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Casa de taipa

por Ivana Jatoba

Ela pode não ser ainda uma Cinderela, mas já deixou de ser a Gata Borralheira da engenharia! A técnica simples de construção civil, muitas vezes tratada com preconceito pela aparência rústica, agora habita as pranchetas de muitos profissionais qualificados. Herança dos portugueses, adotada em larga escala pela população de baixa renda, já reveste paredes bem mais opulentas.

Trata-se da taipa de mão, também conhecida como pau-a-pique, barro armado, taipa de sopapo ou taipa de sebe. A técnica consiste em construir uma trama de madeira (usa-se muito o bambu), e o barro é lançado e batido com as mãos. Nessa técnica, a terra tem função de preencher os vazios deixados pelo entrelaçamento de madeiras, ou seja, seu papel é quase de coadjuvante O pau-a-pique serve como elemento de vedação, geralmente usado como paredes internas das edificações, mas também pode ser parede externa.

E por que a pobre taipa foi convidada para o baile da engenharia e arquitetura? Por obra dos novos tempos.

A construção em terra, pedra e madeira permite cumprir um dos principais papéis que se impõem às construções atuais: a sustentabilidade dos materiais utilizados. Qualquer um destes materiais é reutilizável, não constituindo qualquer perigo, nem sobrecarga ambiental, mesmo após a sua vida útil. Além disso, apresenta baixo custo de montagem e manutenção.

As principais vantagens das construções com terra
 são:

1 – Construções extremamente saudáveis, seguras, duráveis;

2 – Confortos acústicos e térmicos de até 30% em relação às coberturas convencionais;

3 – A terra crua permite uma permeabilidade seletiva, otimizando as trocas gasosas e a dispersão da umidade. As paredes “respiram”;

4 – Diminuição da variação de temperatura no interior das edificações ou baixa amplitude térmica;

5 – Não derrubam árvores para queima e não lançam CO2 na atmosfera, minimizando o efeito estufa;

6 – Tem acabamento natural de alto padrão estético e de grande durabilidade;

7 – A terra é um material econômico e pode ser obtida no local da obra, não sendo necessário transporte;

8 – A maioria das técnicas é de fácil trato, não sendo preciso grande conhecimento para executá-las;

Apesar de todos os pontos fortes, existem também pontos fracos, que são os seguintes:

1 – o material sofre desgaste quando em contato com água. No entanto, pode-se eliminar esse problema usando beirais que façam com que a água passe o mais distante possível das paredes e fundações com pedras ou baldrames, evitando que a água suba por capilaridade e atinja as paredes;

2 – O processo de cura é bastante lento, para evitar fissuras e rachaduras, e, se não bem feito, deixa a edificação vulnerável às intempéries, roedores e insetos (o mais conhecido é o Triatoma infestans, vulgarmente conhecido como barbeiro, mosquito transmissor da doença de Chagas.);

3 – Não é recomendável para edificações com mais de um pavimento.

Enfim, tire da sua mente aquela imagem da casa de taipa como uma casa frágil e cheia de insetos, pois as construções com terra crua vêm como uma ótima alternativa para quebrar preconceitos e se firmar no mercado da construção civil, prezando a sustentabilidade, pois é viável economicamente, não gera resíduo e preserva os recursos naturais.

(Fonte: CONSTRUÇÕES COM TERRA: ALTERNATIVA VOLTADA À SUSTENTABILIDADE: Luiara Vidal dos Santos Borges e Liliana Regina Colombo).

 

Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.

Ivana Jatobá escreve às quintas aqui no Universo Jatobá.

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