Universo Jatoba

A palavra “favela” remete o pensamento de muitas pessoas a um lugar superpovoado, mas com péssimas condições para se viver, onde falta educação, saneamento básico, coleta de lixo e onde sobra pobreza, violência, sujeira e descaso das autoridades, correto? Mas gostaria de enfatizar dois trabalhos brilhantes envolvendo profissionais que estão ajudando a transformar vidas através da sustentabilidade.

Um deles é o do arquiteto Marcos Boldarini, que se dedica a projetos de moradia popular e reurbanização de favelas. Assim, áreas antes ocupadas irregularmente, sem qualquer ordenamento e infra estrutura, são modificadas para que seus moradores tenham qualidade de vida. Que o diga o projeto “Cantinho do Céu”, em São Paulo. Além da rede de esgoto e de águas pluviais terem sido separadas, barracos foram substituídos por casas, ruas largas e devidamente pavimentadas ocupam o lugar das estreitas vielas e uma excelente área de lazer foi construida, aproveitando bem o espaço para oferecer academia para a terceira idade, pista de skate, deques de madeira na beira da represa ali existente, mesas de pingue-pongue e até cinema.

E tudo foi pensado para não agredir o meio ambiente. Dessa forma, a pavimentação do calçadão foi executada com tijolos permeáveis e as ocupações de risco junto à represa foram retiradas para proteger o manancial de água ali existente. Sem contar que a área permeável do solo foi aumentada e os espaços verdes foram beneficiados com espécies nativas. Com muita sabedoria, este projeto integra a favela ao contexto urbano.

Outro trabalho que também é voltado para construções sustentáveis em comunidades carentes é composto por três profissionais, Fernando Assad, Igiano Lima e Marcelo Coelho. Eles comandam o “Programa Vivenda”, cujo objetivo é reformar casas de favelas em cinco dias, com até cinco mil reais. O trabalho envolve mão-de-obra qualificada, cronograma curto e preço justo, que pode ser dividido em até doze vezes.

As atividades consistem na implantação de quatro kits de reforma: para banheiro, antiumidade, ventilação e revestimento, já que os moradores dessas ocupações sofrem muito com mofo, vazamento e falta de arejamento. O Programa atualmente está em São Paulo, no Jardim Ibirapuera. E está fazendo sucesso, pois em sete meses, setenta e duas casas já foram reformadas.

Como se pode ver, as favelas comprovadamente podem se transformar em lugares aprazíveis para seus ocupantes, através de bons projetos que valorizam as necessidades da comunidade local e melhoram a vida de todos. Ideias assim prezam principalmente pela inclusão social, um dos pilares da sustentabilidade, prezando dessa forma por uma sociedade mais democrática.

Fotos: Programa Vivenda/Reprodução

 

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália.

Ivana Jatobá escreve às quintas aqui no Universo Jatobá.