Château Rougerie

Era uma vez… – A alma do vinho

por Ricardo Ganc

Há algumas semanas tive a oportunidade de ir à Bordeaux e ficar na casa de dois  “vignerons”. Charles Valette e seu cunhado Vianney Jacqmin tomam conta de uma propriedade (Château Rougerie- um Bordeaux superior já encontrado no Brasil).

A família de Charles  foi proprietária de um dos mais famosos châteaux de Bordeaux, o Château Pavie, cuja garrafa pode custar até 2000 reais. Antes de chegar, imaginei toda a pompa e circunstância de ficar na casa de uma verdadeira celebridade do vinho. Seu pai, agora vivendo no Chile,  é o enólogo de um novo projeto, que se chama VIK (por sinal, um vinho maravilhoso).

Ao chegar à nova propriedade da família, me deparei com um pequeno Château de 1700, simples, porém muito charmoso. Nada  a ver com aquelas imensas propriedades, gigantescas e luxuosas, que se vê habitualmente.

Porém, o que mais me surpreendeu foi a simplicidade e a amabilidade dos anfitriões.  Durante minha estada, ficávamos conversando até altas horas, bebendo garrafas míticas de vinho, mas com a simplicidade elegantíssima, que nos remetia à essência do vinho, que é o de fazer e manter amizades; aonde o vinho nada mais é do que a cereja do bolo.

Durante as nossas conversas,  o tema mundo do vinho veio à tona. Quando questionado, Charles Valette comentou: – Ricardo, nós somos simples agricultores e o vinho é o nosso ganha pão. Trabalhamos na terra dia e noite sozinhos e só temos ajuda na colheita. Fazemos o melhor, mas dependemos das condições climáticas para a  nossa sobrevivência.  Não é muito diferente de qualquer agricultor do mundo. Aqueles Châteaux gigantes e luxuosos, podem até ser o mundo atual do vinho, mas nós somos a alma e no dia que nós desaparecermos, o mundo do vinho será uma coisa vazia, sem graça, essência e sem alma.

Saúde,

Charles e Vianney, na cozinha do Rougerie, cozinhando um contra-filet na lareira e segurando uma garrafa de Grand-Echezeaux da Romanee Conti.

 

Château Rougerie

A ideia dessa coluna semanal é discutir, mesmo que rapidamente, aspectos práticos e interessantes sobre o infinito tema do vinho, de uma maneira descontraída e relaxada. Afinal de contas, vinho é sinônimo de prazer, amizade e descontração.Além disso,  por ser um tema tão vasto, sugestões e dúvidas são muito bem vindas e servirão para nos guiar sobre o que o leitor quer discutir.

 

Ricardo Leite Ganc é médico formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Membro Titular das Sociedades Brasileira e Americana de Endoscopia Digestiva. Membro da Associação Brasileira de Sommeliers – São Paulo. Enófilo apaixonado há 15 anos. 

Ricardo Ganc escreve às sextas-feiras aqui no Universo Jatobá.

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