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Asta: artesanato feito com material de descarte

por Universo Jatoba

Tudo aquilo que você joga no lixo aqui, lá na Asta vira produto e gera renda e autoestima para mulheres excluídas do mercado de trabalho formal. Se você não imagina como, saiba que a rede, criada em 2007 pela advogada carioca Alice de Freitas junto com a analista de comércio exterior Rachel Schettino, beneficia mais de 700 artesãos que vivem em favelas e bairros pobres de dez Estados, além de 150 revendedoras ativas.  Os brindes institucionais e produtos de artesanato confeccionados com resíduos são vendidos por catálogo pela internet. São peças de reciclagem exclusivas e com toques de design.

Sua principal meta é ajudar mulheres a começarem seus próprios negócios. “A Rede Asta nasceu feminina. Foi feita por mulheres para mulheres”, ressalta Alice. “Mais de 90% dos integrantes dos grupos produtivos são artesãs que, em sua maioria, já atuaram em subempregos e sonham em trabalhar perto de casa para criar os filhos, fazendo o que amam.” Os produtos, sempre obtidos por meio da otimização de recursos e do reaproveitamento de materiais, são considerados de design de luxo, criados a partir de materiais ecológicos, como bambu, piaçava, papel de banana, trapos, jornais, entre outros.

Uma grande rede de postos de gasolina, por exemplo, não sabia que destino dar a 30 mil m² de lonas vinílicas. Três grupos produtivos, selecionados e treinados, transformaram o material em 30 mil peças boladas por designers — como uma bolsa de transportar objetos em bicicletas. Para uma operadora de celular, 20 costureiras confeccionaram vários tipos de brindes reutilizando banners, capas de poltronas e uniformes descartados pela empresa. Em outra empreitada, uma cimenteira passou a distribuir sacolas e cases de laptop, produzidos com sacos que estouravam quando empilhados.

Segundo estudo de igualdade de gênero da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), as mulheres colocam em casa 90% de sua renda. No caso dos homens este percentual fica entre 30% e 40%. Dados do Sebrae mostram que, em 2011, artesanato empregou cerca de 8,5 milhões de pessoas no país, representado em torno de 2% do PIB (Produto Interno Bruto), só que com alto percentual de informalidade.

Tudo começou quando Alice, então uma garota de classe média de Nova Friburgo (que participou de intercâmbio na Tailândia aos 15 anos e queria ser diplomata) fez uma incursão pela Ásia em 2003 para conhecer projetos de geração de renda. Na volta, reencontrou Rachel, uma amiga de Friburgo, e, juntas, decidiram unir o poder do empreendedorismo feminino com a demanda por artesanato.

O processo começa com a seleção de grupos produtivos. Os integrantes recebem apoio de designers para a criação de coleções. O passo seguinte é a inserção dos produtos selecionados nos canais de comercialização da Rede: venda direta, e-commerce e loja no bairro das Laranjeiras, na cidade do Rio de Janeiro. Caso o resultado seja bom, o grupo é direcionado para a produção no atacado e aí a Asta passa a acompanhar mensalmente seu desempenho por indicadores específicos.

Quatro vezes ao ano, a Asta distribui cerca de mil catálogos para a venda porta-a-porta, que é um grande diferencial da rede, até hoje a única do gênero a investir nesse modelo no país. A internet também ajuda nas vendas, mas quase 60% do faturamento provêm do brinde social ecológico. As empresas fornecem o resíduo e as artesãs trabalham em sua criação. Essa produção é de acordo com a demanda.

Com o slogan “bom, bonito e do bem” e proposta de valor “inclusivo para quem faz, exclusivo para quem compra”, a Asta também constrói parcerias com organizações e empresas que podem doar matéria-prima, como o refugo de tecidos, o que aumenta a renda dos grupos produtivos. O foco de todos os itens é sempre urbano e chamado por Alice de “artesanato de sobrevivência”. Ele se diferencia de técnicas tradicionais regionais, como as encontradas no sertão ou na Amazônia. E um dos paradigmas da Asta é não mudar a maneira de trabalhar do artesão: no máximo, orienta e norteia quanto ao design e aos processos.

Os clientes finais costumam ser pessoas de alto poder aquisitivo, que valorizam o comércio justo, o artesanato com estilo e não se pautam pelos menores preços de mercado. No caso das corporações, são as que apresentam preocupação ambiental em suas ações. Os lucros são completamente reinvestidos para aumentar o número de grupos apoiados e melhorar o treinamento. Para Alice, nada disso seria possível se não fosse o “talento incrível dessas mulheres”.

Neste ano, Alice foi uma das quatro finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2013, promovido no Brasil pela Fundação Schwab e Folha de S. Paulo.

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