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Pavimentação

por Ivana Jatoba

A pavimentação e ocupação das calçadas e avenidas públicas dizem muito mais a respeito de uma cidade do que imaginamos. Assim que cheguei em Sydney, Austrália, enquanto o motorista de táxi me conduzia do aeroporto para o albergue, eu observava, dentre outras coisas, as ruas e calçadas, impecavelmente bem pavimentadas, sem buracos, preparadas para serem utilizadas por jovens, crianças, idosos, deficientes visuais, cadeirantes, enfim, todos os representantes da sociedade. A inclusão social, que é um dos alicerces de uma sociedade sustentável, estava ali representada, nas vias públicas.

Quando comentei com as pessoas sobre essa minha primeira impressão, elas diziam: “mas com tantas paisagens bonitas na cidade, você ficou observando a pavimentação pública?” Pois é, talvez por estar com a mente voltada para o meio ambiente, já que estava lá para estudar sobre isso, não pude deixar de notar esta característica. E enquanto eu explicava o por quê desse meu comportamento, as pessoas começavam a perceber a importância de poder se locomover numa calçada ou rua sem buracos e sem obstáculos.

Porém, enquanto na Austrália e em outros países de primeiro mundo a locomoção nas vias públicas é um exercício diário sem maiores problemas, em muitas cidades do Brasil podemos ver que até mesmo para quem anda normalmente, o risco de cair num buraco e torcer o pé é alto, principalmente para idosos (cuja população cresce a cada ano). Para as mulheres que usam salto, um exercício de malabarismo. E o cadeirante? Este muitas vezes não tem como andar em determinadas calçadas, pelo excesso de irregularidades no relevo e ocupação indevida de vendedores. Então o jeito é conduzir sua cadeira de rodas na rua mesmo, no cantinho perto do meio-fio, pedindo a Deus para não ser atropelado. E os buracos no asfalto? Quem nunca teve ou conhece alguém que já teve o pneu do carro estourado depois que caiu num buraco enquanto dirigia?

Voltando a Sydney, lá, eu percebi também que, ao longo do tempo, no inverno ou verão, com chuva ou com sol, mesmo em dias de variação brusca de temperatura, coisa comum naquela cidade, a pavimentação continuava impecável. E vi mais: que as calçadas em geral são em parte pavimentadas e parte revestidas de grama. É para que parte da água da chuva, ao cair na grama, se infiltre pelo solo, evitando seu escoamento total pelas canaletas, pois a água pluvial, ao desembocar nos rios e canais, sempre carreia poluentes do asfalto, por mais limpa que seja a cidade. Esses detalhes me encantavam.

Quando olho para o estado da pavimentação pública nas cidades brasileiras, vejo que estamos muito distantes do padrão australiano. Não é a toa que este é um dos tópicos que indica se um país é de primeiro ou terceiro mundo. Porém, mais que isso, o bom estado das calçadas, ruas, avenidas e estradas é indicador de respeito ao cidadão, aspecto essencial para uma sociedade que preza pela sustentabilidade.

 

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

Ivana Jatobá escreve às quintas aqui no Universo Jatobá.

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