A Casa Cor e eu
O ano aí na foto é 2002; minha primeira participação na Mostra Casa Cor, frio na barriga, calouro total. Cheio de figurão do Décor Paulistano participando. Eu, “orelha” que dava dó, resolvi acreditar no Briefing dos organizadores:
– Olhem só, senhores Arquitetos e Decoradores, a construção, a qual estamos utilizando como base para a mostra este ano é “quatrocentona”. Vamos projetar algo que remeta à época, sem estrelismos e Hy Technology desnecessárias, ok?
Qual foi o único que acreditou? Eu, claro…
Tentei fazer algo Burlesco, parodiando e homenageando um pouco a Belle Époque. Me dei bem mal…todo mundo partiu para o estiloso contemporâneo clássico, matador, sem erro…sucesso total para todos! Eu deveria ter feito o mesmo…
Enfim, sobrou um momento, a ribalta para mim. Um colega se aproximou e falou: – Cara você desenhou o piso mais bonito da Casa Cor!
Parei, olhei para ele, olhei para o piso, ele já estava de costas indo embora, eu mandei um: – Legal, valeu!
Eu nem tinha dado bola para o meu piso, havia desenhado rapidinho, inspirado em Bizâncio, e passado a toque de caixa à minha artesã, que iria confeccioná-lo em pastilha de vidro.
E aqui, um recortaço na coluna para o que realmente vale a pena. Bobagem o estrelismo da mostra, um querendo aparecer mais que o outro, coisa mais cafona isso. A única coisa que levei desta participação – depois ainda fiz mais uma ou duas, sei lá. O cliente adorava saber que eu estava participando – foi a maestria, a humildade e a coragem, que a artesã veio até mim, pegou as pecinhas de vidro e:
– Olha só, Dennis, vou levar para o atelier, monto o desenho em cima de uma prancha, e trago meio pronto. Saiu…algumas pecinhas ainda caíram das sacolas, ela nem viu, estavam pesadas, tinha que correr, e, voltou…
Mais da metade de nós profissionais da área não sabe a diferença entre argamassa e rejunte. Bora lá retomar a essência da profissão!
Dennis Salim é arquiteto e urbanista, atua na área de arquitetura de interiores. Ministrou cursos de cenografia e atuou como cenógrafo e diretor de teatro.
Dennis Salim escreve às terças-feiras aqui no Universo Jatobá.
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