Universo Jatoba

Para que serve o vão livre de uma ponte? Para cumprir sua função de sustentação estrutural? Para acolher desabrigados? Todas essas respostas parecem óbvias, mas no ano passado um projeto italiano chamou a atenção do mundo e ganhou o segundo lugar num concurso realizado pelo governo local que queria soluções para que uma antiga ponte da região da Calábria não fosse demolida, o que custaria algo em torno de US$ 50 milhões para os cofres públicos.

O famoso projeto prevê a geração de energia para abastecer mais de 15 mil famílias anualmente. Batizado de Solar Wind, sua principal característica é aproveitar o espaço do vão da ponte para instalação de 26 turbinas eólicas, possibilitando a geração de 36 milhões de kWh por ano. Além disso, painéis solares no lugar do asfalto (isso mesmo!) seriam instalados na ponte para a produção de algo em torno de 11 milhões de kWh anualmente.

Mas o projeto não pretende transformar a ponte apenas numa grande geradora de energia eólica e solar. O entorno seria aproveitado também como lazer, transformado num grande parque, com estacionamento e mirante para a charmosa vista da costa italiana. Estufas solares auto-suficientes também fariam parte do complexo, onde as pessoas comprariam os produtos orgânicos ali cultivados. É realmente um “passeio verde”, como foi legitimamente concebido.

O trio italiano de arquitetos autores do projeto, Francesco Colarossi, Giovanna Saracino e Luisa Saracino foi bem generoso quanto ao quesito sustentabilidade. Além de reaproveitar uma estrutura já existente, como queriam as autoridades, todo o sistema geraria energia limpa e pensaria no lado social, ao proporcional à população um espaço de lazer e entretenimento.

Diante de um fato como esse, me vem os questionamentos: por que este projeto não ficou em primeiro lugar? Por que nosso país não adota uma postura semelhante nas obras públicas, tão carentes de procedimentos ambientalmente corretos, promovendo concursos que fomentem a sustentabilidade e estimulem a criatividade dos nossos profissionais? Você também se questiona?

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.