Mama África
Nesta semana fui visitar o escritório dos meus filhos. Logo na entrada, uma composição de fotos tiradas por eles em uma expedição que fizeram à África há 15 anos. Eram mais jovens, mas já eram corajosos, desbravadores e decidiram conhecer a África em uma excursão por trilhas entre as montanhas.
Lembro de ter ficado com o coração apertado, pois naquela época não havia antena de celular na África e muito menos internet e eles iam literalmente para o meio do nada. Mas sabe como é o poder de persuasão dos jovens. A vontade deles era mais forte que meus medos. Acabei cedendo.
Lá foram eles com suas mochilas e seus tênis confortáveis, caminhando de vila em vila, dormindo em tendas armadas por eles mesmos ou sob as estrelas e preparando a própria comida. O guia os havia prevenido para que viessem munidos de balas para distribuir entre as crianças dos povoados. E assim fizeram.
A cada vila que chegavam as crianças os rodeavam à espera dos petiscos. Olhavam para esses jovens altos, brancos, usando umas roupas esquisitas com umas caixas pretas penduradas no pescoço, com alegria e saudavam os visitantes com seus lindos sorrisos.
E meus filhos distribuíam as preciosas balas. Depois, tiravam fotos daquelas crianças sorridentes com suas câmeras digitais (já tinha), e se sentavam no chão sempre com as crianças em volta deles e lhes mostravam as fotos dentro das caixas pretas.
As crianças não deviam entender muito bem como é que foram parar dentro daquelas caixas, mas sorriam sem parar. Desta viagem me contaram dois episódios comoventes. O primeiro foi mais ou menos assim:
Quando chegaram a este povoado, imediatamente foram cercados pelas crianças. Meu filho, só por diversão, propôs uma brincadeira:
Olhem aquela árvore ali.
E apontou para uma árvore que estava a cem ou duzentos metros.
Eu vou contar UM, DOIS, TRÊS e vocês vão começar a correr. Quem chegar primeiro ganha este saco de balas cheinho. Compreenderam?
Sim, todos compreenderam. Meu filho, então, contou bem alto UMMM, DOOOIS E…..TRÊS!
Imediatamente todos os meninos do povoado se deram as mãos e correram juntos!
O segundo episódio foi mais comovente ainda.
Haviam chegado e, como sempre, foram cercados pelas crianças pedindo petiscos. Ao abrirem as mochilas se deram conta que havia mais crianças que balas. Não sabendo como proceder, jogaram as balas no chão na expectativa de que a sorte decidisse por eles.
Imediatamente os mais rápidos saltaram, pegaram as balas, tiraram os papéis que as embrulhavam e começaram a chupá-las. As outras crianças continuaram ali em volta sorridentes.
Meus filhos, acostumados à nossa “cultura”, não entenderam nada pois imaginaram que haveria uma disputa pelas balas. Alguns minutos se passaram e as crianças que estavam chupando as balas, as tiraram da boca e deram para as outras que tinham ficado esperando.
Tudo na maior naturalidade. Queriam dividir o prêmio. Sua felicidade era a felicidade de todos. Está tudo lá, nos retratos da parede e no coração dos meus filhos. Como diz a canção “ é impossível ser feliz sozinho.”
Obrigada, África, por esta lição de humanidade!
Debora Ganc é Terapeuta Sistêmica, Constelações Familiares, Constelações Empresariais. Gestalt e Programação Neurolinguística.
Debora Ganc escreve às quartas-feiras aqui no Universo Jatobá.
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