Muito justo: avaliar a qualidade e o fôlego dos mesmos, além de garantir uma eventual falta de fôlego minha. E assim foi e isso significa que cada crônica minha tem 8 semanas de idade em média.

Se você estiver lendo esta crônica entre os dias 20 e 26 de junho é mais um sinal da grandeza e autenticidade profissional desta jornalista, pois terá atendido a pedido meu de alterar a tal sequência, em vista da urgência que lhe apresentei em expressar uma crítica a ela mesma. Explico:

Semanalmente Universo Jatobá propõe uma enquete a respeito de assuntos de interesse e oferece opções para serem votadas. Nesta semana (que inclui o dia 18 de junho, quando escrevo esse texto) foi:

O que você acha do protesto Movimento Passe Livre contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo?

– É legítimo, pois o povo tem direito a um transporte público de qualidade e deve pagar um preço justo por isso.

– É legítimo, mas os manifestantes perderam a razão quando interditaram as vias da cidade e partiram para a violência e vandalismo.

– É ilegítimo, pois o aumento de 20 centavos é insignificante e não justifica a manifestação.

– Apesar de legítimo, a polícia tem que coibir abusos e vandalismo com uma repressão dura e, se preciso, violenta.

– E ilegítimo, pois o aumento é necessário e pequeno, mas o governo perdeu a razão com a reação violenta da polícia.

Costumo votar nessas enquetes e me dispus a fazer o mesmo. Pode ser a 1 ou a 2. E que tal a 3? A 4 também é verdade, o mesmo acontece com a 5. Parei e procurei qual me representa melhor. Pensei e percebi que independente da verdade que pode haver e há em cada opção, nenhuma oferece uma visão mais abrangente do que realmente está acontecendo através desses protestos.

Cresci numa época em que a “politização” começava aos 12, 13 anos de idade. Muito cedo? Possivelmente, mas o fato é que a partir dessa idade eu me envolvia – ou era envolvido, e isso faz parte do jogo – em movimentos e protestos contra e a favor de coisas de interesse social.

Sempre estive ao lado do certo? Possivelmente não – e isso também faz parte do jogo – mas a causa coletiva sempre esteve no foco da questão.

Muito cedo tomei jato d´água na cara, muito cedo corri pela contramão para fugir de polícia, muito cedo concorri a cargos em grêmio estudantil, centro acadêmico, associação profissional.

Horrorizado assisti os brucutus (carros de combate) passarem pela rua Maria Antônia em São Paulo, garantindo a implantação da ditadura neste país, enojado vi colegas dedurarem colegas – a mim inclusive, diga-se de passagem – e pior, pior do que tudo, mas muito pior do que tudo mesmo, assisti gerações inteiras perderem a voz, a capacidade de protestar, a capacidade de perceber que há do que se protestar. Gerações inteiras focarem o interesse individual e se esquecerem completamente do coletivo. Um silêncio de décadas, quebrado por pequenos espasmos episódicos (Diretas Já e Fora Collor), mas que foram episódicos e não por uma questão de consciência de participação em causas coletivas.

Então, as administrações propõem um cuidadoso aumento no preço dos transportes públicos – e foi cuidadoso, abaixo dos índices da inflação – e de repente temos manifestações de massas nas ruas de diversas cidades do país e nessas manifestações surgem protestos por outras questões – custo da copa do mundo, corrupção, qualidade da representação legislativa, educação, saúde e qualquer outra coisa capaz de mobilizar o vizinho a sair da letargia de décadas. Arre, viva o Brasil, o gigante adormecido parece que está acordando! O importante não é a causa e sua justeza, mas o fato de as pessoas se assumirem como autores da história e não sucumbirem a uma inércia e passividade de uma grandeza cóóóóósmica.

Então, querida jornalista e amiga, não se permita reduzir a questão dos protestos a pequenos certos e errados. Estes, sempre existirão em todas as questões. Não existe manifestação 100% ordeira, não existe controle policial 100% coerente, não existe reivindicação 100% justa, não existe…não existe…

 

Pagan Senior é engenheiro civil, com atuação institucional na área de Coleta Seletiva e Reciclagem na Cidade de São Paulo. É também ator diletante.

Pagan Senior escreve às quintas-feiras aqui no Universo Jatobá.

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