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Coleta seletiva

por Ivana Jatoba

“Não, esta garrafa não é aí que se coloca, é neste compartimento”, disse meu flatmate (colega de apartamento) sobre a garrafa de leite que havia acabado e precisava ser jogada no lixo. Logo vi que Sydney é uma cidade que pratica a coleta seletiva de resíduos. Não era algo teórico, que lia em revistas ou via em filmes, era real e parte da minha realidade, uma prática diária. “Ah, os australianos estão implantando a coleta seletiva em Sydney”, perguntei. “Não, não estamos implantando em Sydney, mas é algo já implantado não só aqui, mas também nas outras cidades”, disse ele. Esse episódio ocorreu assim que cheguei por lá.

O sistema é muito simples: cada imóvel (casas, prédios, escritórios, estabelecimentos comerciais, etc.) tem duas latas de lixo na calçada, ao invés de uma, como aqui no Brasil. Uma lata é para lixo orgânico e a outra é para lixo reciclável. Algumas residências têm ainda uma terceira lata para depositar resíduos provenientes de jardinagem. Não era necessário separar o lixo reciclável, pois isso era feito nas cooperativas espalhadas pela cidade, destino final dos caminhões coletores das garrafas tipo PVC, embalagens de vidro, papéis, jornais, papelão, plásticos, metais, etc.

Lá em Sydney morei na praia, no centro e na periferia, todos os bairros tinham coleta seletiva de lixo. Toda quarta feira era dia de levar o lixo reciclável acumulado em casa durante a semana para a lata que ficava na calçada. Havia também o dia da semana para descartar móveis, eletrodomésticos e outros objetos domiciliares indesejáveis. Não lembro bem qual era o dia, mas lembro que era um dia muito esperado, principalmente para estudantes estrangeiros que chegam diariamente no país e queriam mobiliar a casa que iriam morar, sem gastar muito dinheiro. Era colchão, sofá, microondas e outras coisas achadas nas calçadas que chegavam lá em casa… confesso que no início resisti a aceitar esses objetos, mas depois vi que era uma prática comum, um descarte simples, o exercício do desapego e reciclagem sem maiores burocracias.

Quando voltei para o Brasil e vi tanto lixo sendo descartado de maneira imprópria, queria encontrar uma forma mais prática de realizar a coleta seletiva, não só na minha casa, mas algo que fosse realizado nas cidades, como em Sydney. Cheguei a entrar em contato com pessoas que trabalhavam na prefeitura de Salvador – BA, onde moro, para ver a possibilidade de viabilização desse projeto. Não seria nada muito caro, apenas os caminhões para fazer a coleta uma vez por semana e as latas ou contêiners para bairros mais pobres. Os bairros de população com maior poder aquisitivo poderiam custear suas latas. Poderia haver um acordo com catadores ou cooperativas de catadores, algo do tipo.

Mas logo me informaram que a prefeitura já dispunha de alguns projetos de coleta seletiva, só não tinha dinheiro para colocá-los em prática. Bom, enquanto isso, façamos nossa parte, nademos contra a corrente e descartemos nosso lixo reciclável em postos coletores cada vez mais raros e distantes das nossas residências. Infelizmente!

 

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

Ivana Jatobá escreve às quintas aqui no Universo Jatobá.

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