Ujatoba_Arthur

Senti na pele

por Ivana Jatoba

“Em dois dias choveu em Salvador o que estava previsto para todo o mês de outubro”, dizia o repórter do jornal local na TV. Enquanto assistia ao noticiário, da cama do hospital, após dar a luz ao meu filho, pensei: por pouco não tive meu bebê no carro, a caminho da maternidade.

Era quase cinco da manhã do dia dez de outubro quando comecei a senti as contrações. Elas vieram fortes e em intervalos de tempo muito curtos. Uma surpresa,  já a  previsão de nascimento do meu filho era para novembro. Apesar da forte chuva, chegamos a tempo ao hospital. Foi tudo muito rápido, o parto foi normal e, pasme, sem anestesia!  Meu filho nasceu bem, graças a Deus.

A experiência foi única. Passado o susto, vieram as reflexões.

Se tivéssemos saído de casa depois das sete da manhã, certamente ficaríamos presos no trânsito, e aí, nem sei o que seria de mim. Mesmo antes das seis, o tráfego de veículos já estava intenso. A principal via de acesso à maternidade estava interditada por causa do risco de deslizamento de terra no local. Os carros andavam lentamente por causa da água da chuva que não escoava, formando pontos de alagamento nas ruas. Uma caçamba foi “engolida” pelo asfalto, que cedeu, formando uma enorme cratera no local, obstruindo ainda mais o trânsito. Os buracos, que já eram numerosos, aumentavam de tamanho e, cobertos de água, ficavam invisíveis, fazendo com que muitos motoristas passassem em cima deles, danificando e até parando alguns veículos, para piorar o fluxo na área.

Mas, pensei, chuva forte não é justificativa para aquele cenário caótico. Em países que prezam pelo bem estar da população, pode chover o  que for, que as obras de infraestrutura bem executadas garantem a ordem na cidade. Em Salvador, a drenagem deficiente, falta de contenção de encostas e pavimentação mal executada são alguns fatores que contribuíram para a total paralisação do trânsito em toda a cidade naquele dia. Soma-se a isso o excesso de veículos nas ruas (comprovando a ineficácia do transporte público urbano) e o volume pluviométrico fora do previsto (seria consequência do efeito estufa?) e temos uma situação que nos torna impotentes.

Tiro então algumas lições deste dia: dessa vez escrevo não como informante de desastres ambientais, nem edificações ecológicas ou materiais de construção sustentáveis. Escrevo como protagonista de um episódio que mostra como a sustentabilidade é um conceito tão longe das políticas aplicadas em nossas cidades. Isso pra mim antes era óbvio, pois já sabia, através de estudos, pesquisas e das notícias que correm os jornais. Dessa vez eu senti na pele.

P:S: O meu príncipe tem nome de Rei. Chama-se Arthur!

 

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

Ivana Jatobá escreve às quintas aqui no Universo Jatobá.

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