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Entenda o acidente com a barragem da mineradora Samarco

por Ivana Jatoba

Desde que foi noticiado o acidente com a barragem de rejeitos da mineradora Samarco, em Minas Gerais, não se fala em outra coisa nos jornais e nas redes sociais. Vemos fotos do Rio Doce transformado em lama, de peixes mortos e agora do oceano atingido pela enxurrada tóxica. Mas você sabe, de fato, o que ocorreu e quais as consequências desse triste acontecimento?

Em breves linhas, uma barragem de rejeito é uma estrutura que tem a finalidade de reter os resíduos sólidos e água dos processos de beneficiamento de minério, neste caso, minério de ferro. Pense numa grande piscina, com cerca de 62 milhões de litros de lama. Esta piscina tem quatro paredes, onde uma delas é composta por um aterro (Barragem), construída em camadas de argila devidamente compactadas para evitar a passagem de qualquer líquido do rejeito. O maciço da barragem comporta um filtro interno de areia, cuja finalidade é drenar a água que por ventura infiltre no aterro, não transportando, dessa forma, partículas de argila. Isso evita o fenômeno conhecido como “Piping”, erosão interna das partículas sólidas do aterro, e garante a estabilidade da Barragem.

Bom, a barragem se rompeu. E isso aconteceu porque sua estrutura, antes um enorme paredão de argila sólida e resistente, se liquefez. A Liquefação ocorre quando determinado sedimento sólido passa a se comportar como liquido devido a grandes pressões internas no solo, desta forma provocando uma espécie de avalanche.

O motivo dessa liquefação ainda não foi descoberto, mas os técnicos que estão investigando o acidente trabalham com algumas hipóteses. Uma delas seria a seguinte: quando se deu o ocorrido, o alteamento do barramento, processo de aumento da altura da barragem para comportar mais rejeitos, estava sendo executado. Como o aumento da altura de volume de rejeitos é proporcional ao aumento da pressão das paredes, especialmente na parte funda, talvez a estrutura não tenha sido adequadamente construída para suportar tal pressão.

Outra hipótese seria a insuficiência dos tipos de instrumentos disponíveis para monitoramento, ou seja, tais instrumentos não foram suficientes para detectar possíveis deformações que evidenciassem a instabilidade da barragem. Eram necessários instrumentos mais precisos. Por isso que se afirma que as vistorias estavam em dia, mas nem assim o acidente foi evitado.

Bom, as consequências, sabemos, são terríveis. Existe uma polêmica em torno da toxicidade da lama. A Samarco afirma que há no rejeito apenas minério de ferro e manganês, o que não prejudicaria ninguém. Mas, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu, ES, mostra a presença de diversos metais pesados na água do Rio Doce, como arsênio, mercúrio e chumbo. Estes elementos são extremamente tóxicos ao ambiente e à saúde humana. Só o tempo vai poder nos mostrar se haverá aparecimento de casos de doenças relacionados a esses metais.

Além disso, a falta de água potável afeta toda a população do entorno. E a terra local será altamente prejudicada pela presença de ferro e manganês, pois, devido às propriedades ligantes do ferro, a lama, com o tempo, formará uma crosta dura no solo, inviabilizando assim a vida vegetal e a prática da agricultura.

Mas a natureza é mais forte do que se imagina. Isso porque existe sim, a previsão de recuperação tanto do Rio Doce quanto da parte do oceano atingida pela lama. Vai demorar décadas, mas, com a ajuda da sociedade, do regime de chuvas e das marés, a biodiversidade pode voltar a ter vida nesses habitats. Talvez não com as mesmas espécies, pois nada será como antes, mas com outras formas de vida. Que desse episódio, considerado o maior desastre ambiental do Brasil, a solidariedade seja praticada e a lição seja aprendida.

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

Ivana Jatobá escreve às quintas aqui no Universo Jatobá.

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