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Concussão: Um inimigo oculto

por Universo Jatoba

Desde o inicio de nossas vidas nos caminhos da neurociência, um como Neurocirurgião e o outro como Neurologista, aprendemos com livros textos da época, que raramente dedicavam mais de duas linhas para a sua definição, que a concussão era uma alteração funcional do cérebro em que o paciente rapidamente se recuperava plenamente.

Em resumo, quando comparada a outras lesões cerebrais, era uma “simples batida na cabeça“.

Naquele início a Tomografia Computadorizada, recém introduzida no Brasil, apesar de representar um enorme progresso em mostrar pela primeira vez imagens do cérebro em pessoas vivas, não mostrava nenhuma alteração ou imagem anormal nas concussões.

 

O desenvolvimento tecnológico na medicina continuou vigoroso e acelerado permitindo que nos dias de hoje, a obtenção de imagens que são visualizadas praticamente como cortes anatômicos do cérebro.

Tomógrafos Computadorizados de última geração utilizados na avaliação emergencial, ou até mesmo a Ressonância Magnética de rotina, usadas para controle evolutivo, continuaram incapazes de detectar eventuais alterações.

Com esses dados a definição simplista sobre a Concussão, que seria apenas um trauma sem maior significado, para muitos,  persiste até hoje, o que faz de uma “simples batida na cabeça“ um verdadeiro inimigo oculto.

Isto porque apesar de não requererem, baseados nos exames de imagem, nenhum tratamento emergencial, sua evolução é normalmente negligenciada, e por este fato, uma série de alterações cognitivas, comportamentais, do sono e até mesmo físicas podem ocorrer em alguns casos, comprometendo o rendimento, seja no esporte, no trabalho, na escola e até nas relações do cotidiano sem que haja a percepção de sua relação com um trauma considerado inocente e sem importância.

Além disso existe a chamada síndrome do segundo impacto, que se constitui na ocorrência de um novo trauma antes da recuperação total do cérebro, situação que pode se tornar extremamente grave.

Esse inimigo oculto permanece, pois, os métodos auxiliares, não são utilizados rotineiramente, ou por se tratarem de exames de alto custo e pouca disponibilidade, como a Ressonância Magnética Funcional o PET Scan ou a Tractografia ou até avaliações mais simples, porém efetivas, ou como os testes computadorizados. Estes últimos, apesar da efetividade através da mensuração de várias funções cognitivas, que podem não só diagnosticar mas acompanhar a evolução da concussão, são pouco conhecidos não só pela população, mas também por grande parte dos médicos não especializados no assunto.

Quantas vezes vocês já tiveram a oportunidade de ver um familiar, criança ou adulto, após uma “ pequena batida na cabeça “, como a concussão ainda e considerada pela maioria, queixar-se de dores de cabeça, de fraqueza, de alterações de sono, da falta de vontade de realizar atividades, além de alterações de humor e de baixo rendimento no trabalho. Isso sem contar com os problemas futuros que possam advir de uma concussão mal orientada, ou concussões múltiplas.

Inúmeras doenças cerebrais, rotuladas como degenerativas, algumas até clinicamente parecidas com a doença de Alzheimer, podem ser consequências de concussões múltiplas.

 

Nos Estados Unidos, traumatismos cranianos ocorrem em cerca de 1.700.000 habitantes e no Brasil, estima-se que este número esteja por volta de 1.100.000, por ano, sendo que a grande maioria são concussões.

Como cerca de 75% das concussões não apresentam perda de consciência, muitas vezes são consideradas como ocorrência de pouca importância, até por muitos profissionais de saúde.

Este desconhecimento pode acarretar em consideráveis prejuízos para o paciente.

Seu estudo nos traumatismos do esporte, onde se consegue ver, na maioria das vezes o mecanismo do trauma, tem sido um grande colaborador para entendermos melhor a concussão cerebral.

Em muitos estados americanos, várias leis têm sido aprovadas no intuito de prevenir e tratar convenientemente esse tipo de lesão.

Por esse motivo, reunimos os especialistas brasileiros, que vem trabalhando há cerca de uma década com concussão cerebral, para esclarecer as dúvidas sobre esse tipo de traumatismo que representam uma grande porcentagem dentre todos os traumatismos cranianos.

Este livro não tem a pretensão de ser um compêndio médico, com profundidade técnica e sim a oportunidade de levar ao público não especializado na área, conhecimentos que possam aumentar o seu universo de informações sobre o assunto, o que certamente terá impacto no dia a dia de muitos leitores.   Sua linguagem, apesar de coloquial, não abandona em nenhum momento o rigor do conhecimento acadêmico, além de contar com a experiência e expertise dos autores baseando-se no que há de mais moderno para diagnóstico, avaliação e seguimento da concussão cerebral, com metodologias cientificamente validadas.

Os autores procuraram explorar o tema de forma abrangente, sem certamente conseguir esgotá-lo, mas permitindo que as informações sejam facilmente entendidas pelo leitor em geral além dos educadores, profissionais ligados a atividades físicas e esporte, sem deixar de ser também uma contribuição para profissionais da saúde que não estejam muito familiarizados com o assunto.

Uma serie de casos reais adaptados para essa publicação, são relatados para melhor ilustrar o que pode ocorrer no dia a dia das pessoas apôs sofrerem uma concussão cerebral.

Temos a certeza que esse livro contribuíra sobremaneira para que muitas “simples batidas na cabeça“ possam na realidade ser simples quando bem conduzidas por todos.

 

Dr. Jorge Roberto Pagura

Neurocirurgião. Foi médico assistente da clínica neurocirúrgica “Medizinische Hochschule Hannover”, Alemanha e Presidente da Sociedade Brasileira de Estereotaxia e Neurocirurgia Funcional. Atualmente é Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina do ABC e Presidente da Comissão Nacional de Médicos do Futebol – CNMF-CBF.

 

Dr. Renato Anghinah

Neurologista e neurofisiologista clínico. Certificado de especialista em trauma cranioencefálico pela North American Brain Injury Society – NABIS, EUA. Professor livre-docente pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP. Chefe do Serviço de Reabilitação Cognitiva Pós-TCE do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Coordenador do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano de São Paulo.

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