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A Cultura das Grandes Obras

por Ivana Jatoba

O Poder Público brasileiro venera as grandes obras. Você já reparou que elas servem para vangloriar políticos, tem enorme poder de publicidade para atrair votos e é uma porta aberta para desvio de dinheiro público? No Brasil, preste atenção, a mentalidade generalizada é admirar os grandes feitos da engenharia. O bom gestor público é aquele que “faz”, e fazer significa botar a mão na massa para se executar obra. Se a betoneira não estiver girando em cada esquina da cidade, o “cara” não faz nada. Mas, será que este raciocínio é de fato coerente?

Tomemos como exemplos a Hidrelétrica de Belo Monte e a Transposição do Rio São Francisco. Sabemos que são feitos de grandes magnitudes que marcam a história do local aonde estão inseridas e também a gestão de qualquer político à frente dessas empreitadas. E não adianta a voz dos que questionam tamanho gasto nos cofres públicos. Cisternas e poços artesianos no lugar da transposição? Será que funcionaria? E usar outras fontes de energia mais sustentáveis e menos custosas, será que realmente substituiriam os milhões de megawatts que uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo é capaz de gerar, juntamente com os retumbantes impactos ambientais e sociais inerentes?

A verdade é que nossa mentalidade ainda está muito voltada para valorizar as imensas construções. Reformar uma estrada? Não! Vamos fazer uma estrada nova, mesmo que isso requeira supressão vegetal e movimento de terra, pois o que importa é obra nova. Investimento em transporte público? Isso não garante votos de quem anda de carro. Vamos alargar as principais avenidas da cidade e projetar grandes viadutos, feitos que custam centenas de milhões de reais e que modificam a paisagem, mas tem efeito de curto prazo diante da crescente frota de veículos nas grandes metrópoles, afinal, as pessoas estão cada vez mais desgostosas em andar de ônibus e metrô. Por isso que os engarrafamentos estão cada vez piores a cada ano.

É, infelizmente as autoridades públicas dão muito mais valor a projetos de construção que “apareçam” mais aos olhos dos eleitores. Por isso que o Brasil é um dos países que menos investem em saneamento básico. A obra de um mega hospital público, mesmo que depois de pronto este não atenda à população, é muito mais lembrada do que pequenas execuções de sistema de canalização de água e esgoto nas periferias das capitais e em cidades do interior, mesmo que tais intervenções surtam efeitos extremamente benéficos na saúde dos menos favorecidos.

Convido todos a refletir sobre os conceitos aqui expostos. Vamos pensar no que consiste uma obra pública e nos efeitos que ela produz. Quais os impactos sociais, ambientais e econômicos envolvidos no projeto? E, principalmente, se o objetivo de servir ao povo vai ser de fato cumprido. Precisamos de menos barulho, menos “oba oba”, menos gastos, mais simplicidade, mais eficiência e mais sustentabilidade nas obras públicas, afinal, somos nós quem pagamos por elas, concorda?

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

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